Falando sobre maus tratos

Próximo do horário de saída da Carolina, ambos saíram do jogo. Tinha sido o último dos difíceis. Agora só tinham os fáceis para treinar.

A pequena chegou correndo feito um furacão. Queria saber o que iriam fazer naquele dia.

Helena: Carolina, calma!

Carolina: Ina qué bicino.

Charles: Filha, você quer o teatro hoje de novo?

Carolina: Ina qué.

Helena: Tudo bem. A mamãe entendeu que Carolina quer ver os bichinhos falando.

Heitor entrou com Manuela.

Heitor: Essa menina gostou muito do teatro. Vocês estão fritos.

Charles: Boa tarde, dona Manuela!

Manuela: Boa tarde! Pelo que vejo, vão ter que arrumar o teatro novamente.

Helena: Se nos ajudarem distraindo a pequena furacão, podemos montar novamente. Está na brinquedoteca.

Charles: Vamos lanchar? Já está na mesa. - Chamou os dois mais velhos e levou Carolina com ele.

Helena rapidamente pegou tudo que precisava. Deixou para trás os fantoches já usados e trouxe outra caixa vazia.

Helena: Vou subir rapidinho para trocar essa pequena. Já volto.

Helena subiu com Carolina e trocou a roupa e fralda. Desceram para lanchar. Carolina estava sentada no cadeirão e ganhou uma banana para comer. Os demais tomaram café ou suco. Comeram bolos, pães e queijo.

Carolina pediu novamente queijo.

Carolina: Ina qué.

Helena: Carolina quer queijo?

Helena cortou uma fatia de queijo e deu para Carolina. Ela comeu tudo. E pediu mais.

Carolina: Mama, qué quezo.

Heitor: Gostou mesmo de comer queijo.

Charles: Desde que comeu pela primeira vez, gostou muito.

Manuela: Que sorte a Carolina não ter nenhum problema de saúde! Assim a alimentação dela é completa.

Helena: Desde que comecei a introdução alimentar, faço exames periódicos, pois em cada idade um novo grupo de alimentos deve ser incluído e para evitar surpresas, já peço um teste de alergia. Até agora, tudo bem. Sem intolerância a lactose, ou ao glúten, ou alergia a amendoim ou frutos do mar. Nem a albumina do ovo.

Manuela: Graças à Deus! Sua filha é duplamente abençoada. Por não ter problemas de saúde e por ter uma mãe tão cuidadosa.

Helena: Obrigada! Eu tento fazer o melhor para Carolina. Éramos apenas nós duas, mesmo quando ainda vivia com o biológico. Ele não se interessava por ela. Ao contrário, vivia reclamando que dava atenção demais a ela e não para ele.

Manuela: Homem problemático, esse! Ainda bem que não estão mais juntos. Que horror! Não gostar dessa fofura é muita falta de caráter e amor no coração.

Helena: Exatamente. Ainda bem que descobri que era traída e que não era só comigo. Livrei-me de um encosto!

Heitor: Por isso que acredito plenamente que filhos são benção para o casal, mas nem todos nasceram para serem pais. Com pessoas assim, o número de crianças abandonadas só cresce.

Charles: É por isso que os orfanatos vivem cheios. Por pessoas assim, desnaturadas. Não amam o próprio sangue. Rejeitam a benção de Deus. Deveria haver menos burocracia para adoção.

Manuela: Mas hoje em dia está muito perigoso. Tem muita gente que quer adotar para fazer maldade. Nem todos que têm condições financeiras para adoção são confiáveis. E o sistema não permite que pobre adote uma criança.

Charles: Isso é um fato! Tem muita gente com condições financeiras que adotam para satisfazer suas necessidades patológicas. Isso está acontecendo cada vez mais. Não sou contra dois homens ou duas mulheres adotarem uma criança. Só sou contra a quem adota com intenção de fazer covardia.

Helena: Muitos pais pensam que criança não entende. Mas se prestarem atenção, as crianças se espelham nos adultos ao seu redor. Elas replicam nossas atitudes. Uma criança mal tratada na infância, raramente se tornará um adulto do bem. Precisa em algum momento, encontrar um bom exemplo para que deseje mudar o comportamento. Na maioria das vezes, só replicam o tratamento ruim que receberam e aprenderam.

Manuela: Isso é recorrente mesmo. Quem vive sendo mal tratado, não sabe como tratar bem os outros. E isso leva para a vida.

Helena: E está cada vez pior. As crianças mal tratadas tendem ao isolamento social. Alguns fogem dos maus tratos, acabam na rua virando viciados ou caem na prostituição. Muito triste isso.

Charles: Vamos para o teatro?

Todos foram para a sala. Dessa vez, James e Miranda foram os atores animais.

Carolina estava novamente encantada com os bichos falando. Batia palminhas para cada bichinho.

Depois de uma conversa tão pesada, era necessário descontrair um pouco. James era bastante cômico. Miranda era um pouco mais séria, mas dava para distrair com as vozes dos animais.

Quando Heitor e Manuela foram embora, estavam bem mais leves.

James: Quem já viu um Pato poliglota? Quac! Oinc! Au au! Miau! Muuu! Bé! Estou exausto! Eu falei um monte de coisas e ninguém entendeu. Quac! Vou embora! Cansei de vocês! Quac! Quem?

Carolina riu muito, mesmo sem entender direito. A voz esganiçada igual ao Pato Donald. Até Charles e Helena riram.

Quando chegou a vez da barata, Miranda cantou a música da história da dona barata que queria casar.

Miranda: Quem quer casar com a dona baratinha, que tem fita nos cabelos e dinheiro na caixinha?

James: Eu quero!

Miranda: Então diga como é que você faz.

James: Eu sou um cavalo, eu relincho. Riiiiinch!

Miranda: Vai me matar de susto. Some daqui!

James: Eu sou um bom candidato. Casa comigo?

Miranda: E como você faz?

James: Eu sou Dom Ratão. Meu som é suave e baixo. Squich!

Miranda: Finalmente vou me casar com o Dom Ratão!

Carolina caiu na gargalhada. Achou a história diferente e divertida. E não foram todos os bichos da história, apenas dois pretendentes.

Pararam para dar janta a Carolina, antes que ficasse tarde. Dessa vez, não desmontaram o teatro. Talvez Carolina quisesse mais no dia seguinte.

Deram a janta, subiram para fazer Carolina dormir. Ela dormiu rapidinho, nem precisaram contar histórias.

Desceram e agradeceram ao casal por terem tornado a noite tão divertida para todos. Jantaram também e subiram para namorar um pouco. Nessa rotina, estavam conseguindo dormir mais cedo e acordar para levar Carolina para a creche.

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