Meu trabalho...

Ela dá um sorriso e vai pro seu posto... aos poucos as enfermeiras do próximo plantão chegam e me cumprimentam com um sorriso. Enquanto espero, vou revisando aqui mesmo alguns prontuários pra adiantar. Um tempo depois, a tal enfermeira diz que Malu está pronta e vou acompanhar ela...

Emanuelly – Bom dia, princesa!

Ela abre um enorme sorri e seus olhos brilham...

Emanuelly – Como está se sentindo hoje?

Malu – Bem!

Emanuelly – Isso é ótimo... fiquei assustada em saber que minha linda paciente estava aqui.

Malu – Papai me touxe.

Emanuelly – Humm..., mas que bom que está melhor agora, né?

Malu – Xim!

Emanuelly – Antes de você ir pra casa, vamos fazer alguns exames para ver se não tem nada de errado e depois a vovó vai te levar, tá?

Ela apenas balança a cabeça e ajudo ela a sentar na cadeira de rodas... depois de todos os exames feitos, dona Glória voltou com ela para o quarto e eu fui fazer a ronda enquanto esperamos o resultado dos exames.

Uma hora e meia depois, volto ao posto das enfermeiras e uma delas me avisa que os exames estão prontos... analiso cada um com muito cuidado e constato que está tudo bem, é mesmo o emocional. Quando ia falar com dona Glória, meu bipe apita e vejo ser uma chamada da emergência... entrego os exames pra enfermeira e digo que já volto. Corro pra emergência e de longe, posso ouvir o som das ambulâncias... Droga!!

Coloco o avental, as luvas e vou pra porta esperar com os outros...

Emanuelly – O que ouve?

Bryan – Um grande incêndio em um prédio residencial no centro... pelo visto, muitas crianças feridas!

Emanuelly – Droga!!

Bryan – Já estava indo pra casa quando me chamaram...

Emanuelly – Então é grave mesmo...

Duas ambulâncias param na entrada e pego a paciente da primeira ambulância... um menino de oito anos que teve queimadura de terceiro gral em quase todo o corpo. Posso conviver com crianças doentes todos os dias, mas nunca vou me acostumar com esse olhar de dor. Meu coração aperta e o peito doe...

Emanuelly – Fica calmo... sou a tia Emanuelly e vou cuidar de você!

Ele mal conseguia falar... seu corpo está entrando em choque por causa da dor e vou ter que agir rápido. Os enfermeiros o colocam em uma maca e começo os procedimentos. Foi difícil, mas conseguimos estabilizar o menino... ele desmaiou de dor, mas conseguimos. Encaminhei ele para a UTI, vamos debridar as lesões lá.

É triste ver uma criança tão nova passar por isso..., mas não tem jeito. Se essas queimaduras infeccionarem, ele pode morrer!

Horas depois, paramos e deixamos pra continuar amanhã, vai ser um longo processo pela frente... Quando sai, os enfermeiros me avisam que os pais do menino estão esperando por notícias na recepção e vou até lá...

Emanuelly – Boa tarde... são os pais do Caíque?

Mulher – Sim... como ele está?

Emanuelly – Sou a dra. Emanuelly, muito prazer! Ele está na UTI agora... ele teve queimaduras de terceiro grau em quase 80% do corpo. Não posso mentir pros senhores, o caso dele é delicado e inspira muito cuidado. Estou confiante, pois vi que ele é um menino forte, mas temos que esperar as próximas horas.

Homem – Me diz que meu filho não vai morrer, doutora!

Olho pra ele e respiro fundo... percebi que eles estavam limpos demais pra terem estado em uma casa em chamas.

Emanuelly – Desculpem perguntar, em que cômodo o Caique estava na hora do incêndio?

Homem – Ele estava brincando no quarto dele!

Mulher – Estava brincando na sala!

Eles falam juntos e ficam sem jeito...

Emanuelly – É crime deixar uma criança de oito anos sozinha, sabiam?

Mulher – Ele não estava sozinho!

Homem – Meu filho é homem e tem que aprender a se virar sozinho!

Respiro fundo pra não explodir com esse idiota e acabar levando um processo nas costas....

Emanuelly – Diga isso pro conselho tutelar!

Homem – Você não pode fazer isso!!

Dou as costas pra ele e sigo pra minha sala... estou exausta e ainda nem parei pra comer. Droga, ainda tenho que liberar a Malu...

Troco a direção e vou pro quarto da Malu... ela estava brincando e sorrindo com a avó, sinto o peito aquecer vendo seu sorriso e respiro aliviada.

Emanuelly – Como é bom ver esse sorriso!

Glória – Pois ela não para de sorrir... depois que o pai dela passou aqui, ela ficou um pouco mais alegre!

Emanuelly – Que bom... vou liberar vocês. Já era pra ter feito isso, mas me chamaram pra uma emergência.

Glória – Tudo bem ... meu filho disse que o incêndio no centro foi feio, ele também teve que voltar pra lá!

Emanuelly – Ele é do pronto socorro?

Glória – Não ... ele é bombeiro!

Emanuelly – Ah sim... então devo ter esbarrado com ele na emergência rs

Glória – Provavelmente.

Emanuelly – É, mas agora vamos mandar essa mocinha pra casa... quero te ver em breve, mas vamos deixar a consulta dela pra daqui a duas semanas, dona Glória... Já vi os exames dela e está tudo em ordem!