O corvo

Simbolicamente, o corvo é relacionado com o mau agouro, a morte, o azar e com outros elementos obscuros e sombrios. Esse foi o nome que demos à missão para Valentino, pois em minha vida foi exatamente o que ele significou. Mas como tudo que existe de ruim, também há o lado positivo, como o corvo que também representa sabedoria. Valentino me deu a vida através de Damion.

Estávamos todos empolgados. Meus superiores nos EUA estavam satisfeitos com o grande progresso. Durante anos, várias agências tentaram prender o Fantasma e acabar com a máfia italiana sem sucesso. A missão estava sendo um sucesso. Pela primeira vez, um agente tinha conseguido ver a cara do Fantasma, Senhor Diosezar. Estávamos dando passos significativos. Tinha conseguido me infiltrar e fui convidada para a fortaleza do Fantasma, mesmo tendo ido com os olhos vendados, pude cronometrar a distância da cidade e fazer um cronograma. Os agentes de campo estavam trabalhando nisso, pois sabiam que era uma vinícola.

Ao sair de lá, voltei ao escritório. Valentino ligou compulsivamente, mas eu não atendi propositalmente, deixei cair na caixa postal. No fim do dia, fui à escola de Damion, o levei para casa e esperei que Valentino batesse à minha porta. Como disse, nós, agentes, fomos treinados para prever o próximo passo dos nossos inimigos, e assim foi feito. Por volta das vinte horas, o interfone tocou. Fingi surpresa e esperei ele insistir para subir e permitir. Nessa ocasião, já sabia que ele tinha ido ao laboratório pegar o teste de DNA, pois Miguel já havia me comunicado.

Ele deu dois toques na porta e eu abri, vestindo somente um roupão por cima de uma camisola.

- Entre, já ia dormir.

Desculpe, vim aqui, você não atendeu minhas ligações, e eu realmente precisava falar com você.

- Estava no meu trabalho, não posso me dar ao luxo de ficar atendendo o celular. Acredito que queria saber o porquê fui à casa de seu avô.

- Também.

- Mamãe, você não vem me colocar para dormir?

- Oi Damion, como você está?

- Oi amigo da mamãe.

- Sim, filho, já vou te colocar para dormir.

-Valentino, preciso colocá-lo para dormir, você não chegou em uma boa hora.

- Posso esperar, ou...

- Você quer me colocar para dormir?

-Se sua mãe deixar...

- Pode, mamãe?

-Tudo bem.

- Então me leva até seu quarto.

Foi estranho para mim. Sabia que em algum momento isso ia acontecer, era o plano, mesmo assim, foi estranho. Não queria que meu filho sofresse com uma separação brusca do pai no final.

- Quarto legal você tem, garoto, cheio de letras musicais.

- Eu escolhi, e minha mãe colou.

-Tinha um muito parecido quando criança.

Poucos minutos depois, Valentino voltou. Damion dormiu rapidamente.

- Não sei por onde começar, Maitê.

- Que tal pelo começo?

- Enfim, não sei se vai adiantar eu te falar que não sabia que você estava grávida. Foi armação do meu pai. Se eu soubesse...

- Se você soubesse o quê? Eu fui até sua casa para te contar. Você entrou com outra mulher agarrada, me viu sair correndo, não se deu ao trabalho de ir atrás de mim. Mandou seu pai resolver o problema. O problema não foi resolvido, ele está aqui. E vai fazer quatro anos, e pelo jeito, deixou de ser um problema, né?

- Maitê, nada que eu te falar mudará o que você pensa. Um dia irei te provar que fui tão vítima quanto você. Só vim aqui para te prometer que nada acontecerá com você e com Damion. Isso eu lhe garanto e te pedir para não trabalhar para minha família. Você não sabe do que são capazes, você não imagina no que está se metendo.

- Não posso recusar trabalho, Valentino. E não trabalho para sua família. Eu trabalho para um escritório de Advocacia que representa o interesse da sua família. Eles pagam, eu faço meu trabalho, e fim de papo. Não posso me dar ao luxo de escolher trabalho, tenho um filho para sustentar.

- Sobre Damion, quero ajudar, pagar por tudo dele.

Agradeço, mas ele sempre foi responsabilidade minha. Não precisamos da sua caridade. Meu filho até agora viveu muito bem sem a caridade de ninguém.

-Não é caridade, é o direito dele.

-Não Valentino, não é o direito dele. Seria se você fosse o pai dele, e nós dois sabemos que não é. Pai é quem cria, quem dá amor, e não só o dinheiro. E você perdeu o direito de ser pai dele anos atrás. Estamos muito bem assim, e prefiro desta forma.

- Maitê, você está sendo injusta. Eu nunca tive escolha. Eu quero ser o pai dele agora. Por favor, me deixe fazer parte da vida dele.

- Pra quê Valentino? Sou apenas uma vaca mentirosa. Vamos deixar as coisas como estão. Não quero meu filho misturado com sua família. Preciso protegê-lo.

- Nem eu quero que meu pai saiba quem é Damion. Não quero que me aproxime dele. Um dia lhe direi tudo sobre minha família, tudo que sempre fugi, e tenho medo.

- Então me diga, Valentino.

- Não posso, pela segurança de vocês dois.

- Valentino, é melhor você ir embora. Preciso descansar. Amanhã terei um dia cansativo de audiências.

- E o seu sonho de ser delegada do FBI?

-Morreu quando me vi sozinha em outro país, com um bebê nos braços. E o seu de ser um grande cantor famoso?

- Morreu quando o grande amor da minha vida sumiu, me deixando sozinho. Destruindo tudo que tinha de bom dentro de mim, restando apenas mágoas, dor e uma imensa vontade de poder, dinheiro e vingança.

- Ah, conta outra. Homens fracos, sempre jogando a culpa nos outros.

- Você tem razão. Ele tem meu dom para a música, meu rosto e seus olhos. Você só esqueceu de uma coisa. Ele puxou a inteligência e a coragem da mãe. Não é fraco igual ao pai. Se cuida, Maitê.

- Você também, Valentino.

- Você fez um ótimo trabalho com nosso filho. Obrigado por isso. Ele será um homem muito melhor que eu, um dia. Se possível, diga a ele que o pai dele sente muito orgulho dele.

- Tchau, Valentino.

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