_ Os deuses... Será que existem mesmo, Caçador? – o jovem garoto, de olhos escuros e sem emoção, matinha uma conversa peculiar com aquela sombra, já que por não acreditar no mundo sobrenatural, apenas concordou que enlouquecera repentinamente.
_ Seria insólito se minha resposta fosse negativa, porque assim, como eu existiria? – a voz da sombra possuía um certo eco em sua entonação, o que contrastava com sua aparência de forma fantasiosa.
_ Para uma criação da minha mente, você parece tão real. – o jovem não podia acreditar que aquela sombra era real, sempre foi tratado como um louco em sua vida, e finalmente, aceitara sua condição.
_ Posso saber, por qual motivo em especifico, você não consegue ver a verdade?
_ Verdade? – o jovem riu, era muito irônico ser confrontado por uma alucinação sobre o que é verdade ou não. – Sinceramente, as pessoas ditam o que é verdade ou não, como se elas mesmas fossem esses deuses nos quais acreditam.
_ Você não imagina que essas pessoas, podem apenas está obedecendo as ordens desses deuses?
_ Me diga, Caçador, por que eu, um humano fraco e mortal, deveria sofrer por um deus perfeito e imortal?
_ A questão não é se você se acha forte ou fraco, nem as dores que você é obrigado a suportar por esse deus...
_ Então, qual seria?
_ A recompensa, a glória e o sucesso, que você vai alcançar no fim do desafio.
O jovem ria, debochando daquela frase, pois não havia sentido naquilo tudo.
_ Sério? Pensei que você seria um pouco mais racional, já que é uma alucinação minha!
_ É uma pena, você não é ele, mas, por algum motivo, é tão parecido, Deimos!
_ Parecido? Com quem, Caçador?
_ Me desculpe, eu não posso dizê-lo, mas, não se preocupe, essa é apenas uma observação minha!
_ Por que você insiste em agir como se fosse real, Caçador? – Deimos mantinha seu sorriso de deboche, sem aceitar a existência daquele ser em sua frente.
_ Você acredita profundamente que é o único que pode me ver?
_ Alguns filósofos afirmam que em uma sociedade padrão, um grupo de indivíduos pode desenvolver as mesmas alucinações!
_ Isso é sério? Você não consegue aceitar a existência de seres capazes de manter o equilíbrio do mundo, mas acredita nas teorias loucas de um bêbado vagabundo?
_ Equilíbrio? Tem certeza, de que não é você o louco aqui, Caçador? Me diga, o que esses deuses fazem mesmo?
_ Você decidiu se manter cético, Deimos, mas até mesmo você, a personificação do terror, tem conhecimento sobre os deuses.
_ O significado do meu nome não me define, e ser abençoado ou escolhido por um deus, é a pior das maldições existentes!
_ Então você aceita que foi abençoado por um?
_ Eu conheço a profecia sobre meu nascimento: dentre cinco crianças nascidas em meio ao maior incêndio florestal já visto, apenas uma sobreviveu, ao ser salva pelo deus que personifica o terror, Deimos.
_ E, em forma de agradecimento e adoração, você recebeu o nome do deus!
_ Você acha mesmo que eu gosto disso?
_ ?
_ Eu odeio esse nome pelo qual sou chamado todos os dias, pois me lembra dessa história e da cruel verdade por trás dela!
_ Qual seria?
_ Não finge que não sabe, Caçador! Você mesmo afirma conhecer os deuses, então como não conheceria a verdadeira história? – novamente, Deimos riu, mas sua risada não era apenas irônica, como também entristecida – É até engraçado se parar pra pensar! Naquele “fatídico” dia, a floresta em volta de nossa aldeia, foi consumida por um intenso fogo que surgiu a partir de um raio que caiu sem motivo algum. Dezenas de pessoas e animais morreram queimadas e muitas casas foram destruídas no incêndio e todos aqueles que não podiam andar, foram abandonados em meio à confusão, incluindo minha mãe, uma das cinco mulheres que estavam dando a luz no momento. Era quase impossível que ela escapasse viva!
_ Mas ela escapou com apenas algumas queimaduras em seu corpo, carregando um bebê consigo, tudo isso graças a Deimos!
_ Se não fosse por Deimos, eu não seria o único a nascer naquele dia! – Deimos se exaltou, deixando sua voz soar agressiva, o suficiente para mostrar uma raiva reprimida.
_ Então você realmente sabe a verdade!
_ Sim, eu sei Caçador! Eu sei que naquele dia, um certo deus entediado, roubou e brincou com um dos raios de Zeus! Esse deus, por “acidente”, incendiou diversas aldeias da mesma forma! E não fez nada para ajudá-los, e adivinhar o porquê!
_ Porque ele era Deimos, o deus do terror, e por isso, quanto mais medo existir no mundo, mais seu nome será exaltado diante os mortais!
_ Eu me pergunto, como Zeus permitiu que um de seus raios fosse roubado?! Como um deus pode ser tão ignorante para com seus deveres? E por que nós, humanos, devemos pagar o preço por cada erro desses seres tão “perfeitos”?!
_ Eu posso afirmar que os deuses erram...
_ Mas não imploram por perdão!
_ Eles compensam as perdas!
_ Eles encobrem a verdade, mudando aquilo que é real!
_ Os deuses regem esse mundo!
_ Se eles realmente se importam com esse mundo, por que eles não vêm morar aqui? Porque assim veriam, o quão precária é a nossa situação, e o quanto sua ganância destrói tudo aquilo que tentamos construir! Sinceramente, Caçador, eu prefiro não acreditar na existência de deuses tão falhos! Ou você tem alguma coisa a dizer que possa mudar minha visão?
_ ...
_ Por que você não responde agora, Caçador?
A sombra se manteve em silêncio. Seus olhos, que brilhavam intensamente em sua direção, começaram a se apagar lentamente.
_ Você já vai, Caçador? Pensei seriamente que iria me matar!
_ Como eu disse, Deimos, eu te assemelhei ao deus da Morte, mas, felizmente, você não chega nem perto do que ele realmente é! – a sombra se dispersava vagarosamente e, assim como seu olhar vermelho, sua voz também parecia se distanciar.
_ E agora, Caçador? Você vai para onde?
_ Longe. Muito longe daqui, em busca do verdadeiro!
_ E a mim, o que resta?
_ A solidão e a morte.
_ Você não vai se despedir de mim? – o jovem sorriu, novamente de forma irônica, deixando evidente seu deboche.
_ Sinceramente, Deimos, eu espero que você morra da forma mais violenta possível, ou então, que Hades te busque pessoalmente!
_ Obrigado, Caçador. – Seu sorriso continuava debochado – E cuidado em seu caminho! Você pode até não morrer, mas, Thanatos, com certeza pode!
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Atualizado até capítulo 21
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