Capítulo 17

...

Quando o sino tocou, anunciando o início do intervalo, os alunos pareceram voltar à vida e saíram em disparada da sala de aula. Muito poucos ficaram para almoçar lá.

Matt, como o resto, estava com fome e se preparou para ir à cafeteria. No entanto, no meio do caminho, ele percebeu que dois colegas o seguiam, um garoto e uma garota.

Ele os reconheceu, eram Aldo e Fania, ambos ômega.

Ele era alto, de pele morena e um pouco gordinho, com cabelo num corte militar ultrapassado. À primeira vista, ele era um garoto imponente e que pouco combinava com a imagem esperada de seu gênero secundário. Mas, de acordo com suas lembranças, Aldo era bastante tímido e raramente se misturava com alguém além de Fania, tanto dentro como fora da sala de aula.

E ela, por sua vez, era pequena e magra, de pele morena clara. Seu cabelo loiro era muito comprido, chegava à altura da cintura. E seus olhos castanhos, embora tivessem uma cor bonita, estavam por trás de um par de óculos antiquados de lentes grossas, que ocultavam os detalhes de seu rosto, concedendo-lhe uma aparência bastante cômica.

Eles sempre andavam juntos, e havia piadas sobre eles no grupo de chat - já que eles não tinham celular, e, portanto, também não tinham acesso a essa informação -, fazendo referência ao fato de eles estarem presos no século passado. E principalmente, a maioria dos garotos zombava e supunha sobre seu parentesco, já que tinham o mesmo sobrenome... mas seus traços não poderiam ser mais diferentes. Eles mal poderiam ser considerados irmãos, e ninguém pensava que eram gêmeos ou trigêmeos.

As teorias eram bastante variadas.

A Matt surpreendeu que fossem justamente eles que tomassem a iniciativa de segui-lo. Ele até se perguntou se estava sendo paranoico, já que raramente se envolviam em problemas. Mas, quando virou pela terceira vez numa interseção completamente desnecessária - e aquele par continuava atrás dele -, ele entendeu que não estava enganado.

Aldo e Fania realmente estavam o seguindo. Pareciam não ter intenções maliciosas, mas ainda assim era estranho.

Sem pensar em confrontá-los e ver até onde eles iriam, ele comprou o almoço como se não tivesse percebido a presença deles. E os garotos, alheios a terem sido descobertos, seguiram atrás dele em toda a cafeteria.

Dessa maneira peculiar, o dia passou... e então, no dia seguinte, uma cena similar aconteceu.

No entanto, desta vez, Matt não deixou passar e os encurralou num canto.

- O que está acontecendo? Por que vocês estão me seguindo desde ontem? - perguntou diretamente.

Aldo, mesmo sendo o mais alto dos três, era o que mais tremia; seus dentes batiam de medo. Fania o olhou com um certo ressentimento por ser tão covarde.

- E então? - perguntou novamente\, cruzando os braços.

- Nós não estávamos... - o garoto sussurrou. Fania viu que o pobre Aldo estava prestes a fazer xixi nas calças\, então deu um passo à frente.

- A verdade é que estávamos te seguindo\, mas não temos más intenções - ela declarou. E Matt agradeceu pelo menos ela ser sincera.

- O que vocês querem?

- Sabemos que não somos próximos\, então perguntar isso do nada... poderia ser estranho... - ela divagou.

- Lamentamos muito! - gritou Aldo\, interrompendo-a.

- Hein? Me deixe falar - repreendeu Fania. No entanto\, o garoto apenas segurou sua mão e fugiu naquele instante.

Matt se viu surpreso quando viu que, apesar de seu tamanho grande, Aldo era bem rápido. Se continuasse a segui-lo, não tinha certeza se conseguiria alcançá-lo.

A minúscula Fania ao seu lado, teve uma semelhança curiosa com uma folha arrastada pelo vento feroz. A cena poderia ser considerada engraçada e, ele, embora um pouco contrariado, não resistiu a sorrir.

- Eles estão loucos\, é? - zombou. - Para que se aproximar se fossem fugir desse jeito? Se um terceiro tivesse visto\, pensaria que eu sou o vilão.

*"Vamos... eu não sou tão assustador. Só cruzei os braços."*

Não lhe restou outra opção a não ser suspirar e deixar isso passar novamente. Se chegassem perto dele de novo, bastaria encurralá-los mais uma vez.

Dio uma volta completa e retomou seu caminho, e ficou estupefato ali mesmo, ao perceber por que Aldo, na verdade, havia fugido levando Fania consigo.

- Desde quando...? - perguntou\, hesitante. Sentiu-se um pouco nervoso ao encontrar o protagonista tão repentinamente.

Ele o tinha visto pela última vez na noite de sábado, e a situação tinha sido mais desconfortável do que o esperado. Emoções estranhas foram despertadas dentro dele, e não tinha certeza se aquilo era bom ou ruim; ou se queria descobrir isso em primeiro lugar.

- Eu sempre estive aqui. Foi você quem não me viu - respondeu Kaleb\, com tom tranquilo.

- É isso. Bem\, eu deveria ir agora.

Sem dizer mais nada, ele passou direto pelo alfa. Mas este alcançou sua mão quando ele estava prestes a deixá-lo para trás. O toque daqueles dedos, que agora percebeu, eram mais longos do que imaginava, o pegou desprevenido, deixando-o quase como um pequeno esquilo assustado.

- Ei? O que aconteceu? - disse com uma voz mais aguda do que o esperado.

- Você... - vacilou o albino\, e teve que ajustar os óculos uma vez antes de falar. - Você está bem? Ouvi dizer que aquela noite... o cio...

- Estou bem - respondeu Matt\, puxando sua mão. O aproximação de Kaleb o surpreendera\, e seu pulso queimava. Além disso\, ele estava preocupado que o cheiro de sândalo lhe causasse problemas agora que ele podia ser mais influenciado pelas feromônios do alfa\, então contou a respiração o máximo que seus pulmões permitiram\, e se afastou.

Com seu coração batendo a mil por hora, ele não se atreveu a olhar para trás. Somente parou quando chegou à cafeteria.

Seria mentira dizer que ele não queria ficar - detalhe que o pegou desprevenido e o assustou -, mas ele também não tinha motivo para continuar frequentando o protagonista.

As dúvidas sobre uma possível aproximação com Oriel o preocupavam, e mesmo assim ele não queria respostas. A melhor coisa que ele pode pensar foi fugir.

*Por que eu o evito? Não tenho nada a esconder!*\, disse para si mesmo com uma pitada de frustração. Eu... Será que...?

Matt não era bobo. Suspeitava da razão de seu nervosismo e da sua falta de jeito em agir. Algo que o preocupava por ser apenas um pequeno figurante.

Mas diante de seu coração acelerado, suas bochechas coradas e sua hesitação... não havia mentira que valesse.

- Eu... fui conquistado por um rosto bonito? - perguntou\, perplexo\, antes de morder com fúria o hambúrguer com queijo extra que tinha pedido.

Ele sabia que era fraco diante da beleza... então não era absurdo que ele sentisse um gosto superficial pelo protagonista. Na verdade, seria bastante normal se isso acontecesse... já que não havia pessoa mais atraente ao seu redor do que Kaleb.

E essa razão era suficiente para explicar o desconforto em seu peito.

- É apenas um gosto superficial - repetiu para si mesmo. - Superficial.

Deu mais duas mordidas, e o queijo derreteu em sua boca. Em seguida, olhou ao redor e percebeu que os outros alunos estavam concentrados em suas próprias conversas e almoços. Tudo parecia efêmero, mas para Matt o mundo se reduziu a aquele momento, devido à revelação de algo que flutuava até a superfície de sua mente.

- Por quê? - foi forçado a se questionar. - Desde quando?

Sem poder negar essa pequena verdade, Matt rememorou suas interações com o albino em busca de respostas. E só pôde chegar a uma conclusão.

Pode-se dizer que na primeira vez em que lidou com Kaleb houve altos e baixos, embora tenham terminado em bons termos após um pedido de desculpas.

Na segunda vez, salvou o protagonista de ser esfaqueado, o que fez com que houvesse uma pequena aproximação entre os dois.

Nos outros dias daquela semana, ele foi escoltado pelo garoto, então é claro que começaram a se tratar mais. As barreiras iniciais foram desbotando um pouco, embora nada tão transcendental.

E talvez tenha sido enquanto era escoltado que ele começou a se interessar pelo alfa. Talvez tenha sido pelas efêmeras sorrisos que lhe tiravam o fôlego, ou por aqueles olhos azuis que pareciam esconder mil segredos.

Não se sabe ao certo quando começou esse gosto, nem por quê; mas de qualquer forma, Matt sentiu a necessidade de bater na testa. Claro que no final, tudo o que ele fez foi apoiar a testa na dura mesa.

"O que me faltava. Um pequeno interesse extra pelo protagonista... bem\, eu deveria agradecer que não é um amor profundo"\, refletiu. "O prudente agora é manter distância\, até que *isso* passe...

E antes de poder lamentar ainda mais, uma bandeja foi colocada na sua frente.

Matt levantou o olhar e encontrou dois rostos com os quais ele não queria lidar no momento. Eram Fania e Aldo novamente.

"Não tinham fugido?" resmungou com mau humor.

"O que você está dizendo!" zombou Fania, com o sorriso mais falso que ele já havia ouvido na sua vida. "Foi uma retirada tática! Tática!"

"Como assim?"

"Bem, você sabe. Atrás de você estava o alfa mais bonito e rebelde da escola. Aldo ficou com medo e saiu correndo. Mas esqueça isso! Vamos falar sobre nós."

"Nós?"

"Agora você está falando em monossílabos?"

"Talvez..."

"De qualquer forma. Sobre nós. Aldo e eu sabemos que seguir você foi um pouco estranho. Em nossa defesa, não sabíamos como nos aproximar sem deixar a situação desconfortável. Vamos esquecer o passado. Só queremos te fazer uma pergunta."

"Fale."

"Na verdade, são duas coisas."

"Fale..." repetiu Matt.

"Primeiro, podemos ser amigos?"

"Hein?" O moreno não esperava essa pergunta. Olhou para ambos. Aldo estava visivelmente corado, e Fania o encarava com um sorriso radiante. "Por que?"

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