O acidente

Hoje pela manhã, o meu pai não pôde levar-me para o consultório. Tenho ido diariamente para fazer alguns atendimentos com pessoas que, infelizmente, não têm condições financeiras de pagar um profissional, mas necessitam de tratamento.

Quando pegar o meu diploma, continuarei a realizar esses atendimentos, nem que seja uma vez por semana. Como contei a vocês, já realizei alguns trabalhos sociais voluntários onde morava e nunca deixei de realizá-los, após chegar aqui.

Acredito muito na força do bem.

Porém, quando estava me aproximando do prédio do consultório, senti que o freio do carro estava a falhar e ao ver alguns carros parados mais a frente, tentei parar, mas sem sucesso. O carro não obedeceu e acabei jogando o mesmo na direção de uma árvore, para não colidir com outro veículo, pois não queria machucar ninguém.

A única coisa que me lembro é de ter batido a cabeça com muita força, no vidro lateral do carro, depois disso apaguei e tudo se tornou um grande borrão.

5 dias depois 🌬️

Acordei assustada e comecei a gritar, acabara de desmaiar após bater a cabeça e precisava pedir socorro.

Pelo menos foi o que eu pensei. Quando dei por mim, Rodrigo levantou-se imediatamente e veio a correr ao meu encontro e tentou acalmar-me de alguma forma, só então, dei-me conta do local onde estava. Ele estava com um semblante tão cansado, parece que ele não dormia há muitos dias. Estava sem entender nada.

Imediatamente, entrou uma equipe no quarto, pediram para que o Rodrigo saísse e mesmo relutante ele foi. Quando levantei o meu olhar, percebi quem estava a realizar os procedimentos. Sim, era o Caio.

Ele viu a confusão no meu rosto, queria entender o que ele estava a fazer ali, vestido de médico e cuidando de mim. Foi aí que ele começou a explicar o que havia acontecido e que faziam 5 dias que eu estava no hospital e não acordava. Ele disse que já havia mandado avisar aos meus pais e solicitado a presença deles.

Ele contou-me também, que não havia acontecido nada tão grave, apenas um inchaço no cérebro e que por esse motivo, fiquei desacordada por tantos dias. Mas que isso já estava sob controle e que, pelo que podia ver, os remédios estavam fazendo efeito conforme o esperado.

Ele tranquilizou-me e disse que agora a recuperação seria mais tranquila e pelo jeito, como não havia perdido a memória e não havia quebrado nenhuma parte do meu corpo, poderia sair em alguns dias e terminar a minha recuperação em casa.

Estava surpresa em vê-lo, mas estava mais surpresa ainda com o seu tom formal. Nem parecia o mesmo Caio de pouco mais de um mês atrás, que tentava conversar comigo a todo custo e parecia arrependido de tudo.

Após terminar o procedimento, ele solicitou a entrada dos meus familiares, explicou tudo a eles e logo saiu do quarto. Nesse momento, o meu coração despedaçou-se mais uma vez.

Rodrigo entrou novamente no quarto e abraçou-me muito forte e confortou-me, dizendo que estava tudo bem. Os meus pais abraçaram-me e alegraram-se por acordar. Precisava saber deles o que havia realmente acontecido. Ainda estava confusa.

Diálogo 💬

Júlio: Meu amor, estou tão feliz que tenha acordado.

Marina: Você deixou-nos preocupados, filha.

Rodrigo: Mesmo tendo ficado tanto tempo dormindo, você roncou, mal consegui dormir nos dias que vim aqui...

Todos rimos.

Juliana: O importante é que agora estou bem. Mas gostaria de saber o que houve. Eu não consegui frear o carro e como não queria machucar ninguém, joguei na calçada e bati numa árvore, mas não me lembro de mais nada.

Júlio: O freio do seu carro estragou. Não sabíamos, pois, como levo e busco sempre você, quase não usa o seu carro.

Juliana: Gente, falem-me eu machuquei alguém? Eu preciso ver a pessoa.

Rodrigo: Não, amor. Você não machucou ninguém, somente a você mesma. Pode ficar tranquila quanto a isso.

Júlio: Mesmo estando machucada, você preocupa-se com outras pessoas. Que filha maravilhosa eu tenho! 🥹

Juliana: Não conseguiria sentir-me bem, sabendo que fiz mal a outra pessoa.

Rodrigo: Você não fez mal a ninguém, fique tranquila.

Marina: Estou tão feliz por ver você de volta, minha filha. — Abraçou-me.

Nesse momento, a porta é aberta e entra um grupo de pessoas e quando vi quem eram as pessoas, abri o maior sorriso que pude. Eram meus amigos.

Todos: A bela adormecida acordou, finalmente.

Eles trouxeram-me flores, balões, chocolates, urso, enfim, entupiram o meu quarto de coisas e vieram correndo atualizar as novidades e fofocas que eu havia perdido. Principalmente as meninas...

Demos muitas risadas juntos e falamos sobre tudo. Os meus pais e o Rodrigo, não saíam de perto de mim, nem por um segundo. Queriam matar a saudade.

Passado um tempo, uma enfermeira pediu para que eles deixassem que eu descansasse e os meus pais saíram para comer e levaram com eles o Rodrigo e os meus amigos. Eles não queriam deixar-me sozinha, mas insisti para irem alimentar-se e eles foram.

Estava quase pegando no sono novamente, quando ouço a porta ser aberta. Caio passou por ela, segurando uma rosa branca. Ele estava também com o semblante cansado e preocupado. Parecia não dormir há muitos dias.

Quando o vi, o meu coração acelerou e percebi que os seus olhos estavam cheios de lágrimas. Ele não disse nada por um tempo, apenas olhou-me com cuidado e carinho.

Passados alguns segundos, ele finalmente perguntou-me:

— Sente-se um pouco melhor?

Eu ainda estava surpresa com a sua presença e apenas acenei com a cabeça que sim.

Mais uma vez ele falou:

— Fiz o meu melhor para cuidar de você. Você ficou entubada por 2 dias, mas depois fomos tentando acordar você e retiramos os tubos. Foi só questão de tempo até você acordar. Como sempre, você foi muito forte.

Juliana: Obrigada por cuidar de mim. Sei que só fez o seu trabalho, mas estou muito grata.

Caio: Fiz de coração, não apenas por ser o meu trabalho. Quis cuidar de você de perto, ver cada evolução sua. Mesmo que tenham sido apenas 5 dias, senti muito medo e parecia ser uma eternidade cada dia em que você não acordava. Pensei que perderia a oportunidade de ver-te bem novamente.

Juliana: O importante é que agora está tudo bem e gostaria de, mesmo assim, agradecer por seu esforço.

Caio coloca a sua mão no meu rosto e faz um carinho, nessa hora vi uma lágrima escorrer. E então ele disse:

— não quero perder você de novo. Deixe-me ficar e tentar consertar as coisas...

Juliana: Eu não posso, tenho um namorado. Você não o viu aqui?

Caio: Vi sim, mas sei que não namoram, ele deixou escapar para um dos seus amigos, disse que estava a esperar a sua resposta e que você precisava acordar para conversarem. Eu ouvi, pois estava próximo de onde eles estavam conversando.

Juliana: Mas tenho compromisso com ele. As coisas não são como você pensa. Não quero falar sobre isso agora.

Caio: Vou esperar você, linda. Esperei tantos anos para lhe encontrar, esperarei o tempo que você precisar.

Juliana: Não precisa fazer isso, já tomei a minha decisão com o Rodrigo.

Caio: Não faça isso. Você não precisa fazer isso só para tentar se livrar de mim.

Juliana: Vou fazer porque eu quero e, porque o Rodrigo merece.

Caio: Ok. Vou deixar você descansar e pensar melhor, não tome decisões precipitadas.

Juliana: Jamais faria isso.

Caio: Descanse, continuarei a cuidar de você.

Não respondi mais nada, ele apenas saiu do quarto e deixou a rosa branca em cima da maca onde eu estava deitada.

Fiquei com as suas palavras na cabeça, pensei muito, pensei tanto que acabei adormecendo.

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