Capítulo 9

A última aula terminou e o professor recolheu as provas de cada carteira ele mesmo. E foi exatamente quando Matt viu sua prova nas mãos do homem de meia-idade que ele se permitiu soltar um longo suspiro. A tortura finalmente tinha acabado! E o que vinha a seguir era um precioso fim de semana. Haveria algo mais perfeito?

- Como foi para você? - perguntou Henry ao seu lado. Eles acabaram de sair da última prova e seus espíritos estavam esgotados\, mas finalmente livres.

- Acho que vou sobreviver. - Foi a sentença dele.

- Eu vou reprovar - sussurrou. - Vou reprovar\, e minha mãe não vai deixar meu pai me levar para o acampamento de verão.

- Não falta mais da metade do semestre para isso? Você pode se recuperar durante a próxima prova.

- Você não entende! Minha mãe disse que eu tinha que ter uma nota mínima de nove em todas as matérias para poder ir. Mas essas provas são impossíveis! Como aquela mulher espera que eu consiga?

Enquanto Henry reclamava sobre seu futuro miserável, os dois garotos caminharam em direção à saída do prédio ômega.

- Hoje é sexta-feira\, o que significa que você tem o fim de semana para curar seu coração partido pelas provas. É o que eu estou planejando fazer. Se puder dormir o dia todo\, farei isso.

- Esse conselho não me ajuda muito... eu vou para uma festa amanhã. - Lamentou o castanho. - Meu pai me deu permissão. Mas se minha mãe descobrir que não consegui responder nem metade das perguntas... Sabe o que eu tive que dizer para convencê-lo?

- Festa?

- Sim... - Henry desviou rapidamente o olhar e Matt sentiu que isso não era um bom sinal. Os problemas estavam se aproximando.

- Vai\, admita\, que mentira você contou?

- Eu... só disse que você iria comigo e que voltaríamos cedo. Inclusive\, que se não voltássemos a tempo\, dormiríamos na sua casa.

- Henry...

- Me desculpe! Mas eu realmente quero ir para essa festa. É a primeira vez que Leo me convida. E ele é tão bonito... - implorou o garoto.

- E o que acontece se eu tiver que dormir na sua casa? Até onde eu sei\, você não me convidou para nenhuma festa\, nem me falou sobre dormir em casa. Onde você planejava ficar?

- Na casa do Leo... ele é vizinho de quem vai dar a festa.

Matt olhou para o amigo com surpresa. O garoto era bom e se comportava bem quase o tempo todo, pelo menos até agora... "Por que os adolescentes são assim?", reclamou.

- Por favor\, Matt! Deixe-me manter essa mentira e prometo que na segunda-feira... Não! Durante toda a próxima semana\, vou comprar seu almoço\, fazer sua lição de casa\, serei seu escravo! - implorou novamente.

A súplica e a miséria do castanho eram visíveis a quilômetros de distância, e Matt não pôde negar nem aceitar.

Deu alguns passos, passando por ele, mas depois de três segundos parou e Henry o alcançou.

- Você aceita?

- Não exatamente. Se os seus pais ligarem para a minha casa no meio da noite\, vou contar tudo. Se algo acontecer com você\, eu não quero ser responsável - disse depois de alguns segundos.

- Obrigado\, Mati! - gritou Henry e o abraçou com entusiasmo. - É uma promessa! A menos que eles te liguem\, você não dirá nada. - Seu ânimo anteriormente deprimido pelas provas tinha desaparecido e ele começou a dizer em voz alta suas expectativas sobre a festa e\, melhor ainda\, sobre como ele esperava que as coisas se desenvolvessem com Leo.

E quando saíram do prédio, Henry mudou um pouco de assunto, tagarelando sobre como conheceu seu amor.

Matt fez ouvidos moucos discretamente, pois já tinha ouvido essa história muitas vezes nas últimas duas semanas. No entanto, enquanto o castanho estava dizendo como Leo era o garoto mais perfeito da terra, o moreno esbarrou em alguém.

- Droga! - sussurrou\, cobrindo o nariz. Ao abrir os olhos\, encontrou-se de frente com um par de peitorais\, o que o surpreendeu ainda mais. - Como? Quem?

Levantou um pouco o rosto e se deparou com um belo garoto albino.

- Kaleb...

- Sou eu.

- O que você está fazendo aqui...?

- Vim para te acompanhar\, assim como todos os dias desta semana. Esqueceu? - disse o alfa com um meio sorriso.

- É verdade\, é verdade... - Matt ainda não estava acostumado com o rosto bonito quando sorria. Você pode culpá-lo\, seu crime era ser fraco para carinhas bonitas.

- Bem\, vamos agora?

- Sim\, sim - disse o ômega\, enquanto esfregava a testa por causa do golpe anterior. - Espere\, Henry?

—Esquece de mim, esquece de mim! —exclamou seu amigo, rindo com deboche. Era evidente o que ele pensava. —Vá com ele! O Leo veio por mim. Vou embora! E não esqueça da sua promessa!

Sem dizer mais nada, o castanho desapareceu em menos de dois segundos, e ambos ficaram se encarando.

—Vamos então —disse Matt, reagindo rapidamente. Desde aquele dia em que ajudou o protagonista, ele realmente se tornou sua escolta na saída.

No começo, ele achou que era uma brincadeira, mas quando o viu naquela tarde esperando do lado de fora do prédio omega, percebeu que as palavras do jovem alfa eram sinceras.

Entre olhares curiosos, invejosos e complicados, eles caminharam até o ponto de ônibus, como nos dias anteriores.

—Muito obrigado. —Ele não se esqueceu de dizer.

—Você já me agradeceu muitas vezes. Aliás, eu não acho que haja risco do grupo do Perry te incomodar depois de hoje. Eu os vi ao meio-dia e tivemos uma conversa profunda —informou Kaleb, como se não fosse nada importante.

Mas Matt entendeu o ponto, “o serviço privado de escolta termina hoje”.

Para ser honesto, ser escoltado pelo alfa mais popular da escola não tinha sido tão memorável como se poderia imaginar, e muitas vezes — durante a semana — ele recebeu olhares de desprezo dos outros, especialmente dos omegas de cada ano. Teoricamente, ele deveria ficar feliz porque o tormento estava acabando, mas não pôde evitar se sentir conflitado.

—Tudo bem —assentiu.—Ah? Você foi espancado? —O omega parou e o olhou de cima a baixo sem vergonha. No entanto, ele não viu nenhum machucado extra em seus braços descobertos, nem suas roupas desarrumadas. Havia um leve rubor em suas bochechas, mas nada demais. Talvez pelo sol.

Resumindo, Kaleb parecia tão limpo quanto um adolescente de dezesseis anos poderia parecer.

—Vamos! Tenha um pouco de fé em mim. —Zombou o alfa.

—Não é isso. Mas três contra um não parece um encontro justo.

—Tenho que admitir que eles tentaram protestar. Felizmente, desta vez eu não estava distraído como naquele dia. Foi... uma conversa produtiva.

—E saiu bem?

—Muito bem.

Matt viu o rosto do albino e descobriu que ele parecia não estar mentindo; embora se sentisse um pouco estranho. Era uma espécie de inquietação toda vez que via o rosto levemente corado do alfa. Sendo objetivos, a intensidade não era muita, mas naquela pele branca se destacava bastante.

Eles caminharam um pouco mais e o moreno percebeu que Kaleb arrastava o pé. O movimento não era evidente, então ele não tinha notado antes. No entanto, a evidência estava lá. E além disso, prestando mais atenção, ele viu que os lábios do garoto estavam mais pálidos do que o normal.

—Você está bem?

—Seu transporte chegou!

Suas frases se sobrepondo, e congelaram por alguns segundos. Depois sorriram um pouco desconfortáveis.

—Estou bem —respondeu Kaleb.

—Tem certeza?

—Sim.

—Então eu vou —assentiu Matt.

O omega não estava satisfeito por deixar o assunto assim. No entanto, ele se lembrava o suficiente do livro para saber que, por mais que perguntasse ao alfa se havia algum problema, ele não diria nada. Parecia que a comunicação não era o forte dele; e pelo contrário, ele só se incomodaria com a intromissão. Além disso, ele sentia que ainda não eram próximos o suficiente para perguntar sobre as dificuldades um do outro.

Às vezes, não cutucar as feridas dos outros era uma melhor opção.

Ele deu uma rápida olhada no rosto do albino e assentiu. —Bem, eu tenho que ir.

Com um pouco de desânimo, ele se despediu de Kaleb e entrou no ônibus. O transporte não demorou a partir.

Lá embaixo, Kaleb viu o veículo se afastar e somente quando não viu ninguém por perto, ele permitiu-se cair sem forças no banco.

Sendo sincero, ele realmente havia conversado com o Perry e seu grupo. E no final, pode-se dizer que as coisas acabaram bem para ele, mas no processo... houve um pequeno acidente.

—E tudo isso porque o idiota não sabe lutar com os punhos —maldisse ao sentir uma dor aguda no lado do estômago.

Como eu via as coisas, eu precisava ver um médico imediatamente, pois já tinha usado todas as ataduras que tinha roubado da enfermaria, e esta última também já estava ensopada.

—Ele estava certo, eu deveria ter aprendido a cuidar das minhas feridas antes — sussurrou. — Eu deveria ser grato pela minha força física...

Um minuto depois, o jovem alfa pegou o celular e discou um número. A ligação demorou um pouco para ser conectada.

—Jovem Kaleb, algo está acontecendo? — perguntou um homem mais velho do outro lado da linha.

—Diga ao meu pai que eu não irei para o jantar. Vou dormir na vila.

—Vou informá-lo. Mais alguma ordem?

—Ligue para o Dr. Pablo, peça para ele visitar a vila.

—Você está bem, jovem Kaleb? Devo informar ao líder?

—Estou bem. E já que mencionou, diga a Rodrigo que algo aconteceu. Vou precisar da ajuda dele para resolver três problemas. Vou falar com ele amanhã — disse friamente antes de desligar.

Ele olhou para a tela do celular sem saber o que pensar. Só conseguiu sorrir com um toque de autodesprezo.

Odiava o homem e mesmo assim não conseguia dar um passo sem depender dele. Como ele era patético?

Depois disso, ouviram-se vozes ao longe. Mais alunos estavam se aproximando. Kaleb não queria enfrentar ninguém, então ele se levantou e foi embora.

Aliás, sem Matt por perto para vê-lo, seus passos ficaram mais instáveis do que antes.

...

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