20.

• Ralf Narrando•

Quando ela me disse que iria ficar com Melissa claramente acreditei, porém quando no mesmo dia fui até a vila dizer que a amava e Freya me disse que ela não estava lá, o desespero se abateu sobre meu ser. Não fazia ideia de onde ela poderia estar ou o que poderia fazer, tinha a certeza que ela nunca iria me ferir, então apenas me restava a segunda opção que somente de pensar já doía. Se ela nunca me faria mal, com toda certeza ela faria de tudo para me proteger, inclusive procurar por Michael antes que ele encontrasse nossa família. Voltei ao ponto de partida onde a tinha visto pela última vez, Albert e Meredith sabiam que eu iria atrás dela e até quiseram vir juntos, mas não poderia arriscar a vida deles também. Arianna tinha garantido a segurança de nossa casa, enquanto todos ficassem por lá tudo ficaria bem. Senti seu cheiro uma última vez e parti ao seu encontro, se ela não tinha me revelado a verdade tinha um motivo então tudo que eu poderia fazer era protegê-la de longe.

Quatro dias e meio à frente, era isso que minha esposa tinha de vantagem. Porém por onde ela passava eu sentia seu doce aroma e sabia que estava bem, avistei uma trilha cheia de luzes e um pouco mais adiante a silhueta de Arianna, ela caminhava tão despreocupada e cheia de si que por um segundo pensei em deixá-la seguir sua missão e voltar para casa. É claro que isso não iria acontecer. Gritos, foi gritos que ouvi e ela também ouviu pois quando olhei para frente ela tinha sumido, meu coração começou a pular dentro do peito, sentia medo, sentia raiva, sentia ódio em imaginar que algo poderia acontecer com ela, que apenas segui em direção aos gritos e me deparei com uma cena perigosa.

Uma criança estava encurralada por dois lobos, e ali estava minha esposa defendendo a criança. Queria entrar na briga, salvá-la... Mas ela não precisava ser salva, quando vi o primeiro lobo voando contra a direção oposta, sendo jogado por ela, senti um imenso orgulho tomar conta de meu ser, mas logo percebi que se tratavam de dois contra um, precisava igualar o jogo. Arianna não conseguiria proteger a si mesma ou a criança e ainda por cima lutar, foi quando iniciei minha transformação e após feito isso saltei dentre as árvores lutando pela vida da mulher que amo.

Ela não sabia como era minha forma lupina, tudo que ela sabia era que eu tinha as duas partes dentro de mim, o vampiro e o lobo, então poderia usar isso ao meu favor. A briga contra os dois lobos não durou muito, levei mordidas e arranhões, mas também os machuquei. Quando ela interveio usando magia, meu olhar era de fúria contra os lobos que desapareceram floresta adentro, eu poderia segui-los e matar cada um quando voltassem a forma humana, mas o meu bem mais precioso ficaria desprotegido, então apenas me ressenti a voltar para perto delas. Internamente, fiquei aliviado ao ver que a mesma não estava expondo sua identidade, era realmente melhor ninguém saber que um Crawford estava ali, e sobre tudo que era minha esposa.

A criança estava com medo de mim não a julgo, mas Ari não sentia medo algum, aliás quando ela me encarou nos olhos por alguns segundos jurei que ela tinha me reconhecido e isso me fez baixar a cabeça envergonhado. Emmanuelle, esse era o nome da criança. Me deitei próximo a elas ainda em alerta caso os dois voltassem, mas baixei a guarda quando vi o olhar de Arianna perdido em pensamentos enquanto segurava a garota nos braços, depois de ter feito um feitiço iluminando o local.

Tudo seria diferente se fossemos humanos, ela seria a mãe de meus filhos, teríamos uma casa no campo e um jardim cheio de tulipas azuis, tudo isso se fossemos humanos... A ironia da vida é que se fossemos humanos, eu nem mesmo a conheceria, afinal tínhamos séculos de diferença. A criança sentiu frio fazendo meu olhar recair sobre as duas, quando me levantei e deitei sobre elas, podia sentir meu calor passar para os seus corpos frios. Mentalmente eu ri quando Arianna disse ser casada e com toda certeza se pudesse a trancaria, somente para mantê-la em segurança, depois disso bufei um pouco e logo me coloquei em silêncio apenas fitando-a encostar a cabeça na rocha atrás de si e adormecer.

Parei para analisar o local sob a luz que ela havia criado, tinha árvores por todo o redor, indicando que ali era uma floresta bastante frequentada, afinal de contas as copas das árvores eram baixas, haviam rochas por todo lugar indicando que quem não morava na floresta com toda certeza morava na parte de cima, que as rochas estavam ali para impor uma espécie de divisão. Olhando uma última vez para a ruiva apenas fechei meus olhos e adormeci logo em seguida, te do apenas uma frase ecoando pela minha cabeça.

"Como eu te amo, Arianna Zartovick-Crawford".

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