Capítulo 10

Dia 2

Eu estou em uma missão: uma missão para enlouquecer o Emiliano Alfredo. Tive meu momento justo de chorar ontem à noite, e então tive tempo e espaço suficientes para pensar um pouco.

Chorar na frente do Emiliano só inflaria o ego estúpido dele, só faria ele pensar que ele tinha conseguido me quebrar.

Mas adivinha?

Não vou permitir que ele vença, vou ter minha vingança e vou fazer ele pagar pelo que disse e fez comigo... Não vou mais chorar na frente dele, não vou pedir desculpas, não, não vou! Não vou deixar ele saber que as palavras dele me abalaram até a alma.

Vou agir normalmente.

Embora seja difícil, porque toda vez que vejo o rosto dele, volto a lembrar daquela experiência horrível, mas se essa for a única maneira de sair daqui, eu farei.

Então aqui estou eu, vestida com um vestido vinho formal na altura do joelho, meu cabelo preso em um rabo de cavalo e minhas sandálias de salto aumentando um pouco minha altura, mas acredite em mim, mesmo com esse salto eu não chego nem perto da altura do Emiliano. Não me incomodei em usar maquiagem porque não gostava. Nem um pouquinho.

Com um último olhar no espelho, saí do banheiro do Emiliano e esperei que ele pegasse as chaves do carro e o que mais precisasse para o trabalho.

Na hora certa, a porta se abriu, revelando um Emiliano vestido e franzindo o cenho. Seu paletó estava dobrado nas mangas, dando um toque de estilo ao seu traje profissional, sua calça tinha a mesma cor do terno, azul escuro, mas parecia jeans, e seu calçado não era nada profissional, o tênis converse branco combinando com a camisa branca que aparecia por debaixo do paletó.

No geral, ele parecia um modelo direto da revista Vogue. Seu estilo parecia realmente profissional, mas com um toque de bad boy.

“Você está pronto?” perguntei a ele quando ele passou por mim, ignorando completamente a minha presença.

“O que você quer dizer?” ele perguntou sem olhar para mim, enquanto pegava suas chaves do carro e sua carteira.

“Vai trabalhar? Tá pronto?” perguntei novamente.

Desta vez, Emiliano se virou para me olhar, seus olhos percorrendo meu corpo dos pés à cabeça, demorando um pouco nas minhas pernas expostas antes de voltar para os meus olhos e limpando a garganta de forma dramática.

“Sim... E por que você tá vestida assim?” ele me perguntou.

“Eu vou com você.”

Ele franziu a testa.

“Não, você não vai.”

“Vou sim.”

“Eu disse que não.”

“E eu disse que sim.”

Emiliano murmurou algo entre dentes.

 “Que porra que você tem! Por que você quer vir comigo?”

“É porque vou ficar entediada e cansada”, me aproximei dele. “Hoje é o segundo dia da minha estadia aqui, e quero passar o dia todo com você.”

“Como é?” Ele deu um passo para trás, seus olhos rodando de confusão.

“Você me ouviu, gatinho. Se vou passar catorze dias com você, pelo menos deveria te conhecer... Não acha?”

“Errado. Você não vai comigo. Porque eu não quero.”

“Mas eu quero ir com você.” Retruquei. Me levantando, cruzei os braços, preparada para segui-lo se necessário.

“O que você está aprontando?” Ele me perguntou.

“Nada, o que uma pobre garota da igreja como eu pode fazer para você?” Perguntei a ele.

Ele apertou os olhos para mim.

“Rebecca, não tenho tempo para isso.” Ele se dirigiu à porta.

Senti meu estômago pular. Por que diabos meu estômago faz coisas estranhas sempre que ele chama meu nome? Não entendo.

Segurando a porta antes que ele pudesse fechá-la, segui atrás dele.

“Por favor... Me deixe ir com você? Por favor.”

“A resposta ainda é não.” Ele disse, descendo as escadas enquanto eu o seguia.

“Por favor.”

“Não.”

“Por favor, Emiliano.”

“Não.”

“Por quê?”

“Volte para dentro da casa.” Ele disse, digitando um código em um teclado ligado à porta da garagem e, de repente, a porta se abriu lentamente.

“Deixa eu ir com você.”

“Não.”

“Vamos!”

“Não”

Olhei ao redor e fiquei surpresa ao ver apenas dois carros... Um SUV e uma Ferrari. Espera aí, ele não deveria ter mais carros? Da última vez que pesquisei o nome dele, ele tinha uma empresa automobilística em Las Vegas. Ele vende carros?

“Por que você tem apenas dois carros?” Tive que perguntar.

“Porque isso te importa? E por que diabos você ainda está aqui?” Seu tom era de pura irritação.

Levei meu tempo para estudar seus traços faciais, seus olhos eram realmente bonitos e seus cílios eram tão longos, eu estaria louca se dissesse que eram mais longos do que os postiços que as meninas usam hoje em dia? Seu maxilar era perfeito e ele correspondia à minha primeira impressão dele. Um deus.

Eu não deveria estar apreciando sua beleza! Eu deveria condená-lo e odiá-lo pelo que ele fez comigo, mas aqui estou eu, admirando seu rosto perfeito... Ele tinha esse olhar inocente nos olhos que me fazia querer me inclinar e dizer que está tudo bem...

Eu não deveria estar pensando isso! Esse homem me sequestrou! Ele é um estranho! Um completo estranho que também, com certeza, é um psicopata.

Desviei o olhar imediatamente e, quando olhei novamente para cima, peguei ele me encarando, mas ele também desviou o olhar, fingindo que não estava olhando.

“Olha, apenas vá para dentro, tá?” Ele disse, destravando a porta do carro e entrando.

Abri a porta do passageiro destravada e entrei também, trancando a porta ao meu lado.

“Que diabos você está fazendo? Saia agora!” Ele avisou.

“Não. Eu quero ir com você.”

“Por quê?”

“Eu já disse o porquê! Não quero ficar entediada em casa e também quero te conhecer-“

“Cala a boca. E saia.” Ele disse entre os dentes.

“Eu te irrito tanto assim? Estou vestida agora, eu não estou nua ou algo do tipo, não é?” Disse com raiva, a sensação de ontem voltando a me atingir com força total.

Será que ele realmente se sente tão irritado comigo assim? Sou tão feia assim? Sentia as lágrimas se acumularem nos meus olhos.

Isso foi um erro... Talvez eu ainda não tenha superado...

Estava prestes a sair quando ele falou.

“Tá bom.” Emiliano disse, olhando para o lado e ligando o motor.

“Sério? Posso ir junto?” perguntei, com entusiasmo na voz.

“É, tanto faz.” O tom dele era duro, mas não me afetou como costumava, e isso é apenas o segundo dia... Eu consigo fazer isso...

O carro começou a se mover.

“Então, alguma dica do que fazer e dizer quando chegarmos lá?” perguntei a ele.

Ele simplesmente me ignorou e continuou dirigindo.

“Vou ter que responder às saudações deles? Ah, sou uma ninguém, claro que vou ter que responder.”

Ainda nenhuma resposta.

“O Marcos estará lá?”

Nada.

“Estamos quase chegando?”

Nada.

“Você tem um assistente pessoal?”

Nada.

Ele parecia estar no seu próprio mundo, provavelmente se perguntando por que eu estava falando com ele e agindo como se nada tivesse acontecido.

“Seus funcionários são mais amigáveis ou são tão mal-humorados quanto você?”

Sem resposta.

“Estou bem vestida? Desculpa... saiu errado, você odeia meu corpo, então você não saberia.” Eu disse, olhando pela janela. De canto de olho, vi a mão dele apertar o volante, como se estivesse se contendo para não fazer algo.

“O Mario mentiu para mim.” Eu disse do nada. “Ele me disse que eu era bonita, ele realmente me fez sentir bem comigo mesma... Mal sabia eu que ele estava apenas tentando me fazer sentir bem. Eu não sabia que eu era tão feia.” Eu disse, mais para mim mesma do que para ele... Mas tenho certeza de que ele ouviu, pois ele fez um ruído.

“Enfim, obrigada por me dizer a verdade.” Eu disse.

Ainda nenhuma resposta.

“Só uma pergunta rápida, tá? Será que alguém vai me pedir para ficar pelada só porque eu disse não pra eles? Quero me preparar-ah!”

Os pneus derraparam, um som de freio chiando seguido de poeira subindo ao nosso redor enquanto o carro derrapava para o lado antes de parar bruscamente.

Emiliano se virou para mim, seus olhos não mostravam raiva nem nada, estavam cheios de...de culpa!

E o que ele disse em seguida confirmou isso.

“Desculpa.”

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