14.

Uma semana, esse foi o prazo que se passou desde a transformação de Arianna. Uma semana em que a ruiva tinha transformado a clareira em seu novo lar, pois não podia entrar nas terras das bruxas e desejava falar com sua mãe, porém ela estava em silêncio dentro de casa. Ralf por sua vez não saia do lado da mesma, talvez com medo do que ela pudesse fazer caso a sede fosse maior.

– Albert disse que a casa está quase pronta… Eles aumentaram um cômodo. – Ralf falou ao sentar do lado dela que permanecia em silêncio sentada sobre o altar de pedra onde havia morrido.

– Arianna… Fala comigo por favor, preciso saber o que se passa em sua cabeça… — Ele se ajoelhou a frente da garota vendo os olhos verdes da mesma se tornarem negros.

A Zartovick estava em silêncio, já fazia três dias que a mesma se calou depois que quase matou uma criança e sua irmã que andavam pela floresta. Ela até chegou a se alimentar de ambas, porém como se uma chave fosse girada em sua mente ela começou a se culpar, primeiro chorou, gritou com Ralf dizendo que havia se tornado um monstro e depois se calou.

Ele aguentou os gritos da ruiva, com seu coração doendo. Ela não era um monstro, longe disso, estava apenas com sede e até aprender a se controlar quem cruzasse o caminho dela estava sujeito a virar seu jantar. Depois que o tratamento de silêncio começou, ele não aguentou, a raiva consumia sua mente e na noite anterior ele perdeu o último resquícios de sanidade que tinha e partiu em direção ao local onde os bruxos Snazan estavam se escondendo. Sem conseguir lidar com o silêncio dela, ele matou cada criança que estava ali escondida sob a proteção dos sobreviventes, o cheiro de sangue preencheu toda a clareira chamando a atenção dela que seguiu o odor.

– Eu quero saber o porquê. – foi a primeira coisa que a ruiva disse em três dias. Ralf se manteve ali ajoelhado, ele já sabia do que se tratava.

– Perdi o controle. O seu silêncio me feriu mais que os seus gritos. – Ele respondeu e naquele momento Arianna deixou que uma lágrima escorresse por seus olhos.

– Eu te culpei, disse que não você não tinha culpa em me transformar e depois te culpei… Me sinto péssima por isso, sei que tentou salvar minha vida, e que com o seu sangue você conseguiu… Não fui justa com você. – A voz dela era fraca, o que antes era apenas uma lágrima se tornou uma verdadeira cascata. Ralf a puxou para seus braços se sentando no chão deixando que a ruiva enfim chorasse tudo que não chorou dias atrás.

(...)

Era quase o pôr do sol, Arianna adormeceu nos braços dele depois de tanto chorar. Ralf se ajeitava no chão com ela em seus braços enquanto analisava suas feições, seus lábios rosados formando um biquinho, seu peito subia e descia de maneira tão calma enquanto ela ressonava.

– Como ela está? – Freya surgiu por trás de uma árvore, seus olhos indicavam que havia chorado por alguns dias. Ralf levantou os olhos para ver a mulher que caminhava com certo receio até eles.

– Ela sente falta da mãe. – Ralf falou baixo enquanto voltava seu olhar para a garota que me mexia em seu colo abrindo os olhos lentamente.

– Desculpa querida, não queria te acordar. – Freya falou de forma doce enquanto se aproximava, ao ver sua mãe ali o pânico tomou conta do interior de Arianna.

– Mamãe… não quero te machucar…fique longe. – Arianna suplicava sem sair dos braços de Ralf, pois ela confiava que ele iria segurar com força caso a sede tomasse conta. Mais uma vez doía para o híbrido ver a forma como ela estava, com medo de beber o sangue da própria mãe.

– Não vai me ferir, sabe porque? É a minha princesinha, e você nunca me faria mal algum. – Freya se ajoelhou a frente da filha, por mais que nesse momento a ruiva estivesse com os olhos negros ouvindo o som do sangue correr pelas veias da mãe e o coração dela bater acelerado, ainda sim Freya levou as mãos até a bochecha da filha onde acaricio com carinho. Ambas não resistiram, em lágrimas a mulher puxou sua filha para seus braços onde a abraçou bastante apertado. Ralf assistia a interação de ambas em silêncio, suas mãos ainda estavam na cintura de Arianna como uma forma de passar segurança.

Freya permaneceu ali até a lua estar alta no céu, ela contou a sua filha que Benjamin havia sumido e não culpava Ralf pelas mortes dos que restaram no clã dos homens. Uma vez que as crianças que realmente não queriam fazer parte de tal ato tinham sido recuperadas pelas suas mães e que lá havia ficado somente quem tinha a semente da ideia de William plantada. Ela também disse que Grace havia partido, somente não sabia dizer o porquê ela fez isso. Podia se ver que Arianna precisava daquele momento com sua mãe.

– Agora me prometa, que vai se manter segura. Vai sair dessa clareira e ser feliz. – Freya abraçava a mesma enquanto lhe rezava o velho sermão de mãe.

– Eu quero ir para casa. – Arianna falou baixou enquanto não queria sair do abraço de sua mãe.

– As demais bruxas estão com medo, não de você. Mas da situação em si, nunca nenhuma bruxa foi transformada em vampiro antes e você minha filha amada, é uma bruxa sifão nascida com o sangue Zartovick… Te protegemos o máximo que pôde, e agora está na hora de encontrar seu lugar ao mundo. – Freya respondeu, ela beijou a testa da filha e voltou seus olhos para o híbrido.

– Ela é o bem mais precioso que tenho. Cuide dela, em breve vocês vão entender porque não posso levá-la para casa e trancá-la comigo, por mais que eu queira. – Freya falou ao pegar um galho seco e colocar nas mãos de Arianna. A ruiva sem entender apenas olhou para o rosto de sua mãe que beijou sua testa novamente.

Quando a mulher saiu caminhando em direção a aldeia onde o clã estava, o galho seco nas mãos de Arianna começou a brilhar. Ralf se aproximou olhando com atenção enquanto aquele galho se transformava em uma pequena árvore cheia de folhas verdes.

– Você não é um monstro. É o ser mais lindo que já existiu na face desta terra. – Ralf falou ao entrelaçar sua mão com a dela e selar seus lábios. Arianna olhava aquele galho que agora tinha vida com espanto, a magia que habitava dentro dela havia dado a vida para aquele simples galho.

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