Capítulo 15

...

Cada músculo, osso... e até mesmo cada mínima célula do seu corpo doía. O ômega se contorcia na cama, mas com o movimento seu corpo ardia mais e mais, como se estivesse em chamas vivas.

Num dado momento, jogou para longe os lençóis, cujo único propósito era aumentar sua temperatura. Em seguida, desfez-se das roupas em seu corpo, peça por peça. Infelizmente, descobriu tarde que, nem mesmo assim, conseguia reduzir o calor que o consumia por dentro.

Chorava, e suas lágrimas queimavam sua pele. Virava-se, e o desejo aumentava.

O desespero era avassalador. A solidão consumia-o. E esse era um ciclo do qual não tinha escapatória nem refúgio.

Assim, Matt passou nas seguintes vinte e quatro horas, trancado em um quarto de hospital. O pobre sequer teve cabeça para comer algo, ou beber água.

Apenas podia suportar o tormento ancorado à maca, até que o tempo assim decidisse.

E quando tudo terminou, ele abriu os olhos.

A sala estava escura, dando-lhe a sensação de que o tempo não havia passado de verdade, mas depois de ver a tela do celular, soube que já era de madrugada de segunda-feira.

Sem aviso prévio, deixou escapar um longo suspiro.

Seu corpo estava exausto, mas seu coração estava em paz. De alguma maneira, havia sobrevivido ao seu primeiro cio sem ter que ser mordido por alguém.

O rapaz olhou para o teto, com a mente entorpecida. E após vários minutos, deu-se conta de algo... agora que estava lúcido, sentia-se desconfortável em estar sozinho naquela sala.

Estar no hospital causava-lhe uma sensação desagradável, mas não sabia dizer por quê. Supôs que o motivo fosse que ninguém costuma gostar de hospitais. Talvez pela aura fria. Talvez pelo ambiente desolador.

De qualquer forma, levantou-se da maca depois de um tempo e foi direto beber três copos cheios de água. Até então, a sede que o atormentara por quase um dia inteiro desapareceu.

O que fez em seguida foi tomar um banho, pois durante as horas passadas havia suado em excesso. E foi só após sentir a água correr por cada parte de seu corpo, que se permitiu lembrar da noite anterior.

*

Depois de se afastar de Kaleb, não demorou muito para Max chegar ao carro, junto a Henry... e Daryl.

Seu amigo parecia um tanto abatido, embora por sorte já pudesse caminhar por si mesmo e falar com coerência. A mordida superficial havia funcionado e lhes deu algumas horas para levá-lo ao hospital; afinal, os Indutores não eram brincadeira e ainda eram ilegais, portanto ele precisava ser examinado.

O rapaz, apesar do coração partido e da enorme desilusão, tomou a decisão de denunciar o culpado, então havia muitas coisas a fazer ainda.

Já no Beetle, Matt percebeu que o cheiro que envolvia Henry era muito intenso e até o repelia. Isso porque se tratava das feromonas do seu irmão. No entanto, embora seu nariz se sentisse desconfortável, sua mente tornou-se um pouco mais lúcida por causa disso.

E em vinte minutos, chegaram ao hospital. E como Daryl estava com eles, também não demoraram a ser atendidos. Era a vantagem de ir com o único filho da principal família acionista, além do herdeiro da Farmacêutica Belmont.

A equipe médica foi incrivelmente eficiente, e Henry foi atendido quase que imediatamente. Foram feitas análises de sangue e feromonas.

Seus níveis eram um pouco alarmantes, mostrando que se tivesse se unido completamente a um alfa, corria o risco de sua glândula desenvolver-se mal, e no pior dos casos, promover alguma deficiência de feromonas.

Isso deixou claro que os planos de Leo eram sinistros, pois a única solução para tal deficiência é estar constantemente exposto às feromonas do outro. Ou, em palavras mais frias e diretas, Henry teria que implorar pelas feromonas de Leo se o pior cenário ocorresse.

Qual a diferença disso para se tornar um brinquedo à mercê do alfa?

Por sorte, nem tudo foram más notícias naquele momento, pois os médicos disseram que a mordida superficial de Max havia parado o efeito do Indutor justo a tempo, além de ter aliviado os sintomas do cio precoce; então quando voltasse, não seria tão intenso e não arruinaria sua glândula. Claro que ainda assim poderia ser mais difícil do que o cio médio. Mas isso já era visto como um bom panorama geral.

E como o moreno era menor de idade, seus pais tiveram que ser notificados, pois a situação era mais séria do que se pensava inicialmente. E eles, claro, não demoraram a chegar.

A cena foi caótica por alguns minutos, e Henry sofreu uma forte repreensão da parte de sua mãe alfa. Por sorte, as coisas pararam por aí.

E assim, em plena madrugada de domingo, a denúncia foi levantada. Sem dúvida, de manhã Leo e seus amigos passariam por maus bocados, pois qualquer ato contra um ômega era duramente punido. Nem se fala de um ômega menor de idade como era Henry.

Mas antes disso, o moreno teve que ser hospitalizado devido ao consumo do Indutor. E mesmo ele, já que estava mostrando sinais de um cio precoce.

De repente, Matt se viu trancado numa sala, além de ser injetado no braço e na glândula.

Pelo que podia recordar, os resultados de suas análises não haviam sido nada ruins. O único problema havia sido sua pouca idade, pois sua glândula ainda era instável para aguentar o cio.

O médico disse que uma injeção de inibidores não era recomendável no seu caso por duas razões: uma, o primeiro cio de qualquer ômega deveria ocorrer da forma mais natural possível; e segundo, porque sua glândula ainda não estava completamente desenvolvida, poderia afetar seu funcionamento futuro com a intervenção da injeção.

Em vez disso, sugeriu uma mordida superficial como a de Henry e Max, pois pelo menos essa era uma opção natural e não sintética como o inibidor. Mas como o único alfa disponível e disposto era Daryl, Matt recusou-se até o final.

Mesmo sabendo que era a melhor opção para ele, preferia sofrer o tormento do cio com seu corpo imaturo a receber ajuda do vilão que assassinara o original.

Havia algo no seu espírito que detestava a ideia de ficar em dívida com Daryl.

E assim foi como aconteceu. Esse cio precoce durou vinte e quatro horas, e foi devastador para sua jovem glândula. Mas nenhum par de presas malévolas tocou seu pescoço.

*

— Há algo que devemos considerar? — perguntou Miriam com um olhar ansioso. — Alguma espécie de restrição ou algo parecido?

— Não há nada com o que se preocupar, senhora. — A doutora sorriu gentilmente e negou com a cabeça. — Casos como o de Matt são raros, mas não inexistentes. Enquanto se administrar o inibidor no tempo e forma correta, a vida de seu filho continuará normalmente. Sim, ele deverá ter mais cuidado durante os períodos próximos ao cio, lembrem-se de que ocorrerão todo mês, com duração de um dia ou dois.

— O cio não é a cada três meses?

— É assim quando a glândula já amadureceu, mas o caso de Matt é especial. Visto que é precoce, e sua glândula não suporta o peso excessivo de trabalho, essa “proximidade” no tempo de cio, permitirá ao seu corpo liberar-se da carga extra de feromonas. Não é algo com que se preocupar — reiterou. — Pelo contrário, é o próprio corpo se equilibrando com essa nova mudança.

— Entendo... — assentiu a mulher, ainda preocupada com seu filho. Ao vê-la assim, o ômega sentiu-se culpado, pois não queria causar problemas à sua mãe.

— Até quando isso vai durar? Meu cio se apresentará todo mês a partir de agora? — perguntou o rapaz. — Vai ser sempre assim?

— Não. Essa situação só vai durar até que sua glândula amadureça o suficiente. E provavelmente, isso será quando completar dezoito anos, ou talvez um pouco antes desse tempo.

— Ok... — Ele poderia suportar isso por dois anos.

— A propósito, Matt sei que és jovem, mas devo dar-lhe este aviso. — Disse a doutora, chamando sua atenção. O rapaz virou-se para ela.

— Sim?

— Desculpe minha intromissão, mas você tem parceiro?

— O que? — De todas as perguntas que esperava, certamente essa não era uma. — Eu não tenho parceiro, doutora.

— Não cora. — Ela brincou um pouco. — Pergunto porque sua glândula é imatura, então não recomendo nenhuma mordida permanente ou encontros sexuais que a envolvam. Pelo menos até você atingir a maioridade. Até lá, sua glândula já deverá ser suficientemente madura para suportar essa carga de feromonas alfa. Mas já que você não tem um parceiro agora, podemos deixar de lado esse lembrete.

A explicação médica fez corar as bochechas do moreno, mas ele não disse uma palavra e dedicou-se a olhar suas mãos. — Está bem.

Depois disso, entregaram-lhe uma pequena caixa preta. Pela explicação anterior, sabia que eram os inibidores necessários para meio ano.

— É de fácil aplicação. Você só precisa colocá-lo em alguma parte do seu corpo e pressionar; eu recomendo nas pernas ou braços. Aplicação na glândula pode ser muito invasiva por enquanto, então evite. A injeção será rápida e você quase não sentirá dor. E não esqueça, aplique-a a cada duas semanas. Isso vai diminuir a produção de feromonas e o cio será menos doloroso.

— Assim o farei... — assentiu o ômega educadamente, embora a ideia de receber uma injeção a cada duas semanas não lhe agradasse de todo. Mas sabia que era para o seu próprio bem, se não quisesse sofrer um cio irregular no futuro, ou ter problemas sempre que estivesse próximo de um alfa.

Após isso, não houve mais nada a discutir, então tanto a mãe quanto o filho se levantaram.

— Obrigado, doutora — disse Matt.

— Muito obrigada por esclarecer minhas dúvidas, doutora — agradeceu Miriam também.

Ambos saíram do pequeno escritório, e só então o ômega sentiu que estava de novo em liberdade. Havia dois dias que não saía do hospital e sentia-se desconfortável com a atmosfera pesada. Ansiava pelo ar fresco do exterior.

— Mãe, vamos embora — implorou com um rosto lamentável.

— Tudo bem, tudo bem — sorriu ela.

...

Explicação que ninguém pediu:

1. Sobre *por que Matt foi repelido pelas feromonas de Max* que envolviam Henry:

Biologicamente, um alfa e um ômega irmãos se repelem em qualquer âmbito que vá além do fraternal. É como nos seres humanos normais, rejeitamos/evitamos inconscientemente relações sexuais com parentes de sangue, por conta do nosso DNA e essas coisas. Algo assim dizia na internet. Achei que isso daria lógica a essa parte da história rs

2. *Henry não sofreu* nenhum tipo de abuso, apenas foi drogado sem perceber. Mas achei que era um assunto muito pesado e decidi apenas mencioná-lo de passagem. Não queria me entristecer ou me frustrar mais do que o necessário escrevendo sobre o lagartão do Leo - que nem descrevi, mas que raiva que me deu -.

Bem, é isso :3

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