Sangue do meu sangue, carne da minha carne

"Fiquei atordoado com aquele menino. Mal conseguia me concentrar no trabalho e minhas noitadas com mulheres, que eram sagradas, perderam a graça. Não consegui tirar Maitê da minha cabeça. Parecia uma macumba. E ainda tinha aquele garoto que era realmente a minha cara, com os olhos de Maitê. Nem precisava do teste de DNA, mesmo assim corri no laboratório quando me ligaram dizendo que o teste estava pronto. No laboratório, a recepcionista pediu para que eu aguardasse. Sentei na cadeira e minhas pernas tremiam. A ansiedade tomou conta de todo meu ser. Meu coração já sabia que aquele garoto era meu filho, mas precisava ter certeza absoluta."

Senhor Valentino, aqui está.

Obrigado.

"Segurei aquele envelope com tanta força que fui direto para o meu carro. Tentei me recompor antes de abrir. Respirei fundo e finalmente rasguei o envelope. O resultado foi positivo, como era esperado. Damion era meu filho com Maitê. Agora, minha cabeça ficou atordoada. Se ela estava grávida, por que foi embora? Se pediu dinheiro ao meu pai para tirar o bebê, por que não o fez e me culpa por ameaçar? Algo está muito errado nesta história. Além disso, o senhor Dom me expulsou feito cachorro quando fui procurá-la. E ela me disse que não usou um centavo do dinheiro que meu pai deu a ela. Essa conversa está muito mal contada.

Fui direto à mansão do meu pai. Odeio ir lá. Odeio ter que olhar para a cara daquela mulher dele, do filho dela e, principalmente, do dele. Mas preciso entender o que aconteceu."

Você aqui.

Bom te ver também, querida madrasta. Meu pai está?

No escritório.

Que bom, Valentino. Veio almoçar conosco?

Não, pai. Vim perguntar uma coisa a vocês dois.

Antes de você perguntar, quero agradecer por ter fechado os olhos para a contabilidade da empresa.

Como eu disse ao vovô, foi a primeira e a última.

Pergunta logo.

Claro, madrasta querida. Também adoro a sua presença. Vocês se lembram de Maitê? Minha pergunta é simples: o que ela veio fazer aqui anos atrás?

Pedir dinheiro para ir embora do país. Disse que estava com você por dinheiro e que, se déssemos a quantia que queria, sumiria da sua vida. Se não déssemos, casaria com você e arrancaria de todo jeito. Decidimos dar para que ela não te fizesse sofrer.

Tem certeza, né pai?

Claro que sim.

Ela não veio dizer que estava grávida, e você deu dinheiro para ela tirar o bebê, a expulsou e a ameaçou?

Claro que não.

Pai, você tem certeza? Minha querida madrasta?

Ela te disse isso? Estefano, você não disse que ela tirou o bebê e foi embora do país com o dinheiro que você deu?

Obrigado, querida madrasta. Ah, pai, deveria verificar o seu extrato. Ela não descontou o seu cheque, não usou um único centavo do seu suborno do seu dinheiro sujo. E não se preocupem, ela não me quer e nem me quer na vida do meu filho. Ah, surpresa, seu sangue nobre está misturado com o sangue imundo e pobre dela. E só um aviso: fiquem longe dela, longe do meu filho. Se um arranhão acontecer neles, eu mato vocês. Lembrem-se, pai, seu sangue ruim corre na minha veia. Sou sangue do seu sangue e o meu filho é sangue do meu sangue, carne da minha carne. E por ele, uso todo o poder que o seu nome e sangue me deram para acabar com você e toda essa família. Destruir, extinguir da face da terra esse sobrenome. Entrego à facção, mesmo que com isso acabe como vocês, preso ou morto. Estão todos avisados, não mexam com eles.

Espera, Valentino, eu tenho um neto, filho seu?

Você não tem nada, como eu também não, graças a vocês dois.

Sai dali transtornado. Culpei, por anos, o amor da minha vida por minha amargura. Me senti traído. Quis vingança. Me transformei em um homem que sempre desprezei, enquanto a maior vítima sempre foi ela. Foi humilhada por ser de família humilde, escorraçada, ameaçada, forçada a abortar.

Enfrentou tudo e a todos, foi para um país desconhecido, teve um filho sozinha, lutou bravamente para criação, educação, alimentação e vesti-lo. E percebo, no olhar dela, que ela continua sendo uma pessoa boa. Enquanto eu tinha tudo fácil na vida, me transformei em um homem cheio de rancor, agressivo. Usei várias pessoas para obter poder, mulheres para conseguir dinheiro.

Sou um crápula. Como vou olhar para Maitê e para o meu filho?

Naquele instante, tudo o que me importava era falar com ela. Não me importava o que ela iria dizer. Liguei imediatamente para ela. Ela atendeu, me identifiquei e ela me pareceu surpresa. Pedi que ela almoçasse comigo. Ela recusou categoricamente. Então, pedi para meus homens, que estavam seguindo, que me dissessem onde ela estava. Quase cai duro quando me disseram que o motorista do meu avô tinha ido buscá-la no trabalho dela e a levou para a vinícola do velho Diosezar.

Me arrepiei todo. Não conseguia imaginar o que aquele velho maldito queria com ela. Será que ele descobriu sobre ela e Damion? O que ele queria com os dois? Não podia deixar que nada acontecesse com os dois. Fui o mais rápido que pude para a vinícola do velho mafioso que se diz meu avô. Ele é o grande fantasma por trás da máfia italiana. Nenhum tráfico acontece sem que passe pelas mãos dele. Interpol, FBI, todos querem pegá-lo. Só que ninguém sabe o seu verdadeiro nome, só o conhecem como o Fantasma. Só mesmo a nossa família e os poderosos da facção sabem quem ele é e o porquê do interesse repentino dele em Maitê.

Valentino, o que fazer aqui?

Preciso falar com urgência com meu avô.

Seu avô está ocupado, em reunião de trabalho.

Mendes, sem essa. Preciso falar com meu avô.

Quem está aí, Mendes?

Desculpe, senhor Diosezar. É o seu neto Valentino.

Deixa-o entrar.

Valentino, o que fazer aqui? Que eu saiba, não te convidei.

Sei que só recebe quem convida, mas precisava te ver.

Algum problema?

Não exatamente. Tive um sonho com o senhor, e o celular que o senhor me ligou o número não existe.

Por causa de um sonho, você ousa vir até aqui?

Sim, senhor. Fui um tolo.

Até que enfim! É bom que eu te apresente logo a nova advogada do grupo Estanescos. Ela fez um ótimo trabalho em um processo particular. Tanto que quis conhecê-la pessoalmente e a convidei para almoçar.

Oi, prazer!

Prazer!

Senhor Estanescos, acho que terminamos por aqui. Preciso voltar à cidade. Tenho que analisar os novos documentos que me forneceu para ter a melhor saída.

Está vendo por que a contratei? Eficiência e profissionalismo. Foi um prazer, senhorita Bertinazze.

Ela saiu. Meu coração quase parou.

Você é um moleque sentimental, mesmo. Nem imaginava que você tinha um pingo de sentimento por mim. Colocou a minha segurança em risco, seu moleque.

Desculpe, vô.

Olhe essa moça. Não demonstra nenhum sentimento. Ela é profissional, objetiva, direta. Não faz perguntas, vá direto ao ponto. Coloca o preço nela, executa e tchau. Gosto deste tipo de pessoas, que não se importam com detalhes.

É,ela parece bem competente. Estou indo, v??. Desculpe incomodar.

Vê só se volta aqui quando eu te chamar.

Não se preocupe, não cometerei esse erro novamente.

Assim espero.

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