12.

Ela ainda estava deitada sobre o peito de Ralf, que por sua vez apenas a olhava, admirando em segredo cada curva de seu rosto, as bochechas coradas e os lábios rosados que casavam perfeitamente com seus cabelos rubros. Naquele momento nada importava fora daquele quarto, olhar Arianna dormir estava sendo o bastante para o híbrido após tê-la em seus braços, e saber que ela sentia a mesma coisa lhe deixava feliz.

Então como prenúncio de tempestade, tudo mudou, a porta do quarto se abriu com rapidez, Albert passou com o olhar apreensivo, a jovem que dormia acordou assustada enquanto Ralf se colocava em pé vestindo-se.

- Vieram atrás dela... Jonathan deve ter revelado a eles toda verdade. - Albert falou enquanto olhava para o irmão parado ao pé da cama.

- Proteja-a.- Sua voz saiu de maneira firme enquanto olhava pela janela, homens encapuzados saindo da floresta segurando tochas e se colocando ao redor da barreira. Os mesmos pareciam estar entoando um cântico macabro, pois a barreira que até então estava intacta passou a brilhar de várias maneiras.

-  Sim, vou protegê-la com a minha vida. - Ralf depositou um beijo na testa da ruiva enquanto ela se vestia olhando assustada para a janela toda vez que a barreira brilhava.

- Ralf...- Arianna até tentou falar algo, mas foi interrompida por um beijo. O beijo era carregado de urgência e medo, era a segunda vez em sua vida que o híbrido demonstrava sentir medo, as mãos de Ralf se fecharam ao redor do corpo dela e por alguns minutos ela se sentiu protegida.

O que aconteceu depois foi complicado, quando a barreira enfim caiu, uma explosão atingiu a casa e todos foram ao chão. Meredith e Melissa que estavam no andar de baixo tinham desmaiado na porta principal quando a explosão aconteceu, Albert que havia deixado o casal no quarto e descia as escadas foi arremessado contra a parede indo parar na cozinha, Ralf e Arianna haviam caídos no quarto desacordados. A velha Eve estava caída no chão do seu quarto, com seu neto também desacordados. Como a vida de ambas, Arianna e Eve estavam ligadas, naquele momento a velha Eve estava sentindo suas forças irem embora, o que significava que a ruiva no andar de cima estava morrendo. Recobrando os sentidos, Ralf olhava a sua volta à destruição, a explosão não foi apenas de magia, metade da casa havia virado destroços, mas nada parecia importar pois o mesmo procurava por Arianna. O cheiro de sangue tomava conta do quarto naquele momento e quando ele a achou viu seu frágil corpo tomado por ferimentos, um pedaço de madeira tinha transpassado seu peito e seu coração batia devagar.

O desespero tomou conta de seu interior, em um ato impensável ele mordeu sua própria mão e levou aos lábios da ruiva pedindo que a mesma bebesse seu sangue, ele não a deixaria morrer, faria tudo a seu alcance para salvá-la. Em um rápido movimento quando tirou o pedaço de madeira, seus lábios suspiraram ao ver que estava funcionando, seu sangue estava curando-a dos ferimentos. Tal alívio não durou, pois os bruxos tinham entrado no que sobrou da casa e com um estalar de dedos o pescoço de Ralf foi quebrado e Arianna foi levada.

Oficialmente com a lua cheia alta no céu, Arianna tinha agora seus dezenove anos. Ao abrir os olhos com dificuldade podia ver que não estava mais na casa dos Crawfords e sim na floresta, para ser exata na clareira onde os sacrifícios eram realizados. À sua volta estavam todos os Snazan, seu pai segurava um punhal nas mãos, ao lado dele estava Benjamin seus olhos estavam pretos como a escuridão. Ela sabia o que viria logo a seguir.

(...)

Quando os Vampiros originais recuperaram os sentidos na casa toda destruída, Melissa e Albert foram conferir como estava os dois humanos visitantes, Eve e Caspian enquanto Meredith ia em direção a Ralf.

- Eles a levaram.... Meredith... Cadê ela? - O desespero na voz dele era evidente, por mais que eles andassem toda essa floresta nunca iria descobrir a tempo o local do sacrifício. A irmã mais velha então se prostrou na frente dele beijando sutilmente sua testa enquanto ele ficava ali de joelhos no chão com as lágrimas correndo.

- Vamos encontrá-la. Agora Ralf, meu irmão... Se recomponha, eu preciso que seja aquele híbrido do qual todos têm medo, ela precisa. - Sua voz era fina, enquanto se colocava em pé, ajeitando suas vestes. Era a primeira vez que o olhar terno de Meredith se tornava sombrio, ela considerava Arianna como alguém da família, como uma jóia rara a ser preservada.

- Vamos... Temos bruxos a matar e um inferno a trazer pra terra. - Ouvindo sua irmã atentamente, Ralf se colou em pé, seus olhos se tornaram  negros tendo o centro dos mesmo dourados e  com as veias ao redor e as pressas de fora. Ele farejava pelo ar até captar  o cheiro de quem havia levado seu bem mais precioso.

Quando conseguiu captar o cheiro do sequestrador, ele se levantou e saiu do quarto logo atrás de Meredith que descia as escadas atenta aos olhares assustados de Albert e Melissa.

- Eve está morrendo... - A voz de Melissa embargada pelo choro tomou conta do ambiente, aquela notícia fez com Ralf parasse alguns degraus antes de chegar ao térreo.

- Estamos sem tempo, precisamos agir rápido. - Albert pousou as mãos no ombro de Mel, enquanto Meredith passou pela porta principal que estava em pedaços. Nesse ponto Albert e Melissa a seguiam em silêncio, enquanto Ralf retomava a caminhava em silêncio, seu olhar fervilhando ao mais puro ódio.

- Vamos.- Foi tudo que saiu de seus lábios ao passar por seus irmãos, desaparecendo na escuridão da floresta onde a luz do luar não batia. Seguido de sua família, assim os vampiros Crawford 's começaram sua corrida contra o tempo.

(...)

Na Clareira o caos estava instalado. Freya e as demais bruxas haviam chegado após se depararem com a vila vazia e  tentavam inútilmente lutar contra os bruxos Snazan, para salvar Arianna. Benjamin estava caído no chão desacordado após um embate contra sua mãe, o jogo estava equilibrado metade dos bruxos caídos e a outra metade das bruxas também, Freya estava parada a frente de William por um segundo seus olhos baixaram para sua filha deitada naquele altar, indo e voltando com os sentidos, esse momento de fraqueza bastou para que William a jogasse contra uma árvore onde a mesma caiu. Assim que sua líder foi "subjugada" às demais mulheres se renderam.

Ralf chegou gritando de raiva ao ver a garota deitada sobre um altar de pedra, analisando a situação com cuidado William apenas pegou o punhal e apontou para a filha.

– Mais um passo e a matarei. Jonathan garantiu que vocês não seriam um problema. – William falou ao olhar para a expressão cada um ali, todos tinham os olhos voltados para a figura de Arianna que estava recobrando novamente os sentidos.

Eles não podiam arriscar a vida de Arianna, e William mesmo sendo o único bruxo de pé sabia que naquele momento a única coisa que impedia os vampiros de arrancarem sua garganta era a vida dela.  Ele estava em desvantagem, por isso seu plano para escapar após matá-la deveria ser rápido e sem falhas.

Ao recobrar a consciência novamente, a ruiva tentou se colocar em pé, porém nesse momento a lâmina entrava em seu peito a fazendo cair sobre o chão gélido, um trovão ecoou pelo céu logo após um raio cortar a penumbra, não havia nuvens de chuva porem começava a chover.

Tudo aconteceu tão rápido, os vampiros avançaram, Albert lançou William contra uma arvore, este caiu no chão com um enorme hematoma no rosto e o sangue escorria de sua mão, Meredith e Albert se colocavam  à frente do corpo inerte de Arianna, enquanto Ralf olhava com dor e medo para sua amada ali, Melissa a irmã mais nova e sem muita experiência em combate tentava vingar a morte dela.

- Ralf...-  a voz embargada de Arianna era ouvida enquanto ela se colocava em pé, segurando agora o punhal que pingava seu sangue no chão, o Híbrido olhou para surpreso para onde deveria encontrar o corpo sem vida dela, porem o que encontrou foi a figura de Arianna com os olhos negros, tomados pelas veias ao redor, as presas haviam saltados e machucavam seus labios rosados, ela sentiu tudo a sua volta vibrar e quando o cheiro de sangue entrou em suas narinas sua garganta ardeu indicando que sentia sede, como se não bebesse agua por anos. Seus olhos se voltaram para William que não entendia o que estava acontecendo, afinal ele esperava receber os poderes que circulavam no sangue de sua filha e no entanto ela estava ali viva, mesmo após ser apunhalada e morrer,  ele somente foi entender o que havia acontecido quando Arianna parou a sua frente, o seu olhar não era doce e angelical naquele momento.

– Se Alimente. – Ela ouviu a voz de Ralf como se estivesse ao seu lado, e no segundo seguinte estava caída sobre o corpo de seu pai, que se debatia procurando meios de sobreviver.  O fim de William foi rápido, por assim dizer, sendo morto para que sua filha pudesse renascer.

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