Capítulo 06

O quê? – Aurora grita a plenos pulmões.

- Se acalme, por favor!

- Me acalmar? Isso só pode ser brincadeira. Como assim, nos casamos?

- Acabamos de assinar os documentos! Como eu disse, achei que você era uma das candidatas ao casamento de fachada, e que havia se fantasiado de cachorro quente para algum tipo de chacota, ou algo assim, na verdade, tudo não passou de um terrível engano!

- Ai meu Deus! Isso só pode ser um pesadelo! Mas.........o que o fez me escolher?

Aurora começa a sentir seu estômago revirando, seu coração pulava alto dentro do peito, sua visão escurecia cada vez mais, não podia ser verdade tudo aquilo.

- Como eu havia dito, estava prestes a anunciar a candidata escolhida, quando você entrou, por algum motivo decidi te observar mais e ver qual era sua intenção, aí você acabou salvando a vida de meu primeiro ministro, e isso fez com que eu a escolhesse, a escolhi pelo seu gesto de bondade!

- Eu não posso acreditar que isso esteja acontecendo!

- Aurora, acho que nada acontece por acaso, então peço, na verdade eu te suplico que me ajude. Eu sei que não tenho o direito de te pedir isso, afinal você tem sua vida aqui, não sei se tem família, ou se tem algum relacionamento, mas minha situação é grave, meu pai pode falecer a qualquer momento, então por favor, me ajude. Quero que fique claro, que se decidir não me ajudar, rasgarei nosso acordo de casamento, jamais a obrigaria a cumpri-lo, mas eu te suplico que pense em minha situação, e que considere me ajudar.

- Mas.......mas......eu não sei o que fazer! Eu simplesmente saí para uma festa à fantasia, e acabo casada, ainda por cima com um príncipe!? Onde estão as câmeras? Isso é pegadinha, não é?

- Também preferiria que fosse, mas acredite que não é! Mas, se te conforta, os papéis que assinamos tem prazo de validade, não precisará ficar casada comigo por muito tempo, e depois que nos divorciarmos, você será uma mulher extremamente rica!

- Que se dane o dinheiro! Eu não posso simplesmente abandonar minha vida aqui. Isso tudo é um verdadeiro absurdo.

- Eu sei que parece assustador, mas por favor, considere a ideia de me ajudar, eu não faria se não estivesse desesperado.

- Mas ninguém se casa assim, do nada! Precisa-se de tempo para correr a papelada, não é tão simples assim!

- No meu caso é bem simples sim, pois tenho algumas vantagens por ser o futuro rei do mau país, não preciso de tantas formalidades que as pessoas comuns precisam!

- Sei...pessoas comuns, como eu, não é? Isso só pode ser pesadelo!

No mesmo instante, a lembrança da velha senhora turca lhe vem à mente, ela havia a alertado de que um casamento estava muito próximo, mas a borra do café podia ao menos ter avisado que esse próximo, seria muito próximo! Ela havia debochado daquela senhora, e agora o destino debochava dela.

Como assim ela tinha se casado com o futuro rei de Yamal? Nunca mais tomaria café algum, ou deixaria que ninguém mais lesse seu futuro numa borra de café, pois não sabia se aguentaria mais tantas emoções.

Aurora o encarava com atenção o observa e percebia que ele realmente parecia desesperado, seus olhos tinham uma tristeza e pareciam distantes, com certeza ele estava engolindo todo seu orgulho para suplicar por sua ajuda, afinal, somente um homem de princípios seria capaz de colocar o bem estar de um país inteiro acima de seus interesses pessoais, ele estava sacrificando a própria felicidade se casando com uma estranha, apenas para não fazer seu povo sofrer, e um homem como aquele, não podia ser tão mal assim. Por mais absurda que fosse aquela história, algo dentro de seu coração dizia que tinha que ajuda-lo, pois de sua decisão, dependia um país inteiro.

- E se....... e se eu hipoteticamente resolver te ajudar, como será esse casamento?

- Você quer saber se terá que partilhar a mesma cama comigo? A resposta é não! Como eu disse, é apenas um acordo para que eu não perca meu trono.

- Então, não teremos que ser marido e mulher de verdade?

- Não!

- Mas seu pai vai saber disso, ou não?

- Não. Sua saúde não está nada boa, não quero que ele tenha esse desgosto. Ele sabe que eu teria que arrumar uma esposa, mas eu direi a ele que me apaixonei de verdade, não quero que ele parta achando que me obrigou a me sacrificar, embora ele mesmo tenha me sugerido que me casasse o mais rápido possível, mas não quero que ele ache que foi um sacrifício muito grande, então, na frente dele, terei que fingir que a amo.

- Você vai me obrigar a ser muçulmana?

- É claro que não! Já te disse que meu país não é opressor, temos cristãos, hindus, muçulmanos e muitas outras religiões, não obrigamos nosso povo a nada. Respeitamos todas as religiões.

- Vocês falam somente árabe?

- Não! Alguns poucos ainda utilizam somente o árabe, mas 90% da população é bilingue! Você não terá dificuldade com o idioma!

- Certo! Posso trabalhar?

- Sim! Se desejar, pode, aliás, o que você faz aqui?

- Sou estagiária num jornal. Trabalho na redação. Aliás, se eu aceitar esse acordo absurdo, preciso resolver minha situação no jornal, não posso simplesmente sumir do nada, e tenho também que trancar minha faculdade, afinal, estou quase me formando, estou no último semestre.

- Se quiser poderá trabalhar em nosso jornal, temos um em Yamal. E com relação ao seu trabalho atual, não precisa se preocupar, se decidir me ajudar, resolverei tudo, não precisará se preocupar com nada, quanto ao seu estudo, podemos dar um jeito de termina-lo remotamente, com certeza não haverá problema algum com isso, serei o futuro rei de Yamal, isso me traz algumas vantagens!

- Imagino mesmo! Mas........você está falando sério? Poderei mesmo trabalhar?

- Sim!

- Posso usar roupas comuns, como se usa no ocidente?

- Sim!

- Tem certeza que não terei que cumprir com meus deveres de esposa?

- Tem minha palavra que não a obrigarei a absolutamente nada. O contrato que assinamos está muito claro, se quiser, pode lê-lo.

- Sim, eu farei isso! Na verdade, deveria ter lido antes de assiná-lo, me sinto uma idiota por não ter feito isso.

- Isso quer dizer que aceita ser minha esposa de mentira?

- Sim!........... Acho que sim. Acho que posso me arrepender para o resto da vida dessa decisão, mas estou disposta a te ajudar, afinal, será por um tempo apenas, depois cada um segue seu caminho, não é?

- Exato! Não ficaremos juntos por muito tempo.

Hassan se levanta e se aproxima de Aurora, ele então estende sua mão para ela afim de selarem o acordo de ambos.

- Obrigado, Aurora. Jamais esquecerei o que está fazendo pelo meu país.

- Estou fazendo isso pela experiência, é claro que fico feliz em ajudar seu povo, mas sou uma jornalista, e estou fazendo pela experiência de conhecer outro país, outra cultura, e acho que vai agregar bastante em minha carreira.

- Ótimo, cada um de nós tem seu motivo para essa união, e espero que possamos ser sempre francos, um com o outro.

- De minha parte, serei sempre franca.

- Ótimo! Só mais uma coisa, não conte a ninguém sobre nosso acordo, não posso permitir que essa informação vaze. Partiremos amanhã de manhã.

- Amanhã? Tão rápido assim? Mas, eu preciso me despedir de minha amiga. Moramos juntas, não posso sumir assim, do nada.

- Você confia nela?

- Claro que sim, ela é como se fosse minha irmã, aliás nossas famílias se conhecem e é como se realmente fossemos uma grande família, não posso deixa-la sem notícias minha.

- Está bem! Você disse que ela está aqui, neste hotel...

- Sim, como eu havia dito, tem uma festa à fantasia em algum salão, e ela está aqui.

Hassan pega o telefone e faz uma ligação, ele falava em árabe com alguém, ela não entendia uma palavra sequer, mas podia ver que aquele homem à sua frente, agora seu marido, não aceitava ser contrariado. O mesmo arrepio que havia percorrido seu corpo, minutos antes, torna a aparecer, não sabia no que estava se metendo, talvez tivesse feito a maior loucura de toda sua vida. Ele então desliga o telefone e a encara.

- Aurora, terá que se despedir de sua amiga ainda hoje. Mandei que a buscassem.

- Eu não acredito que terei coragem de deixa-la sozinha, e partir para um país tão distante e diferente do meu, e ainda........casada!

- Não se esqueça que é um casamento falso! Vocês duas são muito unidas pelo que parece, não é?

- Sim, fazemos faculdade juntas, moramos juntas e também trabalhamos juntas, não imagino minha vida sem ela por perto.

- Eu sinto muito ter que se separar dela, mas será por pouco tempo, não se preocupe.

Minutos depois a porta da sala é aberta e Beatriz entra, já estava visivelmente bêbada, seus olhos estavam miúdos e falava com certa languidez. Aurora a abraça e deixa algumas lágrimas correrem livremente sobre seu rosto.

- Aurora......o que vooocê estáaaa fazendo aquiiiiiii?

- Ah minha amiga, vou sentir tanta saudade de você!

- Saudaaaadeee? Porrr que?

- Aurora, acho que não vai adiantar explicar nada para ela, sua amiga está visivelmente bêbada. O que acha de irem para casa? Meu motorista pode leva-las, você pode ajudar sua amiga a tomar um banho e quem sabe conversa com ela com calma, assim você aproveita também e arruma suas coisas, pois partiremos para Yamal em poucas horas.

- Está bem!

- Vou deixar meu número pessoal com você, e qualquer coisa me avise. Não se esqueça que partiremos ao amanhecer, meu motorista estará a esperando assim que o sol se por. Não gosto de atrasos.

- Não se preocupe, estrei pronta o esperando.

- Ótimo! Até mais Aurora!

Aurora nada responde, apenas tenta de forma desajeitada levar Bia para fora da sala, um cachorro quente e uma Cleópatra atravessavam o imenso saguão do hotel, enquanto um homem que Aurora deduzia ser o motorista as seguia. Dentro de poucos instantes, Aurora deixaria tudo o que conhecia para trás, para viver uma vida de princesa!

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