Nas horas vagas... Bombeiro!

No mundo somos apenas uma peça que faz a engrenagem funcionar... que faz a roda girar ou algo parecido. Somos taxados pelo que temos ou o que podemos oferecer e não pelo nosso caráter. Isso é triste, as vezes até revoltante..., mas infelizmente é o que temos! Estou criando minha filha para ir na contra mão de tudo isso... não vai ser fácil, eu sei. Porém, quero pensar que ela vai ser diferente!

Me chamo Henry Moretti, tenho 27 anos e sou um pai muito orgulhoso! Minha filha é meu mundo e faço tudo por ela... A história que resultou na Malu, não é muito boa e por isso não gosto de tocar nesse assunto. Tudo que importa, é que ela é uma menina amada e feliz. Costumo dizer que sou pai e nas horas vagas, sou um bombeiro rs. Desde que Malu nasceu, me afastei do quartel para cuidar dela... Meu capitão, se nega a me deixar partir e por isso me deixou no administrativo por enquanto... assim posso trabalhar de casa. Mas confesso que a saudade da ação bate as vezes e eu tenho que me enfiar em algum chamado... os rapazes brincam, não querendo me deixar participar. No quartel, somos uma família... eles cuidaram de mim, durante esses dois anos. Quando pensava que iria surta e perder a cabeça, eles me traziam pra realidade novamente... Não são perfeitos, mas são família!

Queria ter ido hoje com Malu na pediatra... marquei essa consulta há quase um mês, ela foi bem recomendada e dizem que é bem atenciosa com as crianças. Espero que dê certo, o ultimo pediatra vacilou e se ele tivesse tentado alguma coisa com Malu, teria matado o desgraçado... Só de saber, fiquei revoltado!

Henry – Capitão, estou indo!

Capitão – Venha aqui... precisamos conversar!

Entro em sua sala e sento na cadeira de frente a sua mesa...

Capitão – Não vou mais conseguir te manter no cargo administrativo por muito tempo... estou sendo muito pressionado porque você é muito valioso pra ficar atrás de uma mesa.

Henry – Senhor...

Capitão – Já fazem dois anos, Henry... sua filha pode ir pra uma creche!

Henry – Não posso fazer isso! Sim, ela tem dois anos, mas já não tem a mãe... não posso deixá-la sem o pai também.

Capitão – Entendo o que você está sentindo...

Henry – Desculpe capitão, mas não entende não... o senhor sabe o que passei pra ela nascer, o quanto lutei pra que ela tivesse o direito de nascer... desculpe, mas não vou deixar minha filha crescer dentro de uma creche. No momento certo, ela vai pra escola..., mas até lá, não vou deixá-la com estranhos.

Capitão - E sua mãe?

Henry – Ela tem a vida dela, não tenho o direito de fazer isso!

Capitão – Você é o melhor da equipe... o bombeiro mais experiente que tenho... o mais ágil... o mais focado e com mais resultados positivos daqui. Porém se você não voltar integralmente pra equipe, não vou poder fazer mais nada.

Henry – Entendo capitão!

Capitão – Vou te dar um mês pra pensar, dentro desse prazo... se resolver mesmo não voltar pra ativa, vou ter que te exonerar!

Apenas confirmo com a cabeça e ele diz que é tudo... Me levanto e vou trocar de roupa, depois que termino, entro no meu carro e volto pra casa...

Malu – Papai!!!

E é nesse momento em que percebo que tudo valeu a pena... ver esse sorriso e esses lindos olhos vindo de encontro a mim...

Henry – Oi, minha estrelinha! Como foi a consulta, gostou da médica?

Pego ela no colo e acabo de entrar...

Malu – Sim... ela é muito legal!

Glória – Oi, filho!

Henry – Oi, tudo bem por aqui?

Glória – Tudo ótimo, você que não parece bem!

Henry – Tá tudo bem...

Glória – Você esquece que te conheço, né?

Acabo rindo e sento no sofá...

Henry – Vai brincar filha...

Ela sai correndo e pega sua boneca...

Henry - Preciso voltar integralmente pra equipe ou vou ser exonerado!

Glória – Já disse que posso ficar com a Malu!

Henry - Nem começa, mãe... já conversamos sobre isso!

Glória – Ser bombeiro sempre foi sua paixão...

Henry – Eu não posso deixar a Malu sem pai também!

Glória – E não precisa...

Henry – A Malu não foi planejada, foi abandonada pela mãe e tenho medo de que ela tenha algum trauma no futuro... está fora de questão voltar pra equipe!

Glória – Você está precisando esfriar sua cabeça um pouco... por que você não sai e tenta se divertir um pouco? Eu fico com a Malu!

Henry – Mãe... não estou com cabeça pra isso!

Glória – Eu sei, mas tenta!

Henry – E como foi a consulta?

Glória – Gostei da pediatra... foi muito simpática e atenciosa conosco.

Henry – Que bom...

Glória – Passou um hemograma completo pra Malu fazer e temos que voltar lá semana que vem!

Henry – Por que?

Glória – Ela ficou preocupada, porque Malu perdeu peso e era pra ela estar ganhando...

Henry – Quanto peso ela perdeu?

Glória – Um pouco mais de um quilo.

Henry – Pode não ser nada demais!

Glória – Sim, foi o que ela disse..., mas ela quer tirar a dúvida!

Henry – Ótimo, sinal que é uma boa médica... vou levar ela amanhã pra fazer o exame!

Ela balança a cabeça e vai pra cozinha... as palavras do capitão vem nos meus pensamentos e meu peito aperta. Só de pensar em tudo que passei pra conseguir entrar pros bombeiros, conseguir o respeito da equipe e ser referência pra eles... dói na alma!

Depois de pensar um pouco, decidi seguir o conselho da minha mãe pela primeira vez... ela sempre fala pra eu sair e espairecer, mas sempre prefiro ficar com Malu... Porém, hoje não estou uma boa companhia pra ela.

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