No outro dia

Acordo já tarde do dia, era por volta de 12h e os meus pais convidaram-me para almoçarmos juntos num restaurante. Eu não queria muito sair de casa, mas não poderia recusar, eles são tudo para mim.

Aproveitei o momento em família e logo contei-lhes sobre a minha situação com o Diego, falei sobre tudo o que aconteceu e eles ficaram chocados com a atitude do mesmo. E ainda disseram juntos:

"Que presente de aniversário ele deu-te, hein"

Parecia até que um leu o pensamento do outro e demos risadas sobre isso. Mas logo os tranquilizei e disse estar tudo bem quanto a esse assunto.

Mas o que estava por vir logo em seguida, deixou-me completamente sem chão. O meu mundo desabou no exato momento em que um grupo de 3 pessoas, ou melhor, uma família entrou no mesmo restaurante em que estávamos e para a minha surpresa, lá estava ele: Caio. Aquele que eu não queria ver nem a cor, mas estava diante dos meus olhos, lindo desde sempre.

Os anos passaram e ele está cada dia mais bonito. Está forte, parece fazer exercícios físicos, os braços estão mais fortes e ele parece até um pouco mais alto.

Eles não nos viram e acredito que se isso tivesse acontecido, teriam feito de conta que não nos conhecemos. Pois, meu pai acabou indo atrás da família do Caio logo quando tudo aconteceu e disse coisas bastante desagradáveis aos seus pais.

Mas não havia o que ser feito, precisaríamos sermos mais discretos o possível para que eles não nos vissem, não gostaria de um escândalo a essa altura e nem gostaria que ele visse que ainda me importo com ele ou que ainda tenho sentimentos.

Mas na minha vida, tudo sempre acontece totalmente ao contrário do que eu quero. Os meus pais os viram e imediatamente, o meu pai tentou levantar-se para ir atrás deles, porém foi contido por minha mãe, que olhou-me e percebeu o que estava a acontecer comigo. Sim, eu estava a ter uma crise de pânico, após tantos anos, eu tive uma crise, assim que o vi.

Eu comecei a ter falta de ar, fui ficando vermelha, sem ar, sufocada. A essa altura, metade do restaurante já estava nos olhando e inclusive aquele que eu menos queria que me visse.

Rapidamente os meus pais pegaram-me no colo e levaram-me para bem longe dali, mas o que eu menos esperava aconteceu, ele veio atrás de mim, com uma cara tão preocupada que quase me fez acreditar que ele realmente se importa comigo.

Assim que percebeu o que havia acontecido, o meu pai imediatamente o mandou sair de perto de mim e não voltar a aparecer diante da nossa família.

Ele não saiu, para a minha surpresa, ele ficou e falou que poderia ajudar, pois, estava concluindo o curso de medicina e sabia muito bem lidar com aquilo, pois as características eram de uma crise aguda de ansiedade, e que se eu não fosse atendida o mais rápido possível, poderia perder totalmente o ar e acabar falecendo. Só então, os meus pais o deixaram se aproximar, pois, eles também entendiam a gravidade do assunto. E eu não consegui expressar nenhum tipo de reação, estava a desfalecer, quando senti os braços dele envolverem-me e fazerem-me deitar confortavelmente no banco de passageiros do nosso carro.

Nesse momento, ele começou a conversar comigo e trazer-me de volta para a realidade. Solicitou ao meu pai que me levasse a um pronto-socorro que estivesse mais próximo, para que pudessem colocar-me no oxigénio e que eu respirasse mais tranquila e foi isso que os meus pais fizeram. Durante todo o caminho, ele observava-me, conversava comigo, tentava trazer-me de volta a realidade e pedia-me para me acalmar e tentar respirar novamente.

Eu pude ver nos seus olhos, nos poucos minutos em que consegui manter-me acordada, que ele tentava reparar algum tipo de erro. Pude ver nos seus olhos a culpa. Quando estávamos próximos ao pronto-socorro, eu apaguei totalmente. Não me lembro de mais nada.

Caio Narrando:

Quando ouvi das pessoas ao redor, que havia alguém passando mal numa mesa próxima à nossa, procurei imediatamente com os olhos para poder ajudar e fazer algo por essa pessoa. Mas não pude acreditar no que vi, ela estava ali, diante dos meus olhos e era ela quem estava a precisar da minha ajuda.

Mais do que depressa, sem que ninguém pudesse tentar impedir-me, fui ao encontro dela, mas seus pais a levaram embora. Mesmo assim, não me contive e fui atrás deles no estacionamento e prestei o meu auxílio.

Durante todos os momentos em que ela conseguiu manter os seus olhos abertos, pude ver o seu olhar de tristeza e, ao mesmo tempo, de raiva. Ela já não carregava mais aquele brilho no olhar que me encantava tanto e mexia completamente com as minhas estruturas. E de repente ela apagou.

Preciso apresentar-me a vocês.

Bom, esse sou eu, Caio, tenho 24 anos, vivo fazendo diversas atividades físicas, curso medicina e está faltando pouquíssimo tempo para me formar e realizar o meu maior sonho que é ser médico.

Assim que saí da escola, com 17 anos, prestei vestibular e passei numa das melhores faculdades de medicina e logo consegui entrar e fui embora daquela cidade onde eu morei durante toda a minha vida. Deixei tudo para trás. Os meus pais, a minha casa, os meus amigos e principalmente a pessoa que eu mais amei em toda a minha vida. E mesmo pensando que não, amo até hoje.

Percebi isso, no exato momento em que a vi novamente, depois de todos esses anos.

Devem estar confusos com tudo o que aconteceu e principalmente, ela deve estar me odiando nesse momento, pensando que fui o cara mais canalha que ela já conheceu e eu realmente fui, mas eu precisava ser, eu precisava parecer real e verdadeiro. Não poderia deixá-la e simplesmente ir embora como se nada houvesse acontecido, mas o que eu fiz foi muito pior.

Até hoje, não consigo acreditar que o que eu fiz foi real. Não consigo ver-me nesse papel. Eu fui o vilão da história, há anos atrás, mas eu era tão imaturo, que acreditava que aquela seria a melhor forma de nos afastarmos, mas mal sabia eu, que sofreria tanto e durante todos os dias da minha vida, por uma pessoa tão maravilhosa e especial como ela.

De volta ao passado 💭

Caio: Mãe! Manhê!

Clarice: O que aconteceu, meu filho?!

Caio: Passei, mãe. Eu passei no vestibular, vou entrar na faculdade de medicina.

Clarice: Meu filho, que notícia maravilhosa! Parabéns, você sempre se dedicou tanto, é merecedor! Será um grande médico muito em breve.

Caio: Só tem um problema, mãe. 😔

Clarice: E esse problema, por um acaso tem a ver com a Juliana?

Caio: Claro, mãe! Você sabe que sempre fui apaixonado por ela e agora que começamos a nos entender, eu vou precisar ir embora.

Clarice: Mas são só alguns anos, querido. Logo passa e vocês se reencontrarão novamente. Se for amor verdadeiro, vai durar para sempre e ela saberá entender.

Caio: Não é bem assim, mãe. E se eu voltar e ela já estiver casada com outro? Acho melhor colocar um ponto final nessa história. Ela não vai esperar-me e eu não posso viver em função de um relacionamento que nem sabemos se dará certo. Vou acabar com isso ainda essa semana.

Clarice: Faça o que achar melhor, meu filho, mas sentem e conversem. Se ela sente o mesmo por você, ela vai saber entender.

Nos dias atuais...

Mas como um idiota e imaturo, fiz tudo errado e tomei a pior atitude que eu poderia ter tomado em toda a minha vida. Fingi uma situação com uma garota que também se chama Juliana e destruí qualquer possibilidade de conversa com aquela que eu deveria ter cuidado, amado e respeitado. Fiz com que ela me visse com outra pessoa, fingi tê-la usado, mas no fundo, estava morrendo por dentro, com isso. Me arrependi, mas quando me deu por mim, já era tarde demais. Ela havia ido embora...

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