Churrasco de lobo

Uma semana se passou desde que despertei nesse mundo totalmente diferente do meu. Por mais maluco que pareça, não tem como isso ser um sonho. Tudo estava acontecendo exatamente igual ao livro. Na última semana, eu praticamente adivinhei tudo que iria acontecer comigo e com os outros.

O grande problema que temos agora, se isso tudo for real, o que eu devo fazer? Meu destino é ser corna. Perder tinha família, o clã e ainda ser morta? Não! Não posso deixar que isso aconteça. Eu sei de tudo sobre esse livro. Sei exatamente a ordem dos acontecimentos e as consequências. Só preciso organizar tudo que sei e usar ao meu favor. Eu posso mudar o rumo da história.

— Princesa, o príncipe enviou uma carta, dizendo que vem visitar a senhorita hoje, como haviam combinado. — Carmem me avisou feliz. Fiquei confusa. Ela andava desprezando o príncipe depois que descobriu quem ele era. — A senhorita precisa ficar deslumbrante para mostrar a ele quão linda e perfeita é. Confie em mim, no quesito beleza ninguém ganha de você. Seu cabelo e olhos não tem iguais. Aquele dentuço não tem ideia do que está perdendo.

— Entendi. — Eu precisava pensar em algo. Preciso pensar em uma forma de mudar meu destino. Não posso deixar tudo acontecer conforme o livro. Se continuar com as mesmas atitudes, terei os mesmos resultados que a Luna real. — Carmem, pode me trazer e papel?

— Sim, senhorita. — Carmem concordo.

Nesses últimos dias, notei coisas que não havia reparado nos livros, ou pelo menos, não prestei atenção. Como por exemplo, a ausência de tecnologia, a pressão que Luna sofre para casar com Elliot, não apenas de sua família, mas de todo o reino, até porque, era a forma de manter o pacto de paz dos dois reinos.

— Aqui está, princesa. Algo mais? — Carmem perguntou, eu apenas balancei a cabeça em negação, minha cabeça estava trabalhando sem parar, buscando alternativas para me tirar desse destino. — Então irei preparar seu banho e sua roupa. Quando estiver pronta me avise, venho ajuda-la a tomar banho e se vestir.

— Obrigada por tudo, Carmem, você é a melhor. Fico feliz que posso contar com você. — Falei abraçando Carmem. Eu nunca tive uma família, morei a vida inteira em um lar orfanato. Em uma semana naquela casa, senti mais amor do que em minha vida anterior inteira.

Eu preciso pensar bem na história, anotar tudo que me lembro sobre ela. Pelo menos, posso fazer isso aos poucos. Meus objetivos aqui são simples. Não ser morta e nem destruir o reino. Para isso eu preciso acabar com meu noivado com Elliot, me manter longe e segura dele. E ainda assim, preciso encontrar uma forma de proteger o reino. Não casar com Elliot é uma quebra de contrato. No livro, quando Luna é abandonada no altar, a guerra entre os reinos se inicia. Como posso evitar essa guerra? Ficar com Elliot é morte, não ficar com ele também. Se tivesse uma forma de manter o pacto, sem ter que me casar com o babaca.

— Eu já sei! Isso é perfeito. — Gritei em voz alta. Como não pensei nisso antes?

Antes de sair em aventura, escrevi uma carta para meus pais, eles eram cuidadosos e amorosos, não queria que eles se preocupassem, mesmo achando que isso era improvável. Parti do castelo confiante, até me perder na primeira floresta. Não tinham mapas no livro. Não tinha como saber o caminho. Por sorte, encontrei uma placa e lembrei de alguns diálogos dos personagens, falando como a terra proibida era longe, depois de diversas florestas. Ainda bem que as florestas eram por ordem alfabética, era mais fácil descobrir o caminho assim, devo agradecer a algum toque esquisito do escritor.

Perdi a noção de tempo, isso sempre acontecia quando eu estava transformada em loba. Como descobri? Durante a semana me transformei várias vezes em loba sem querer. Qualquer emoção muito forte, alegria ou tristeza, me transformava, que mesmo quando eu estava relaxada ou cansada. Acabe aprendendo como transformar. Entretanto, ainda tinha dificuldade de manter minha mente ativa, era como entrar no modo automático. Senti uma fraqueza tomando conta de mim. Talvez eu tenha esquecido de comer ou dormir.

— Louis! Acho que encontrei uma jovem loba perdida. O que fazemos? Posso fazer churrasco dela? Me disseram que carne de lobo é uma delícia. Ainda mais jovem. — Ouvi alguém gritando. Será que estava falando sobre mim? Vou terminar como churrasco?

— Não, tem um pacto entre as duas espécies. Seria complicado prender, matar ou deixar ela morrer aqui em nossas terras. Já temos problemas demais por aqui. Vamos cuidar dela, não quero problemas com o clã dela. Quando ela desperta, mandamos embora. — Um homem respondeu. Não conseguia enxergar ele direito.

— Será que ela é uma espiã? — O primeiro homem questionou.

— Quando ela estiver consciente vamos descobrir se ela ficará viva ou morta. Talvez nem suspeitei que ela está em nossas mãos. Estou curioso agora para saber o sabor do churrasco de lobo. — O outro explicou. Será que tentei fugir da morte e cai direto na churrasqueira?