Estamos quase nos reencontrando, não é mesmo, Thanatos? Após tantos séculos, eu finalmente posso sentir sua presença. Eu sei que faltam algumas peças para que fique inteiro novamente, mas, o seu cheiro atual já consegue me lembrar da sua verdadeira essência.
O caçador se encontrava em um local sombrio, aonde apenas seus olhos escarlates brilhavam. Seu corpo em forma de sombra, se misturava com aquele ambiente obscuro, o tornando um com a escuridão.
Sua voz estava calma, e até os brilho em seu olhar parecia feliz. Ele sentia como se estivesse sorrindo, mesmo que sua boca também fosse formada por escuridão.
Por que me deixara essa missão dolorosa? Já não me bastava presenciar a sua primeira morte? Por que minha sentença teve que aumentar tanto assim? Mas, independente, eu não sinto raiva, Thanatos! Principalmente agora que eu te enxergo cada vez mais perto de mim!
Em meio aquele breu total, um pequeno brilho surgiu aonde deveria ser o coração do caçador, e, durante alguns minutos angustiantes, ele pôde sentir aquela lâmina atravessar o peito do garoto.
Essa dor! Depois de tanto tempo... Fico feliz por sentir novamente a sua dor, Thanatos! Fazia tantos anos que eu nem mesmo conseguia saber se seu sofrimento era real, ou não!
Quando o brilho se extinguiu, o Caçador se viu de frente para o garoto, mas, infelizmente, percebeu que esse não o enxergava e, provavelmente, também não o escutaria.
Ele se aproximou do garoto, e, piedosamente, arrancou aquela faca com um movimento rápido. O garoto mal esboçou reação ao ato.
Não se preocupe. Eu sei que você não se lembra desse lugar, então eu irei garantir pessoalmente, que você não se perca aqui dentro.
"I fotiá mas édose dýnami kai i stáchti mas édose gnósi"
(O fogo nos deu força e as cinzas nos deram conhecimento.)
Recitando um encantamento em língua antiga, o Caçador fez surgir um fogo azulado, que cercou completamente o corpo do garoto, logo o transformando em cinzas carbonizadas. Ele o fez mais rápido do que o normal, já que tinha total certeza de que poderia usar as chamas mais fortes que conseguisse invocar, pois o garoto não sentiria dor enquanto estivesse naquele lugar.
Após a chama queimar até mesmo os sentimentos impuros dele, o caçador soprou as cinzas, que voaram para dentro da escuridão com muita facilidade.
Não se preocupe, pois você está mais que pronto para receber isso! Está quase na hora de você acordar, Thanatos! Está quase na hora de nos reunirmos novamente!
De pouco em pouco, você será moldado novamente, até que se torne aquele realmente deveria ser. Finalmente chegou a hora, Thanatos! O objetivo agora está pronto, e agora você está completo! Ou pelo menos está quase completo.
"Ta elattomatiká méri petioúntai stin ávysso."
(Peças defeituosas são jogadas no abismo.)
As palavras do Caçador fizeram a escuridão começar a se materializar, e após alguns minutos, formarem um novo corpo para o garoto. Aquele corpo não possuía nenhuma mudança física, mas, ainda assim, era completamente diferente do anterior.
Agora você pode voltar. Infelizmente, você ainda é fraco, Diaz, mas, felizmente, isso logo mudará e você estará completo, para o bem de nós dois!
Diaz estava sentado no chão daquela pequena sala, esperando uma resposta do dois guardas, após contar tudo aquilo que havia se passado com ele nos últimos minutos.
_ Bem... Isso foi interessante! - Júpiter não possuía uma expressão de quem havia realmente entendido.
_ Digamos que você teve uma experiência única, Diaz. - Fenrir também não sabia o que falar sobre a situação, mas seu olhar demonstrava uma calma assustadora.
_ Você não vai virar um monstro do nada não né, Fenrir? - o olhar do prisioneiro, mostrava claramente o quão abalado ele ainda estava.
_ Eu acho que não...
_ Eu estou falando sério, Fenrir, duas vezes já são mais que o bastante para mim!
_ Diaz, eu preciso que você confie em nós, e acredite que agora estamos no mundo real! - Júpiter tentou acalma-lo, mas suas palavras também fugiam da razão.
_ Por falar nisso, aonde exatamente nós estamos? - ele começou a olhar em volta, mas logo entendeu que aquele lugar não passava de um simples cubículo, com uma mesa e quatro cadeiras de madeira ao centro.
_ É um tanto desconfortável dizer isso, mas, a gente está dentro da primeira sala! - um sorriso de angústia enfeitou o rosto de Júpiter, enquanto ela tentava se explicar de uma maneira simples.
_ Merda! Quem vai tentar me matar dessa vez? - Diaz deu de ombros enquanto se levantava, observando tudo ao seu redor novamente.
_ Fica calmo, Diaz. Essa é a única sala entre as três que pode se dizer, literalmente, previsível! - Fenrir pousou sua mão no ombro dele, logo afastando, pois Diaz se moveu assustado com o toque - E acredita em mim, porque eu sou o real!
_ Eu odeio quando vocês tratam a minha casa como algo simples! - em uma das quatro cadeiras que estavam vazias, sentada de costa para a porta de saída, uma mulher de cabelos longos e escuros apareceu, sorrindo para os visitantes.
_ É um enorme prazer revê-la, Hêstia! Vejo que continua hospitaleira como sempre! - apesar do sorriso amigável, Júpiter possuía sarcasmo em sua voz.
_ Júpiter?? É você mesma? Parece que a senhorita engordou um pouco desde a última vez que nos vimos! - a mulher, com um olhar cor de âmbar, devolveu o insulto com o mesmo nível de sarcasmo.
_ Vejo que você também mudou, tá com o cabelo mais longo! - uma das facas de Júpiter, saiu voando de dentro de seu uniforme, parando de forma ameaçadora no pescoço da mulher - Que tal um corte gratuito? - Júpiter sorria enquanto fazia sua ameaça.
_ Querida Júpiter, o que você fez com suas adagas originais? Não me diga que você conseguiu quebrá-las? - Hêstia agarrou o punho da faca, e como se esta fosse apenas uma lâmina comum, começou a brincar com ela enquanto a analisava bem de perto.
_ Solta a merda da minha faca! - outra lâmina voou em direção a mulher sentada, mas antes que chegasse perto dela, a influência da benção de Júpiter sobre aquela faca sumiu, assim como aconteceu com a outra, fazendo com que caísse no chão. - Droga! Eu odeio essa sua benção ridícula!
_ Diaz, certo? Pode fazer as perguntas que você deseja! - ignorando completamente a áster irritada, Hêstia dirigiu seu olhar para Diaz, que, estando em pé ao lado de Fenrir, não conseguia esconder a curiosidade que seu rosto demonstrava.
_ Como assim?
_ Por favor, garoto, dá para ver no seu rosto que você está totalmente perdido nessa conversa! - com a faca que segurava em uma das mãos, ela deu um sinal para que todos eles se aproximassem mais - Sentem-se, alguns minutos de conversa não vai matar ninguém!
_ Bem que poderia... - Júpiter meio que sussurrou, enquanto se sentava na cadeira em frente a mulher.
Fenrir sentou na cadeira à direita dela, se mantendo calado o tempo todo. Já Diaz quase caiu no chão enquanto sentava-se, já que o vestido de Hêstia prendeu toda sua atenção.
O vestido dela era longo, com um estilo chique e charmoso e ia até o fim de seu corpo, sobrepondo seus pés que, quando ela se mexia, mostravam um salto de tiras abertas, de cor preta. Um decote em formato de V na frente do vestido, aumentava a luxuosidade de Hêstia, mostrando parte de seus dois dotes. Mas não era nenhum desses aspectos que chamava a atenção de Diaz. O vestido não possuía uma cor fixa, a cada segundo que se passava, o tecido variava entre as cores preto e cinza, e suas variações.
_ Alguma coisa lhe chamou a atenção, garoto? - Hêstia não precisava da resposta, mas, ainda sim, o provocou.
_ Me desculpe, é que seu vestido... Ele... - Diaz não conseguiu formular uma resposta, e sua cara de bobo ficou bastante evidente.
_ O que tem ele? Está te incomodando? Eu posso tirá-lo se for o caso! - em um rápido segundo, o vestido dela desapareceu completamente, deixando seu corpo completamente nu, mostrando cada curva e detalhe em sua fisionomia - Melhorou agora, garoto?
Diaz apenas continuou calado, com um pouco de vergonha daquela situação. Por mais que sua consciência insistisse para que desviasse o olhar, seus olhos continuaram observando Hêstia em sua frente.
_ Você poderia para com essas suas brincadeiras, Hêstia? Pode não parecer para você, mas nós estamos com bastante pressa! - Júpiter estava irritada com a provocação dela, e talvez, com um pouco de inveja.
_ Querida Ju, eu estou presa aqui já tem mais de vinte anos! Será que não posso me divertir um pouco? - em reação a fala de Júpiter, o vestido dela voltou a cobrir seu corpo, mas seu olhar continuava provocando Diaz - Você sabe quantos anos fazem, desde que alguém interessante entrou aqui?
_ Por favor, nos deixe passar agora, e eu prometo lhe trazer o homem mais atraente de todo o reino! - Júpiter se sentia horrível dizendo aquilo, mas, sabia que aquele poderia ser o único jeito de acelerar a situação.
_ Tudo bem, Júpiter, mas, eu quero que esse garoto me visite depois também! - Hêstia piscou para Diaz, enquanto um sorrisinho surgia no canto de sua boca - Tem algumas coisas que eu quero ensinar para ele!
Diaz estava reagindo a aquelas provocações de forma tímida, evitando dizer qualquer coisa que pudesse "piorar" a situação, mas, uma coisa que Hêstia havia dito chamou sua atenção.
_ Com licença... Posso fazer uma pergunta?
_ Sim, estou a seu dispor, garoto.
_ Você falou algo sobre as adagas originais dela... O que você quis dizer?
_ Ah, só isso? Bem, essa é uma história bem simples! - era fácil notar a decepção que os olhos dela mostravam - Você já ouviu falar das luas de Júpiter, no caso o planeta e seus satélites?
_ Quando mais novo, eu era bom em astronomia!
_ Quando ela se tornou áster, o nome Júpiter foi uma referência a sua benção e ao seu estilo de luta com seus adagas curvadas, sendo que quatro delas ficam flutuando ao redor dela, assim como as luas fazem em torno do planeta.
_ Entendi... - apesar da explicação simples, ele não parecia ter entendido.
_ Espera, não me diga que você nunca ouviu falar da áster Júpiter e suas luas afiadas? - ela olhou para Diaz com um olhar de julgamento, seguido de uma leve reprovação.
_ Para ser sincero, eu odeio todos os ásters, vivos ou mortos! - por um segundo, sua voz se encheu de convicção, e seu rosto transpareceu uma coragem genuína.
A resposta chocou até mesmo Fenrir, que sabia os motivos de Diaz para tal sentimento, mas ainda assim, com exceção de Hêstia, todos os outros se mantiveram calados.
_ Você tem um motivo para isso?
_ Quando eu e o pessoal do orfanato mais precisávamos de uma ajuda, todos aqueles que estavam no topo negaram até mesmo nossa existência!
_ E você acha que a Júpiter tem alguma coisa a ver com isso?
_ Eu creio que não, mas, assim como minha palavra não é o suficiente para provar minha inocência, o sorriso dela não é capaz de me fazer esquecer toda a merda que eu passei! - por mais que suas palavras pudessem esboçar raiva, sua voz soava assustadoramente calma e suave.
_ Infelizmente, você tem bastante razão nesse caso, mas, você já pensou que essas pessoas que odeia, também passaram por coisas 'difíceis' ?
_ Sinceramente, eu não estou interessado em tomar sermão de alguém que faz o que você fez! - ele não possuía a intenção de ofender com sua frase, mas pôde perceber que o fez, quando olhou para Hêstia.
_ Você é interessante, garoto. Espero que ninguém te mate até que você volte para mim!
Em um dos cantos da sala, nas costas de Diaz, uma pequena lâmina azulada surgiu, e ficou lá flutuando sem ação nenhuma, e sem que ninguém percebesse. A lâmina era menor que as facas de Júpiter, sendo um pouco maior que uma mão fechada, e estava constantemente mudando sua direção, apontando alternadamente para Diaz, Fenrir e Júpiter.
_ Eu não tenho a intenção de voltar aqui! - a voz dele soou firme, e seu olhar, não mostrava nenhum sinal de hesitação.
Naquele momento, a pequena faca travou no ar, direcionada para Diaz, esperando apenas a ordem para atravessar sua nuca.
_ Não me subestime, garoto, pois eu sempre consigo o que eu quero!
Reagindo ao estalo de dedo que Hêstia deu, a pequena lâmina se dirigiu em direção a Diaz, atravessando o espaço que os separava em uma fração de segundo. Fenrir notou o ataque, mas, em desvantagem por conta de sua posição, ele não pode fazer nada, além de gritar para que Diaz se esquivasse.
Por conta de tudo aquilo acontecer de forma repentina, nem mesmo Fenrir conseguiria desviar a tempo, e, infelizmente, para Diaz não foi diferente.
Mesmo que não houvesse percebido o perigo, o braço esquerdo de Diaz se moveu, quase que por instinto, rápido o bastante para segurar aquela lâmina antes que esta o perfurasse.
Aquele movimento, deixou Fenrir e Júpiter surpresos, principalmente porque a aparência dele não havia mudado em nada, indicando que nenhum tipo de benção aprimorada fora ativada. Mesmo que sua aparência não possuísse mudanças, quando voltou a falar, sua voz fez com que ambos adotassem posturas defensivas, visando um possível combate.
_ Velha Deusa, tem mesmo o objetivo de matar-me? - a voz duplicada voltou a assumir a entonação de Diaz, o que deixou Fenrir e Júpiter mais apreensivos.
_ Diaz? - Fenrir tinha um olhar assustado, apesar de seu corpo não mostrar hesitação.
_ Por favor, não se intrometa, jovem! - a voz era arrogante, em seu tom era possível perceber uma leve hostilidade.
_ Seja mais educado com meu subordinado! - uma das facas que ainda estavam dentro do uniforme de Júpiter voou tão rápido quanto a lâmina criada por Hêstia.
A investida de Júpiter foi literalmente uma perda tempo, já que usando da mesma mão que se defendera antes, Diaz segurou a faca antes que o acertasse. A mão dele agora estava coberta por aquela fina névoa novamente, que se espalhava lentamente para o resto do corpo.
_ Eu disse para não se intrometerem! - com uma força surpreendente, Diaz fechou seu punho segurando as lâminas, transformando ambas em estilhaços de aço.
_ Você continua sendo um poço de suavidade, Caçador! - o sarcasmo evidente na voz dela, chamou a atenção dele novamente para si.
_ Mesmo me reconhecendo, você ainda ousa tentar contra mim, Velha Deusa?
_ Eu ainda não tinha certeza de que era você. Sua tatuagem ridícula está pela metade! - Hêstia apontou para o rasgo manchado por sangue no uniforme que ele vestia, de onde era possível ver algumas linhas finas negras, que vinham da direção do seu ombro esquerdo, e desapareciam em um entrelaçado de linhas no centro de seu peito, acima do coração.
_ Então pretende usar esse fato como desculpa?
_ Não, pelo contrário, se fosse mais óbvio que era você, eu teria usado uma lâmina maior!
A expressão de Diaz se tornou mais hostil, e, derrubando sua cadeira, ele se levantou, dirigindo-se vagarosamente em direção de Hêstia, que ainda estava sentada o observando.
_ Velha Deusa... Você ainda se lembra das regras, correto? Você me "chamou" e agora te devo um favor, mas, o pagamento deve está a altura de seu pedido!
_ Você acha que meu corpo seria o suficiente? - Hêstia levantou a parte debaixo de seu vestido, deixando suas pernas totalmente expostas. Sua pele, branca e sem imperfeições, causaria inveja até mesmo na mulher mais bela do reino.
_ Seria um prazer me encontrar, novamente, com você para tal ato, mas, infelizmente, dessa vez eu não quero te levar para uma cama!
_ E precisa ser em uma cama? - ela se debruçou por sobre a mesa, mostrando o longo decote em V, que deixava suas costas a mostra, com uma pele tão linda quanto no resto do corpo.
_ Eu já disse, Velha Deusa, eu não quero seu corpo!
Irritada, Hêstia consertou sua postura na cadeira, mas não disse nada, esperando que ele tomasse a iniciativa.
_ Sinceramente, eu sempre odiei sua luxúria, Velha Deusa...
_ Você pode, por favor, parar de me chamar assim, Caçador?
_ Por que eu deveria? Não foi esse o apelido que sua "dona" te deu muitos anos atrás?
_ Infelizmente, sim, mas o passado não é mais importante que o agora.
_ Um erro comum dos deuses menores. Sinceramente, eu não sei o que Atena viu em você, para deixá-la viva depois que ela tomou o seu lugar!
_ Eu também nunca consegui entender o que o 'anjo da morte' viu de interessante em um dos prisioneiros de Hades! Mas, mesmo que não possua importância, você ainda está aqui, após mil invernos, tentando trazer seu querido deus de volta!
_ Eu irei ignorar esse insulto, mas, que fique avisado, Velha Deusa, apenas um minuto, será o resto de tempo que você terá após insultar Thanatos novamente.
_ Por que você não morre, Caçador? Quer saber, apenas me fala o que você quer como pagamento, e volta logo pro seu pequeno universo particular!
_ Eu apenas quero que você deixe esse garoto passar em segurança por esse lugar!
_ Apenas isso, Caçador?
_ Eu conheço muito bem a sua verdadeira natureza, Velha Deusa, então, nem pense em tentar qualquer tipo de artimanha, entendeu?
_ Ok, ok, ok... Você se tornou bastante sem graça, Caçador.
_ O meu tempo para brincadeiras acabou, quando recebi essa última missão!
_ Que seria agir feito um escravo cego para a Morte?
Naquele momento, ele já estava perto o bastante para alcançá-la, e, a erguendo no ar pelo pescoço, começou a enforca-la com uma das mãos.
_ Eu te avisei, e, felizmente, eu sempre cumpro minhas promessas!
Hêstia lutava por sua vida, tentando soltar a mão de Diaz de seu pescoço, mas, aquela força incrível gerada pela influência da nevoa, era maior do que a que possuía.
_ Diaz! Que merda você pensa que está fazendo?! - Fenrir, que agora estava em pé, desembainhou a espada em sua cintura lentamente, e a apontou para Diaz, que apenas ignorou sua ação - É melhor você ter uma boa explicação para isso!
O rosto de Hêstia já estava vermelho pela falta de ar, e era possível notar os arredores de seus olhos ganhando um tom arroxeado. Diaz possuía um olhar frio, e seu corpo todo agora estava coberto com aquela fina névoa.
_ É assim que pretende agradecer os seus salvadores? - Júpiter estava parada em pé, com os braços cruzados, e seu olhar mostrava uma seriedade de quem já havia passado por situações semelhantes.
_ Você espera que eu agradeça? Sabe, não importava que decisão tomassem, vocês nunca conseguiriam salvar esse garoto!
_ Esse garoto? O que aconteceu com você Diaz? - Fenrir ainda mantinha sua postura de ataque, mas não se moveu nem mesmo um músculo, pois seu corpo, instintivamente, sabia que seria uma ato suicida.
_ Vocês, humanos, são mesmo criaturas ignorantes, não é mesmo?! Eu sinto até nojo, só de lembrar que já fui humano!
_ Você chama Hêstia de Velha Deusa, certo? Por acaso você também se considera um deus? - Júpiter estava tentando entender a situação, enquanto mantinha sua guarda alta.
_ Eu não sou um deus, mas, eu sirvo a um.
_ E quem seria esse?
_ Thanatos!
_ Você que concedeu ao Diaz, a benção de Thanatos?
_ Quando você diz benção, por acaso se refere ao poder emprestado pelos deuses?
_ Sim. Foi você quem emprestou esse poder para ele?
_ Digamos que para ele, a situação seja um pouco mais... complicada!
_ Poderia explicar de uma forma melhor?
_ Acho que têm um assunto de maior prioridade! - ele aumentou a força do aperto em sua mão, e Hêstia, como resultado, começou a fazer movimentos mais fracos e vagarosos.
Júpiter possuía apenas mais duas facas para usar, e, mesmo que isso a deixasse vulnerável, fez com ambas voassem em direção a Diaz. Ele não precisou de fazer nenhum movimento para se defender, já que a névoa as segurou no ar automaticamente, impedindo que se aproximassem mais que dez centímetros dele.
Fenrir também avançou, balançando sua espada enquanto dava a volta na mesa correndo. Sua espada, de cor negra e cabo vermelho, fora forjada de um dos matérias mais resistentes de Drum, e isso a tornava uma arma perfeita para o estilo de luta explosivo de Fenrir, na qual ele acertava seu inimigo com uma sequência de golpes, com força e potência aumentadas a cada acerto.
Quando já estava próximo o suficiente, ele ergueu a espada durante seu movimento, e a desceu em um golpe rápido e poderoso, com a intenção de cortar fora o braço que enforcava Hêstia. Tamanha decepção caiu sobre ele quando percebeu que seu golpe não fora forte o bastante. Sua espada havia atravessado aquela névoa, mas, infelizmente, nem sequer perfurou a pele de Diaz.
_ Eu lembro de dizer, para não se intrometer!
Enquanto segurava Hêstia, usando da mão livre, Diaz acertou um soco no peito de Fenrir, que fez com ele voasse na parede logo atrás dele.
Fenrir perdeu o fôlego com o golpe, e precisou de alguns segundos para recobrar os sentidos. Seu peito doía de uma forma assustadora, e ele tinha certeza de que os ossos acertados, estavam trincados ou quebrados. A espada dele também foi arremessada, e, caiu no chão ao seu lado.
Júpiter mantinha um olhar sério enquanto via aquela cena, mas, ao perceber que Fenrir demoraria para se levantar, ela decidiu em recorrer a sua última carta.
_ Hêstia, eu sei que você ainda tem forças para me ouvir, então, se não for pedir muito, poderia criar uma arma para mim! Ou cinco!
Hêstia não aparentava está consciente, e mesmo que seus olhos não se movessem ou mostrassem reação a fraca luz da sala, o pedido de Júpiter foi atendido quase imediatamente.
Cinco adagas curvas se materializaram flutuando em volta dela, cada uma qual possuía lâmina negra e cabo avermelhado, seguindo o mesmo padrão de cores da espada que Fenrir usava. O ângulo de curvatura dessas adagas era maior do que seria o normal, feitas de forma exclusiva para a benção de Júpiter.
Ao assumir o controle de cada uma, Júpiter fez com que as adagas rotacionassem em uma velocidade assustadora, fazendo-as se transformar em figuras arredondadas, que pareciam planas devido ao movimento de giro ,mas, com um brilho branco nas extremidades, mostrando o quão afiada estavam.
_ Hêstia, a deusa principal dos lares, sua habilidade sempre foi um perigo até mesmo para Atena. Dentro de alguns metros ao seu redor, você é capaz de manipular todo o espaço da forma que sua mente preferir, e isso me deixa uma dúvida, como conseguiram te aprisionar aqui? - mesmo que sua intenção ainda fosse assassina, sua voz soou cheia de pena por alguns segundos, mas, sua mão não afrouxou o aperto nem por um segundo.
_ Eu não sei o que é você que está no corpo no Diaz, mas, uma coisa eu tenho total certeza, você está longe de ser o garoto que eu conheci! - uma das adagas que girava em alta velocidade, percorreu a pequena distância entre os dois, e, com bastante facilidade, atravessou a névoa que o cercava, causando um corte raso no antebraço esquerdo de Diaz.
_ Bem... Acho que eu te subestimei um pouco garota! Poderia me dizer seu nome? - o olhar dele era frio, e, de alguma forma, mostrava os olhos de quem havia visto o próprio Tártaro pessoalmente.
_ Muito prazer, sou a áster Júpiter, escolhida entre cem candidatos ao posto, tendo duas luas como guardas oficiais, e outros subordinados inferiores! - Júpiter fez uma breve reverência, com um movimento rápido da mão direita fechada por cima de seu peito.
_ Uma dessas luas, seria esse garoto? - ele não tirou o olho dela, mas suas palavras pareciam apontar para o guarda que ainda se levantava após o golpe.
_ Sim. Esse é Fenrir, meu primeiro guarda em comando, e, talvez não pareça nesse momento, mas seu potencial é grande o suficiente para me segurar em uma luta. - cada palavra dela demonstrava um orgulho, que fez com que Fenrir sorrisse brevemente.
_ Você não precisa me elogiar, Júpiter! - Fenrir terminou de se levantar e colocou-se novamente em postura de luta, o que fez com uma de suas costelas estalasse, mostrando mais uma fratura - E me perdoe por ter me demonstrado fraco anteriormente. Não sei ao certo quem você é, mas, saiba que aquele golpe não se repetirá!
_ Coragem não lhe falta, garoto, mas, infelizmente, essa ingenuidade irá causar a sua morte! - sem se importar muito, ele soltou o pescoço de Hêstia, largando-a no chão da sala, e avançou na direção de Fenrir. Sua velocidade agora não era tão rápida quanto no momento em que agarraram as duas lâminas, mas, ainda superava um humano comum facilmente.
Atravessar a sala foi fácil para Diaz, e ao chegar a um metro de Fenrir, ele armou um soco com a mão direita, que buscava acertar o rosto do guarda com toda a força que possuía. Mesmo que tivesse sido surpreendido pela velocidade dele, Fenrir já esperava algum tipo de ataque, então desviar daquele golpe não foi complicado.
Fenrir não tinha espaço suficiente para mover todo o seu corpo, então para evitar o soco, ele apenas tombou um pouco a cabeça, o que fez com que o punho de Diaz passasse direto, e afundasse na parede atrás dele.
_ Agora é a minha vez! - com uma maestria impecável, ele jogou sua espada do chão ao ar usando de seu pé esquerdo, e afastou um pouco para lado enquanto a agarrava no ar. Rapidamente, ele ergueu a lâmina com ambas as mãos e, mirando o braço esticado à sua frente, desceu a espada visando um corte único.
_ Boa tentativa, mas é uma pena... - a espada travou novamente na névoa que cobria Diaz, mas, dessa vez, ele viu no olhar de Fenrir, um brilho de coragem e agressividade.
Fenrir não vacilou diante o pequeno contratempo, principalmente, porque já esperava que aquilo acontecesse novamente, mas, dessa vez, ele estava mais calmo então agora conseguia usar suas habilidades com mais facilidade.
_ Blutklinger! - ao quebrar um pequeno recipiente de vidro que estava escondido dentro da manga de seu uniforme, ele fez com que um líquido meio avermelhado escorresse pela lâmina negra da espada, que começou a ganhar tons avermelhados que se pareciam com ferrugem no começo, e logo depois, com sangue fresco.
(Blutklinger \= lâmina de sangue )
Após inclinar a espada, o suficiente para que ela deitasse horizontalmente no braço de Diaz, Fenrir deslizou a lâmina por sobre o membro, arrancando a superfície da pele facilmente, e quase levando junto a cabeça dele.
_ Você é forte, garoto! - Diaz havia se esquivado com facilidade do golpe, mas isso não impediu que a ponta da espada criasse uma linha fina de sangue em seu pescoço. Dando dois passos para trás, ele se colocou em uma posição de luta, com os braços erguidos na frente de seu rosto, e com o olhar que buscava provocar Fenrir - Rezo para que não tenha sido apenas um golpe de sorte, garoto!
_ Por favor, não me chame mais de garoto, pois já fui apresentado a você! - Fenrir também adotou uma postura de luta, com as pernas um pouco separadas e a espada levemente inclinada na altura de seu peito, apontada para o homem na sua frente - E você não vai mesmo se apresentar? Ou será que posso te chamar de Caçador, assim como Hêstia?!
_ Contanto que sua língua não perca o controle, pode me chamar como preferir!
_ Eu sei que o papo parece muito bom, e vocês já são quase amigos, mas, acho que o seu nome é o ponto menos importante aqui! - Júpiter estava com as mãos nas cinturas, enquanto suas lâminas giravam ao seu redor. Ela encarava Diaz com um olhar curioso mas, ao mesmo tempo, sério. - O que você fez com o meu prisioneiro?
_ Digamos que ele estará mais seguro enquanto eu estiver no controle!
_ Exatamente o que é você?
_ Você não acabou de dizer, que minha identidade não é relevante?
_ Eu me lembro de dizer o seu e...
_ Deixe-me fazer uma observação, Júpiter, o nome é um aspecto na identidade de alguém, pois normalmente, é dado no momento da criação de algo ou alguém, representando assim, tudo aquilo que se estima daquilo criado, entende? Por isso, eu também tenho uma pergunta, qual seria seu nome verdadeiro Júpiter?
_ Já fazem alguns anos que abandonei meu nome, recebendo o título que agora me representa. Para algumas pessoas, isso pode parecer errado da minha parte, mas, para mim, foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
_ Então seu passado deixou feridas que você não gosta de se recordar?
_ Infelizmente, você está certo. Mas, no aqui e agora, apenas a sua identidade importa, então eu pergunto novamente, Caçador, o que ou quem é você?
_ Se você deseja saber, então primeiro tente sobreviver e, em seguida, pergunte para o garoto! - tendo dito aquilo, ele avançou para cima de Júpiter rapidamente, já preparando um soco enquanto se movia.
Felizmente, ele foi acompanhado por Fenrir, que se movia tão rápido quanto ele, e derrubado, por um chute que recebera do guarda, que acertou a lateral de rosto. Diaz caiu alguns metros para o lado, e mesmo que não houvesse recebido qualquer tipo de dano graças a névoa, o impacto do chute foi o suficiente para dissipar momentaneamente a névoa no local, que, após alguns segundos, voltou a cobrir todo o rosto dele.
_ Belo chute, Fenrir! É incrível saber que até mesmo nessa época ridícula, existem pessoas como você! - ele estava se levantando enquanto seus olhos encaravam Fenrir, com um leve brilho avermelhado.
Diaz não pode se levantar completamente, já que teve de rolar para trás, se esquivando de duas das lâminas de Júpiter que desceram da altura do teto, e acabaram cravadas no chão de pedra.
_ Eu esperava uma luta um pouco mais justa, tendo em vista que vocês são "oficiais da lei"! - agora já de pé, ele moveu seu olhar para Júpiter, com um sorriso de deboche em seu rosto.
_ Se nossas posições se invertessem, o que você faria?
_ O mesmo que você fez, ou pior!
O caçador não deu tempo para que ninguém o respondesse, avançando novamente em direção a Júpiter mas com uma diferença em seu ataque. Em sua mão esquerda, a névoa tomou forma de garras parecidas com as de um grande urso, e, mesmo que fossem quase transparentes, se mostraram bastante resistentes ao acertarem uma das lâminas de Júpiter que vinha em sua direção.
A lâmina acertou aquelas garras e ricocheteou, como se acertasse uma parede de aço maciço, fazendo um barulho alto de lâminas de chocando uma com a outra.
Fenrir se colocou entre os dois, pronto para receber o golpe com sua espada empunhada. O golpe veio de cima para baixo, e foi possível ver faíscas surgindo, quando aquelas garras encontraram a lâmina da espada.
O peso do ataque do Caçador era enorme, e fez com que Fenrir se ajoelhasse com uma das pernas para suportar o impacto. As garras continuaram pressionando a espada para baixo, fazendo que Fenrir precisasse usar mais força do que esperava para segurá-las.
Enquanto Fenrir se esforçava para segurar aquelas garras, todas as cinco lâminas flutuantes de Júpiter deram a volta na pequena sala, e partindo do ponto oposto ao qual estavam, voaram em direção as costas de Diaz, atravessando facilmente a névoa e perfuraram suas costas, retalhando o uniforme e a carne, devido a rotação de cada uma.
Mesmo com a própria carne sendo rasgada, Diaz não parou de forçar suas garras contra Fenrir, pelo contrário, ele pareceu adquirir ainda mais força.
_ O que aconteceria com Júpiter... - ele encarava Fenrir com um olhar psicopata, mas, assim como os olhos cinzas de Diaz começaram a ganhar um leve brilho avermelhado, eles se direcionaram para Júpiter, acompanhados de um sorriso perturbador - ... Se uma de suas luas fossem destruídas?
Quando Fenrir começou a sentir o peso daquelas garras diminuindo, um soco acabou o pegando de surpresa. O punho esquerdo de Diaz acertou o rosto de Fenrir, que foi arremessado para o lado, batendo novamente em uma das paredes.
_ Seu merda!!! - o rosto de Júpiter agora mostrava uma raiva que ela não esboçava já fazia alguns meses, e um de seus olhos começou a brilhar em uma tonalidade laranja, enquanto o outro se tornava mais negro do que já era.
As lâminas que dilaceravam as costas de Diaz, se desgrudaram dele e voltaram para sua posição inicial em volta de Júpiter, enquanto pintavam de vermelho sangue todo o chão ao redor. Logo que cada uma fez um movimento circular em volta dela, todas se moverem novamente, na direção de Diaz, seguindo sentidos diferentes.
Usando das garras de névoa, ele se defendeu de três delas e se esquivou de uma, mas, a última o acertou bem no nervo atrás do joelho, fazendo com que perdesse o movimento da perna instantaneamente.
_ Você não tem medo de matar o seu "amigo"? - ele estava se esforçando para se por de pé novamente, mas aquele ferimento colocou um enorme obstáculo em sua tentativa.
_ Contanto que você não morra de verdade, eu acho que vai dá pra consertar tudo isso!
_ Você acha? - ele soltou um sorrisinho de deboche, e se colocou ajoelhado sobre a perna ferida.
_Tenho certeza de que podemos curar todos esses ferimentos!
_ Obrigado! - a expressão no rosto de Diaz, mostrava um alívio genuíno - Então eu não preciso me segurar tanto!
Júpiter queria questionar aquela afirmação, mas não teve tempo para isso.
Como se nada tivesse acontecido consigo mesmo, Diaz se levantou, totalmente equilibrado sobre suas duas pernas, e correu novamente na direção de Júpiter. Ela apenas reagiu por impulso, e ergueu os braços na frente do rosto, que logo foram acertados pelo punho esquerdo de Diaz, que parecia mais uma pedra endurecida pelo tempo.
Júpiter não caiu com o golpe, e apenas deu alguns passos para trás para minimizar o impacto. Agora que ele estava a um passo dela, ela podia ver perfeitamente, aquela névoa formando um novo nervo atrás do joelho atingido. Naquele momento, parecia mais um músculo improvisado em uma emergência, mas, assim que a névoa se concentrou mais naquele ponto, cores começaram a surgir, logo, fazendo com que a névoa se tornasse um músculo de verdade.
_ Saiba, Júpiter, que eu estou bastante surpreso!
_ Eu digo o mesmo, Caçador! Nunca vi uma benção parecida com a sua!
_ Benção?
_ Isso! Essa névoa ao seu redor, é o que nós chamamos de benção, assim como a minha habilidade de manipular essas adagas. - ela apontou para o local do joelho cortado, que agora estava ganhando uma nova carne graças a névoa, e logo em seguida, apontou para uma de suas adagas que rodopiava em uma velocidade incrível um pouco acima do seu ombro.
_ Faz até um pouco de sentido, se levar em consideração a referência aos deuses.
_ Sim. Algumas bençãos fazem referência direta aos deuses, e, como se estivéssemos ganhando os próprios poderes deles, acabam que nos tornam capazes de coisas fora do normal.
_ Eu estava confuso no começo, mas, parece que esse termo se refere a todo poder dado por um deus. Eu odeio o fato de que em cada época esse nome muda!
_ Como assim cada época?
_ Alguns séculos atrás, as pessoas se diziam semideuses, em outros, segen.
(Segen: benção)
_ Então, está me dizendo que você existe já fazem séculos? Mesmo que isso seja verdade, como você conseguiu?
_ Acho que a melhor definição para isso, seria que eu fui "abençoado" por um deus!
Os dois estavam conversando de forma casual, mas não abaixaram a guarda nem mesmo por um segundo.
_ Você tem alguma pergunta relevante para me fazer? Meu tempo para agir nesse corpo já está quase acabando.
_ Curioso! Mas acho que eu só queria saber seu nome. O nome verdadeiro!
_ Creio que irei te encontrar mais algumas vezes, então acho correto da minha parte me apresentar de verdade, não é mesmo? - ele relaxou o corpo, e enquanto se curvava formalmente, se apresentou com a mão aberta por sobre o peito, imitando a saudação dela. - Meu nome é Sísifo, o homem que enganou a própria morte, e é um prazer conhecê-la, senhorita Júpiter.
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Atualizado até capítulo 21
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