Capítulo 04

Aurora olhava ao redor e se sentia uma verdadeira estúpida, somente ela estava fantasiada, as outras mulheres e os poucos homens presentes, estavam muito bem arrumados e a olhavam com desprezo ou com ar de chacota. Ela precisava sair dali imediatamente. Seu primeiro impulso havia sido dar meia volta e sair dali correndo, porém, alguma coisa dizia para ela esperar um pouco mais, talvez fosse pela boa comida que serviam, pois ela nunca havia visto uma mesa tão bonita e farta como aquela. Ela provava tudo sem preconceito algum, e pelo pouco que conhecia, sabia que algumas comidas eram árabes, e estava adorando provar tudo.

Ela não saía de perto da mesa, pois já que estava na festa errada, iria ao menos aproveitar, e já que nenhum segurança havia a retirado, iria fingir que estava tudo certo. Nenhuma mulher se mostrou muito cordial com ela, faziam questão de excluí-la, o que não fazia a menor diferença. Aurora nota então, um homem muito bonito sentado numa espécie de trono, não era um trono de verdade, mas uma cadeira muito bonita que tinha uma aparência imponente. Seus olhos se encontram por poucos segundos, e ela imediatamente desvia seus olhos dos dele.

- Eita! Será que ele é o dono da festa? – Resmungava sozinha para si mesma.

Aurora decide não olhar mais para o homem sentado na cadeira, pois havia sentido um arrepio, não sabia dizer se era bom ou ruim, mas com certeza aquele homem exercia um certo poder sobre as pessoas. Ela decide então que estava na hora de tentar sair do salão, que estava na festa errada ela tinha certeza, mas não entendia o motivo de ninguém ter a tirado do local. Ela então começa a caminhar para a porta quando ouve alguém gritar por socorro. Imediatamente seus olhos se dirigem para um homem de meia idade sentado num canto afastado do salão. Ela caminha o mais rápido que pode em direção ao homem, já que ninguém se mexia para descobrir o que havia acontecido.

O homem estava cada vez mais vermelho, tinha dificuldade de respirar e apontava insistentemente para sua garganta. No mesmo instante Aurora percebe que ele tinha alguma coisa em sua garganta obstruindo a passagem de ar, ela rapidamente o ajuda a se levantar e se posiciona atrás dele, com certa dificuldade começa a fazer a manobra de Heimlich, o que não era tarefa fácil, pois ela ainda vestia uma enorme fantasia de cachorro quente. As pessoas ao redor observavam apavoradas, era no mínimo uma cena estranha, um cachorro quente tentando salvar a vida de alguém. Aurora não percebe o momento em que o homem se levanta de seu “trono” e se coloca ao lado dela, somente depois de alguns minutos é que ela sente sua presença.

- Deixe que eu tento, sua fantasia está atrapalhando! -Dizia o homem com certa rispidez.

Aurora estava prestes a soltar o homem, quando ele finalmente cospe um enorme caroço de tâmara, ele então, devagar vai recuperando suas forças e a respirar normalmente. No mesmo instante, Aurora ouve sons de aplausos.

- Obrigado mocinha! Você salvou minha vida! – dizia o homem com certa dificuldade.

- Não foi nada, eu fiz o que qualquer pessoa faria.

- Não seja modesta, eu não sei como agradecê-la.

- Não se preocupe, apenas sugiro que fique longe das tâmaras! – diz em tom de provocação.

- Combinado! Agora se me der licença, acho que vou me deitar um pouco, o susto foi grande, e mais uma vez, obrigado!

O homem se retira e some para dentro de alguma porta do salão, ela então se vira novamente para sair daquele lugar, pois precisava se encontrar com Bia o mais rápido possível. Ela caminhava em direção à porta, quando um homem a segura pelo braço.

- Venha comigo!

- Ei! Me solta!

- Apenas me acompanhe!

Aurora sentia que aquelas palavras eram uma ordem, e no mesmo instante seu coração pulou dentro do peito, era um mix de medo e apreensão. Ela então o acompanha para dentro de uma sala reservada e entra. Dentro da sala estavam dois homens que pareciam mais, dois seguranças, o homem que ela havia salvado a vida e que agora o observando melhor, tinha a expressão bem simpática e que sorria para ela, e por fim, o homem que estava sentado em seu “trono”.

- Sente-se! – Diz Hassan.

- Não acho que vou conseguir me sentar com essa fantasia de cachorro quente!

- Falando nisso, por que escolheu justamente essa fantasia? Para debochar dessa festa, ou para debochar de mim?

- Debochar? Como assim? Do que está falando?

- Não importa! O fato é que essa sua gracinha surtiu o efeito contrário! Você é a escolhida. Está com seus documentos aí?

- Sim, claro que sim! Ah, entendi, o senhor quer ver minha credencial, não é? O senhor quer ver meus documentos para ter certeza que eu fui a escolhida para ganhar a credencial? Espere só um minuto, vou pegá-la.

Todos olhavam confusos para ela, não tinham ideia de que credencial ela estava falando. Aurora retira de dentro de sua fantasia, uma pequena bolsa com seus documentos.

- Aqui estão meus documentos!

- Me dê aqui, por favor!

Hassan pega os documentos das mãos dela e olha atentamente, ela se chamava Aurora Monteze, e por um instante não consegue associar o nome dela a ninguém da alta sociedade, mas se ela estava naquele salão, certamente era uma das escolhidas para a seleção de esposa de fachada.

- Ótimo! Vejo que está tudo certo com seus documentos.

- Sim! Eu passei na recepção, eu tenho permissão para estar aqui, está tudo certinho!

- E o que acha de tudo isso, senhorita Aurora? Está de acordo? – Pergunta Hassan.

- Bem, eu nunca havia participado de nada parecido, é uma festa muito bonita, a comida estava ótima, e sim, estou de acordo com tudo!

- Perfeito! Então podemos assinar os documentos agora mesmo!

Hassan pega em sua gaveta uma pasta preta e assina algumas folhas, em seguida vira a pasta para que ela assine também.

- Assine aqui, dizendo que está de acordo com tudo.

- Assinar? Eu tenho que assinar um papel apenas para dizer que estou de acordo com essa festa?

- Não é somente por isso, você sabe. Mas esses documentos realmente confirmam que está de acordo com tudo, sua assinatura é imprescindível.

Aurora acha tudo muito estranho, não sabia que teria que assinar um documento por ter ganhado uma credencial para uma festa, mas por que ela não tinha assinado nada na recepção? Porém se lembrou que sua amiga havia mencionado o fato de que talvez tivesse que assinar algum papel. Falando em Bia, onde ela estava? Será que também tinha assinado algum documento? Ela encarava os homens à sua frente com certo receio, mas não via mal algum de ter que assinar um documento dizendo que estava de acordo com a festa, e se era só isso que teria que fazer para se livrar daquele olhar intimidador, ela faria. Aurora então pega a caneta, e assina papel por papel, porém, ela não tinha a menor noção de que sua vida mudaria absurdamente dali por diante.

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