Capítulo 12

...Emiliano...

Eu me arrependo disso! Nem devia ter considerado isso!

Aqui estou eu, me esforçando pra caramba para me concentrar na tela à minha frente e, juro, já li a mesma linha umas dez vezes, dez malditas vezes!

Lancei um olhar de raiva na direção da Rebecca, e tudo o que ela fez foi sorrir inocentemente antes de continuar cantarolando, batendo os pés no chão e fazendo um barulho irritante com os dedos em cima da mesa.

Ela estava conseguindo perfeitamente me distrair e me frustrar. Não que eu esperasse que ela ficasse quieta e tivesse a gentileza de me dar um pouco de sanidade no meu local de trabalho, ou algo assim. Não, ela não tinha motivo para isso, e provavelmente me odiava tanto a ponto de não se importar com minha paz de espírito.

Eu tentei ignorá-la, tentar bloquear os sons irritantes que ela estava fazendo, mas era impossível, porque quanto mais eu tentava ignorá-la, mais alto ela ficava.

"Você poderia parar, por favor?"

Eu consegui dizer com o tom mais calmo que já usei com ela. Ela ergueu o olhar para me encarar, os olhos se abrindo com uma falsa inocência.

"Mas o que eu fiz?"

Eu segurei uma reação de raiva.

"Você sabe o que está fazendo, Rebecca. Só... pare com isso. Estou me esforçando muito pra me concentrar aqui."

"Ok, como quiser."

Ela sorriu docemente para mim, os cantos dos olhos se fechando para mostrar que ela preferiria me esquartejar ao invés de sorrir. Estou começando a odiar esse sorriso.

Tudo ficou quieto por um curto período, e eu me concentrei no silêncio, mergulhando na tarefa que tinha em mãos, até que de repente ela se levantou e começou a ficar andando pelo meu escritório.

 Eu queria ignorar ela, me concentrar no meu trabalho e fingir que eu era o único naquele espaço, mas era inútil porque eu não podia deixar de seguir cada movimento dela, a maneira como ela silenciosamente, mas propositalmente, se movia ao redor da minha mesa de café, o dedo indicador dela deslizando pela superfície... então logo ia para a minha estante de livros, os dedos dela acariciando suavemente a lombada dos livros, enquanto ela me lançava um olhar, levantando a sobrancelha em questionamento.

"Por que está me encarando?" Ela perguntou.

Sim, por que você está encarando ela, idiota?, pensei.

Eu endureci meu olhar antes de voltar a me concentrar no meu trabalho, mas logo fui distraído quando ouvi um barulho abafado vindo da direção de Rebecca.

Rapidamente, ergui o olhar para ela, e vi uma pilha de livros caídos no chão, com ela encarando aquilo como se tivesse criado uma máquina do tempo ou algo assim.

Depois, ela olhou para mim, me lançando um sorriso que supostamente era para parecer desculpas, mas parecia exatamente o oposto.

"Ops", ela disse enquanto se abaixava para pegá-los.

Soltei um suspiro trêmulo, contei até três mentalmente antes de me levantar e ir até ela. Fiquei olhando para ela por uns bons três segundos antes de balançar a cabeça e me abaixar para ajudar a pegar os livros.

"Qual é o seu objetivo?" perguntei a ela.

"Não tem objetivo, foi só um erro, por que eu faria de propósito essa bagunça?" ela perguntou, pegando os livros devagar, ergui um pouco a cabeça e peguei ela me encarando, mas ela imediatamente abaixou a cabeça e continuou pegando os livros.

"Eu sei o que você está fazendo", eu disse, me levantando e arrumando os livros nas prateleiras. Logo depois, ela fez o mesmo.

Ela fez um show de piscar os olhos inocentemente, mas eu sabia que era tudo fingimento.

"O que você quer dizer?"

"Você está tentando me frustrar, não é? É por isso que você insistiu em vir comigo... Você realmente acha que vou me cansar de você e talvez, te soltar. Não é isso?"

Ela fingiu pensar sobre isso por um momento.

 "Não... Acho que não... até porque acho que você tem outros motivos para me manter como refém."

 Meus olhos se arregalaram com o que ela disse.

Ela virou para sair de perto de mim, mas eu segurei seu braço e a puxei com força para encarar seu rosto, arrancando um pequeno gemido dela.

“O que você quer dizer com isso?"

Sua postura relaxada vacilou por um momento, dando lugar a um olhar de medo, antes de ela recuperar a compostura.

 "Me solta!"

"Só se você me disser o que quis dizer com o que falou, Rebecca."

"O que te faz pensar que vou te contar se você continuar machucando meu braço?" ela gritou comigo.

Relutantemente, soltei seu braço.

"Fala."

Ela esfregou a parte vermelha do braço.

"Eu ouvi você e a Piper, falando sobre Ela. Sei que tem algo a ver comigo."

Franzindo a testa, respondi.

"Sua mãe nunca te ensinou a não bisbilhotar as conversas dos outros?"

“Sua mãe nunca te ensinou a não sequestrar pessoas?”

“Não, ela nunca ficou perto por muito tempo.”

“Ah, por favor, não me diga que você ficou assim por causa de problemas com a mamãe. Eu esperava mais.”

“Por que você bisbilhotou?”

Ela deu de ombros.

 “Não consegui evitar, fiquei mais interessada quando ouvi meu nome... O que está acontecendo de verdade aqui, Emiliano? Eu tenho o direito de saber!”

Voltei para a minha mesa, determinado a ignorá-la, não podia contar a ela, não. Ela não precisa saber de nada. Ela não DEVE saber de nada.

“Emiliano, eu não vou deixar você me ignorar! Você não pode simplesmente me manter na ignorância, de quem você estava falando?”

Cerrei os dentes enquanto me virava para encará-la.

“Não é da sua conta! Deixa pra lá.” Aviso a ela, encarando com raiva.

“Não.” Ela disse, e isso só me deixou mais irritado, ela sabia o quanto eu odiava que me dissessem não... E mesmo assim, ela estava determinada a me irritar.

“Esquece isso, finja que nunca ouviu nada.” Eu disse a ela.

“E eu disse não. Exijo saber a verdade, e não pense que pode me ameaçar a tirar minhas roupas desta vez – eu não me importo, você não pode me ameaçar com nada mais, porque não vai me afetar. Você já fez o pior.”

Inclinei minha cabeça para um canto.

 “É mesmo?” Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto, enquanto um plano se formava em minha mente. Observei a determinação desaparecer do rosto dela quando ela percebeu o sorriso que eu estava lhe dando.

“Vamos ver se eu já fiz o pior...”

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