A maldição do sangue

Quando me dei conta, já estávamos na frente de uma cachoeira. Foi tudo muito rápido. Parece que apenas pisquei e estava nesse lugar belíssimo, embora eu não tivesse mínima ideia de onde era.

— Onde estamos? — Não lembrava de nenhuma cachoeira no livro. Será que tudo foi mudado com minha chegada?

— Estamos em um reino distante. Não podemos entrar na cidade. Os deuses fizeram uma barreira, para deixar todos aqueles que têm maldições fora. Apenas humanos normais vivem nesse lugar. Estamos na floresta, próxima a eles. A floresta das fadas. — Louis explicou.

— O que vamos fazer agora? — Perguntei. Estão querendo nos matar. Nosso filho, que ainda nem foi gerado, pode ser um monstro e eu nem sabia ainda se estava dormindo ou acordada.

— Primeiro, quero ouvir que história é essa que você não é daqui e distorceu a realidade. Do que aquela deusa estava falando? — Louis estava sério. Seu olhar parecia conter decepção. Não julgo. Eu escondi algo importante dele. Descobrir daquela forma deve ter sido terrível.

— Não te contei antes porque parecia loucura, nem eu estou acreditando no que está acontecendo ou sei. Pensei que você também não iria acreditar e tudo ficaria um caos. — Explique envergonhada.

— Sou todo ouvidos. Certeza que nada é mais louco que nosso filho, que nem foi fecundado ainda, está sendo esperado tanto pelo céu como pelo inferno com expectativa. Basicamente, daremos início ao fim do mundo se fizermos sexo. Tenho certeza que nada que você disser será mais louco do que isso. — Louis tentou me acalmar, mas só me deixou ainda mais nervosa.

— Bem. Resumindo, eu sei tudo que vai acontecer, porque tanto você como os outros, fazem parte do meu livro favorito. Não sei exatamente como tudo aconteceu ou como vim parar aqui. Não sei nem se isso é apenas um sonho ou morri e acabei reencarnando aqui, mas eu era uma estudante de medicina indo entregar meu trabalho de conclusão, quando sofri um acidente e acordei aqui. Não lembro de mais nada depois disso. — expliquei. Louis me olhava totalmente perdido. Que sentou em uma rocha enorme me olhando sério.

— Está dizendo, que tudo isso que vivemos aqui, faz parte de um livro que você leu? Quer dizer que você veio do futuro? — Louis perguntou chocado.

— Acredito que não, onde eu morava, não existem apenas humanos chatos e sem graça. Ninguém tem super poder ou força absurda, muito menos, magia. O livro era uma obra de ficção, embora os aspectos culturais que foram usados, sejam do passado, nada parece ser real. Já que nem mesmo os lugares citados existem. — Não sei o que é mais louco, reencarnação em um livro ou voltar para o passado.

— Você percebe quão louco e insano isso é? Toda vida e pessoas aqui fazem parte de uma história para divertir pessoas? Não, não tem como. — Louis colocou a mão na cabeça.

— Eu disse que você não iria acreditar, também acho que seja fora do real e bem difícil de compreender, mas é o que tenho. Se isso for real, se eu tiver realmente entrado no livro. Preciso arrumar uma forma de sair daqui e voltar para meu mundo. Se for um sonho, seria bom acordar. Já está ficando assustador. — Confessei. Não era assustadoramente feliz com minha vida no passado, mas eu lutei muito para ter tudo que eu tinha, para apenas abrir mão e viver em uma realidade assustadora.

— Você casou comigo pensando que era um sonho? — Louis me olhava bravo — Tem noção que eu só posso beber sangue de você agora? Não sei como isso se parece, mas para mim é super real. Eu nunca mais poderei beber sangue ou dormir com ninguém que não seja você. Por isso, perguntei várias vezes se você tinha certeza. E caso se afaste muito de mim, vai acabar morta. É como uma maldição, não se pode separar jamais quem foi unido pelo sangue. — Louis parecia nervoso. Eu não fazia a mínima ideia dessa maldição cheia de regras.

— Quem dizer que minha vida depende da sua? E se eu morrer? Você é um vampiro. É imortal. Como isso vai funcionar? Eu morro e na mesma hora você morre também? Quem inventou essa merda. — Gritei.

— Por isso há essa maldição. Vampiros são seres que se entregam completamente ao seu parceiro para uma vida inteira. Não posso me transformar em humano, mas posso me ligar a ele. Quando fizemos o pacto, sua expectativa de vida foi aumentada, como se os anos passassem mais lentos para você, mas não te transforma em uma imortal, quando você morrer, também morro junto. Essa é a maldição. Para que não haja separação nem com a morte. Faz parte da tradição, pensei que você soubesse — Louis andava tanto de um lado para o outro que já surgia um buraco.

— Então quer dizer, que mesmo que eu descubra uma forma de volta para casa, não poderei? Se eu fizer isso, irei morrer e te matar junto? E agora? O que fazemos? — Perguntei assustada.

— Precisamos encontrar uma forma de anular nosso casamento, assim, faremos o mesmo com o pacto. — Louis sugeriu.

— E sobre nosso filho assustador que não existe, mas já causou terror no céu e no inferno? — Questionei.

— Fácil. Sem sexo. Sem filhos. Sem burocracia. Sem fim do mundo. Todo mundo fica a salvo. — Louis disse. Eu tive uma crise de riso.

— Claro que não! Eu não vou virar freira. Imagina, nesse lugar não tem nem televisão ou internet, irei morrer de tédio. Não posso ficar sem sexo. Pense em outra coisa. — Eu mesma poderia encontrar ervas que previnam a gravidez e fazer a tabelinha.

— Você acha mais absurdo ficar sem sexo ou o fim do mundo? — Louis perguntou surpreso.

— Claro que é o sexo. E sabe o que estou pensando, podíamos começar isso agora, olha que lugar lindo! Será inesquecível. Que tal tirar minha roupa? Aqui está tão quente — Respondi me aproximando dele. Vou resolver um problema de cada vez, agora é a vez de relaxar.

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