04.

Logo que o dia amanhecia e os pássaros cantavam nos galhos das árvores, cada pessoa na vila tinha suas obrigações, mesmo que os espíritos da natureza não estivesse mais ali, as bruxas realizavam oferendas ao primeiro brilho do sol, então uma fila de mulheres era formada ao redor de uma árvore grande e antiga, todas segurando algo que mais gostasse fosse fruta, flores ou plantas, e com arcos de flores na cabeça e colares , uma dança era feita enquanto as oferendas eram feitas, ao pé da árvore ficava sentada a líder delas, Freya Zartovick. O local onde a árvore existia era solo sagrado, com isso homens como os Snazan, que carregavam a magia mais sombria de todas, não era permitido ali, o único lugar onde as mulheres do clã tinham um tempo para retomar as suas raízes.

A casa onde os Zartovick moravam havia finalmente ficado vazia, Freya e as garotas estavam fora e William por sua vez sempre saia caminhando em direção ao local onde os homens treinavam sua magia sombria e impura. Poucos quilômetros da casa havia uma cachoeira, o chão todo estampado com flores, as águas eram cristalinas; na maioria das vezes aquele som da cachoeira foi grande companheiro de Arianna que agora caminhava em silêncio entre as árvores, ela gostava de ficar lá mais com os  acontecimentos passados, fazia dias que não ia. Uma coroa de flores brancas davam contraste com seus cabelos vermelhos, sem dúvida a jovem havia herdado toda a beleza de sua mãe, inclusive nos cabelos cor de fogo. Ela  já podia avistar a cachoeira conforme caminhava, e no riacho abaixo da queda ela viu uma figura masculina dentro da água, seus lábios se abriram em um sorriso quando percebeu que se tratava de Jonathan, mas tal sorriso perdeu a forma quando viu que junto a ele estava sua irmã Grace, ambos em um momento íntimo.

— Grace....assim me deixa louco.... — A voz de Jonathan era rouca e baixa. Sim, a irmã tão querida de Arianna, a pessoa que a ruiva jurava ser sua melhor amiga, embora fosse um pouco sarcástica, estava ali nos braços do homem que ela gostava. Sem dar-se conta a ruiva pisou sem querer em um galho seco, e como ali não era apenas humanos normais ela precisou se esconder, sugando a magia que estava embutida na coroa de flores em sua cabeça, usando o feitiço "invisique" que à deixou invisível aos olhos dos dois.

— Tem alguém aqui…— Disse Jonathan ao se colocar em pé com um salto, deixando Grace nua dentro do riacho.

— Você precisa ir, vou me encontrar com sua irmã daqui a pouco. — ele suspirou ao pegar as roupas do chão e vestir.

— Não acredito, vai mesmo voltar pra ela depois de tudo que fizemos aqui?! — Grace protestava enquanto saía do riacho, pegando suas roupas que estavam à beira do mesmo. Com o passar dos anos a jovem Grace sempre desejou ter tudo que sua irmã tinha, inclusive a atenção de sua mãe, ela queria ser habilidosa com a magia e ter a beleza de Arianna, mas acima de tudo ela queria ser a Arianna. Enquanto sua irmã mais nova não suspeitasse de nada, Grace se passaria como a melhor amiga, conselheira e até protetora da irmã.

— Você não é ela, é apenas uma bruxa qualquer para que se possa perder tempo... Não se iluda achando que só porque fizemos o que fizemos aqui, e acha que me ganhou... Para mim, você não passa de um brinquedo... Agora cai fora. — Sim, Jonathan sabia ser cruel quando queria. Com os olhos cheios de lágrimas Grace fez com que fosse bater em seu rosto quando ele a impediu com um sorriso sarcástico nos lábios.

— Não faça uma cena querida, sempre fui bem claro desde que começamos a sair... Meu objetivo é sua irmã mais nova... —  A morena recuou um pouco quando viu os olhos dele se tornarem negros com veias ao redor e as pressas saltarem em seus lábios. Com brutalidade Grace se vestiu e saiu caminhando em direção a onde estava Arianna ainda oculta pela magia que absorvia de seu pingente no pescoço.

Naquele mesmo dia, quando Arianna entrou em sua casa, se assustou ao ver um homem parado no meio de sua sala, seu pai ainda não tinha voltado e sua mãe também estava fora. Por mais que ela quisesse chorar por ser traída pelas pessoas que ela mais amava, nenhuma lágrima escorria.

(...)

— Quem é você? — Perguntou de maneira desconfiada enquanto terminava de entrar em sua casa.

O homem ali parado apenas se virou com um sorriso de canto, observando e analisando a ruiva de cima a baixo. Seus lábios se abriram para respondê-la, mas foi interrompido quando William entrou.

— Então foi finalmente liberado, Benjamin? — William passou por Arianna como se ninguém mais estivesse ali, esse relacionamento de pai e filha não era dos melhores. Para William, a garota nunca foi sua filha, ele sempre deu preferência a Grace enquanto Freya deu preferência a Arianna. Os olhos de Benjamin ainda estavam fixos em Arianna, algo naqueles olhos azuis a incomodavam.

— Sim… Parece que ser filho do chefe também ajuda. Alias pai.... Passarei uns dias com você antes que eu parta em busca de uma..... Bom você sabe, não é? — Uma voz forte, rouca porém forte e firme, assim que ela ouviu um arrepio  percorreu seu corpo. E aquela sensação não foi boa.

— E quem seria essa linda jovem?! — Ben passou por seu pai após um aperto de mão e caminhou em direção a ela que ainda estava parada olhando os dois homens ali.

Por um breve um instante o que aconteceu logo em seguida deixou-a confusa. Benjamin segurava sua mão com delicadeza, depositando um beijo na mesma e seu pai William caminhava em direção a eles com o olhar mais sombrio que nunca,  porém em seus lábios havia um sorriso malicioso.

— A meu filho, essa é sua irmã mais nova, Arianna... — Como se um puxão fizesse a ruiva voltar a si, ela olhou fixamente para o homem à sua frente e um sorriso iluminou seus lábios. Ela sempre soube que tinha um irmão mais velho que vivia no clã Snazan, uma divisão falha aos seus olhos, afinal as mulheres viviam ali e os homens em outra tribo, apenas seu pai ficava na vila enquanto na dos homens nenhuma mulher entrava.

— Finalmente estou conhecendo meu irmão mais velho?! Encantada! — Respondeu a ruiva enquanto sorria gentilmente para ele. Antes que ela pudesse se dar conta, Benjamin passava as mãos ao redor da cintura de Arianna e a abraçava com força. De início ela se sentiu desconfortável naquele abraço, quem em sã consciência abraça alguém a segurando pela cintura? Isso fez com que Arianna após o abraço se afastasse um pouco.

— Vou deixar vocês sozinhos, pai, estou indo até a vila dos humanos, avise a mamãe por favor.  Benjamin, prazer em finalmente conhecer você! — Tais palavras saiam com rapidez dos lábios dela, enquanto girava seu corpo sob os calcanhares em direção a saída da casa.

Logo que a silhueta de Arianna desapareceu entre as árvores, Benjamin se virou para William sorrindo.

— Quero ela. —  falou Benjamin enquanto olhava fixamente para seu pai.

— Ela é sua irmã... E além disso se meu plano der certo, morrerá em breve, então não a terá. Caso ela seja mesmo um sifão será sacrificada como os demais. — William respondeu com brutalidade ao sentar-se no sofá voltando seus olhos para Benjamin, seu primogênito.

— Ah me poupe, eu sei bem que você mesmo desprezando as filhas que tem... Não entregaria elas para outro homem do nosso clã, então quem melhor do que eu para dar continuidade a linhagem?! Quem melhor que dois filhos seus?! Me diga?! — O olhar de Ben era firme, William sabia que por mais que tentasse não iria conseguir tirar da cabeça dele aquela ideia.

— Além do mais, você teve dezenove anos para descobrir se ela é sifão ou não. Parece que a velha Emma e Freya, realmente conseguiram frustrar seus planos, não é?! — Rebateu antes que seu pai falasse mais alguma coisa.

William suspirou, de certa forma Ben não estava errado, a família Zartovick tinha um grande poder mágico no sangue, e tal poder não era digno de ser misturado em nenhuma outra linhagem a não ser a dele. Com um sorriso nos lábios ele se levantou caminhando até seu filho onde colocou as mãos em seu ombro.

— Você venceu. Arianna herdou a beleza de sua mãe e o poder da família Zartovick todo, além do mais meu sangue corre nas veias dela também, ela será a próxima líder desse clã de bruxas, então cabe a você conquistá-la. Ganhe a confiança dela, mas apenas com Arianna fui claro? — Nesse momento as palavras se detiveram em seus lábios, não havia certo ou errado para os Snazan só havia poder.

Os olhos azuis de Benjamin brilharam, e logo se tornaram negros por completo, um sorriso malicioso surgia em seus lábios.

— Ela será minha. —

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