A surpresa

Desde que saíram da casa de repouso, Charles estava com uma cara de criança que aprontou. Foram todos para o aeroporto. As malas estavam no carro desde antes de visitarem o Sênior.

Jr: Você aprontou algo! Está na sua cara! Fala logo o que é.

Charles: Não adianta ficar forçando a barra. Logo chegaremos ao aeroporto. Espero que estejam todos aqui. Marquei um horário que seria bom para todos. Vamos chegar no começo da noite. Faremos a entrada e depois iremos jantar todos juntos.

Helena: Além da família de Antônio e seu pai, quem mais foi convidado para essa final?

Charles: Você verá! Tenha calma e paciência. Já estamos chegando ao aeroporto. Logo estaremos embarcando para a sua vitória.

Jr: Eu sabia que estava aprontando algo. Eu conheço o filho que coloquei no mundo.

Helena: Amor, não assusta desse jeito. O que você fez? Quem vai conosco? Vamos de helicóptero para o evento?

Charles: Que pessoal mais afobado! Olha o nosso grupo lá na frente.

Helena avistou Heitor e Manuela, Antônio e família, Hélio e Augusto. Mais atrás estavam Thiago e a mãe.

Helena correu para abraçar a todos.

Helena: Que bom que estão aqui comigo! Obrigada, meus amigos.

Nesse momento, encosta mais um carro e dele descem James, Miranda e Maria.

Charles: Todos preparados? Vamos embarcar na nossa nave.

Dois funcionários começaram a colocar as bagagens no compartimento próprio. Uma comissária de bordo os conduziu para dentro do jatinho. Eram 20 lugares, mas apenas 15 passageiros no momento. A aeronave era novinha em folha. Tinha o logo da empresa Olinder.

Jr: Essa aeronave é da empresa?

Charles: Sim. Os últimos contratos foram lucrativos o bastante para que arriscasse a adquirir um desses. Eu queria muito já ter um desses quando ganhei a premiação. Assim teria levado os amigos comigo. O trio de advogados não pode vir. Estão com um parente internado na UTI desde a semana passada. Câncer terminal.

Helena: Vou rezar por misericórdia para essa família. Deus pode operar milagres, mas também pode confortar os corações.

Todos embarcaram e ficaram admirados com o conforto do jatinho. 20 lugares com poltronas confortáveis, dois banheiros e uma cozinha. A cabine equipada com tecnologia de ponta. Dois comissários de bordo. Charles não mostrou o que tinha na parte de trás do jatinho. Todos acharam que acabava nos dois banheiros. A porta do final, imaginaram que fosse do compartimento de carga.

O capitão veio cumprimentar a todos e desejar uma boa viagem. O co-piloto ficou na cabine verificando os instrumentos. Estavam saindo do hangar em direção à pista determinada pelo controle de tráfego aéreo.

Todos apertaram os cintos e logo o avião estava decolando.

Maria segurava as mãos de Miranda com os olhos fechados. A comissária de bordo trouxe água para ela acalmar os nervos.

Quando a comissária avisou que poderiam abrir o cinto e andar livremente, Helena saiu da poltrona e foi conversar com Maria.

Aos poucos a cozinheira foi ficando mais calma. Lúcia e Manuela também vieram conversar com ela.

Miranda estava com as mãos vermelhas e doendo, pelo aperto de Maria, mas não falou nada.

A comissária voltou trazendo um carrinho com sucos, frutas, chocolate e chá. Também tinha biscoitos, torradas com geleia e queijo branco. Nada de bebidas alcoólicas.

Helena serviu uma fruta e queijo para Carolina. Depois ela comeria em paz.

Jr: Aprendeu a gostar de queijo.

Helena: Sim. E apenas do branco. Já experimentou o muçarela, o prato, além do cheddar. Só gostou do branco mesmo.

Lúcia: Ela não toma suco?

Helena: Sim, mas só o suco natural da fruta. Nada industrializado. Sem corante ou conservantes.

Lúcia: Entendi. Já tem muita substância alergênica e cancerígena no mundo. Enquanto puder evitar, faz muito bem.

Helena: Na última reunião de pais que aconteceu na creche, eu falei que não quero a minha filha comendo besteira e tomando refrigerante. Se alguns pais não ligam para a saúde dos filhos, não é problema meu. Mas da minha filha, eu cuido. Algumas mulheres me chamaram de nova era, entre outras bobagens. Mas não ligo para xingamento. O mais importante é a saúde e o bem-estar de Carolina.

Manuela: A falta de cuidado dos pais com a saúde dos filhos é a razão de tantas doenças novas. Antigamente havia alergia, mas era a pelos de animais, poeira ou frutos do mar. Hoje em dia, aparece uma alergia atrás da outra. Sem leite, sem ovo, sem glúten, sem amendoim, sem frutos do mar, sem frutas cítricas, sem perfume, sem pelos, sem poeira, sem vida...

Helena: E ninguém liga para nada. Só consumindo enlatados, embutidos, industrializados, refrigerante ou refresco de pó. Nada saudável. Sei que as frutas levam pesticidas e agrotóxicos, mas são mais saudáveis que os industrializados.

Lúcia: Já existe um grupo grande que é partidário das coisas orgânicas.

Helena: Eu sei. Mas nem sempre dá para comprar os produtos orgânicos. Teria que comprar todos os dias. Eles não duram o mesmo que os outros produtos comercializados em grande quantidade. Eu tento mais no final da semana. Compro no sábado para comer até domingo. Assim, funciona bem.

Manuela: Fora que além de não durar muito, são bem mais caros que os outros.

Lúcia: Esse é o preço que pagamos por nossa saúde.

Miranda: O senhor Charles sempre foi bastante natureba, como dizem os amigos. Poucas coisas são industrializadas em casa. A maioria delas é natural. Até para fazer um pudim de leite condensado, temos que preparar o leite condensado caseiro.

Maria: Eu que o diga. E isso desde que a mãe morreu de câncer. Não gosta de coisas industrializadas. Prefere tudo feito em casa pelo pessoal da cozinha. E não acho errado não. Tem que cuidar da saúde. Nós funcionários é que saímos ganhando com isso. Nossa alimentação é a mesma dele. Comemos todos muito bem.

Miranda: E o padrão é o mesmo na empresa. As cozinheiras são todas treinadas para fazer as melhores comidas, com os melhores ingredientes. Não sei se alguma vez comeu no refeitório dos trabalhadores. Se tem strogonoff no refeitório dos graúdos, também tem no refeitório dos trabalhadores. Só não comem todos juntos, porque uns diretores acham humilhação comer juntos com trabalhadores.

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