Capítulo 18: Hobbies

Zoe pega a filha do colo do chefe e ambos se sentam à mesa para jantarem. Oliver então questiona curioso:

— E os seus pais? Você disse que eles morreram, mas não vi nenhuma foto dos dois em porta-retratos...

— Eu prefiro mantê-los guardados em meu coração, mas tenho fotos e vídeos deles na memória do meu computador. E o senhor? Qual é o seu maior hobby? — Zoe pergunta desconversando.

— Eu amava natação... Quer dizer, eu praticava bastante... Deixei de lado após a morte de... Bom... Desculpa. — Oliver responde e se cala.

— Pode continuar. Faz parte do processo, não precisa se preocupar. Eu gostava de participar, na verdade, ouvir, os amigos dos meus pais contando suas aventuras da juventude... Eu gostava mais do senhor Frederico, ele era o mais fervoroso quando contava as suas histórias. Me lembro dele com os cabelos negros... Apesar da idade ele não gostava dos cabelos brancos. Então, eu sou uma boa ouvinte. — Zoe declara orgulhosa.

— E onde está esse senhor? — Oliver pergunta interessado.

— Ele morreu dias depois que os meus pais morreram.

— Seus pais morreram de quê, Zoe? Quer que eu te sirva? — Oliver indaga, ao mesmo tempo em que se serve.

— Sim. Obrigada. — Zoe confirma e entrega o seu prato.

— Meus pais tiveram morte natural, devido à velhice. O mais incrível é que ambos morreram no mesmo dia. Eu passei o fim de semana na casa de uma colega e quando regressei, por não vê-los na sala me aguardando chegar, eu fui até o quarto e os dois estavam lá, deitados com as mãos grudadas, mas falecidos. Aquele dia foi terrível. Chamei a ambulância, mas eles já estavam mortos, então não tinham o que fazer. — Zoe relata.

— Como conseguiu superar esse momento? — Oliver indaga entregando o prato com a comida para Zoe.

— É uma história bem longa... Mas afirmo que ainda não superei totalmente... Leva um tempo, às vezes, a vida toda. Eu ainda acordo atordoada algumas madrugadas e choro. Relembro dos momentos, pratos de comida que partilhamos, mas continuo seguindo... Eu decidi que, o que os meus pais me ensinaram, eu iria levar para o resto da minha vida. Viver sem as pessoas que amamos é difícil... Realmente muito difícil. E é nessas horas em que mais precisamos ter ao nosso lado, pessoas que nos apoiam, que nos incentivam a desabafar, prosseguir mesmo em meio a dor, são essas pessoas, os nossos portos seguros que nos ajudam quando achamos que vamos desmoronar... — Zoe explica e Oliver concorda desabafando:

— Isso é verdade. Dia após dia eu tento me convencer que a minha amada e o meu filho, não querem que eu permaneça infeliz... Mas tudo parece ser mais forte do que eu... Me sufoca... Os meus pais, minha família... Eles estão sempre me apoiando, mas...

— Logo após os meus pais me deixarem. Eu sentia que não tinha mais sentido continuar vivendo... Até mesmo me culpei por não estar em casa quando eles morreram, mas no final, não era minha culpa. A minha tia Liz, me disse que as pessoas partem para a eternidade, uns mais cedo que outros... Não somos donos do tempo para impedir que eles se vão. Mas eles estarão sempre em nossos corações. Isso foi o que estava faltando para me impulsionar a querer correr atrás dos meus sonhos. E depois descobri a gravidez de Helena... — Zoe conta emocionada enquanto Oliver permanece com o seu olhar no rosto dela, atento a cada palavra.

— Você me perguntou sobre o meu hobby... E qual é o seu? — Oliver volta a questionar.

— Jogos online. Sou amante de jogos, gosto de personagens superpoderosos também crio mundos fictícios, personagens... Participo de fóruns, só nunca quis participar de campeonatos. — Zoe revela.

— Desde quando surgiu esse amor? — Oliver indaga curioso e Zoe responde:

— Minha paixão veio quando eu ainda estava no primário e o meu pai Harold Smith, trouxe-me um aparelho de jogos de presente de aniversário. Ele contou que comprou uma casa completa de boneca e o presente foi embalado errado, mas quando eu abri aquela caixa, eu amei tanto o meu presente que não quis que fosse devolvido. Então o meu pai voltou lá na loja e pagou a diferença pelo aparelho. A minha mãe, Anastacia Queen, comprou um computador para mim de presente de Natal no ano seguinte, já que o meu jogo estava defasado. Minha mãe assistiu uma reportagem de jovens jogadores e compreendendo a minha atração pelos jogos, resolveu me presentear. Então, descobri os jogos online e me apaixonei.

— Você não parece uma nerd viciada em jogos. — Oliver observa, no entanto, Zoe escalerece.

— Eu sempre fui centrada e nunca deixei que os jogos atrapalhassem a minha vida diária, como muitos jovens fazem. Sempre tive muitas ideias de como deveria ser o cenário, os personagens e fui incentivada a colocar em prática essas ideias. Os meus pais eram os meus maiores incentivadores. Então passei a estudar e elaborar esboços de jogos. Ainda aos meus doze anos fiz uma propaganda de marketing para uma loja do meu bairro e fui bastante elogiada. Há três anos, quando enviei um dos meus esboços para a Central J, a empresa de jogos que o senhor Yang tem ações, eles elogiaram bastante o meu trabalho. Embora eu não tenha ganhado o prêmio máximo, isso me motivou a continuar desenvolvendo projetos e me inscrevendo nos concursos seguintes. A cada ano, a Central J organiza esse tipo de concurso, dessa vez estou confiante que o meu design será o escolhido. Estou bastante ansiosa para receber o prêmio...

— Está precisando de dinheiro, Zoe? — Oliver pergunta preocupado.

— Sempre precisamos, senhor. Eu não tenho um contrato vitalício com a empresa de jogos, eu jogo apenas online, recebo bônus, mas só isso não é o suficiente para custear as minhas despesas, como vê, um filho demanda muitos gastos e a minha poupança deixada pelos meus pais, não vai durar para sempre. O prêmio desse ano é bem atrativo e vi que muitas pessoas se inscreveram. — Zoe explica e no fim indaga: — Mas voltando ao assunto dos hobbys... Por acaso o senhor fez algum curso de culinária?

Oliver sorri com uma expressão satisfeita e então conta que conheceu a Anika num concurso amador de culinária. Pensa em desistir de continuar a história, mas Zoe o atiça a prosseguir. Oliver relembra que naquele dia, Matt o chamou, mas ele estava tão imerso no momento, que Matt acabou desistindo e deixando ele lá, com a companheira de concurso, vibrando de alegria por vencerem a competição. Oliver então conta que após isso, ele passou a frequentar o apartamento dela, conta sobre as conquistas da amada, da faculdade e das brigas de Anika com as mulheres que o assediavam.

Ao terminar a sua narrativa, Oliver se sente mais aliviado.

— Como se sente agora? — Zoe indaga.

— Por que me pergunta isso? — Oliver inquire confuso.

— Por mais que seja doloroso saber que essa pessoa tão maravilhosa não esteja mais aqui ao seu lado, ela permanece no seu coração. E isso é bom! As suas memórias são muito lindas! E os seus hobbies deveria voltar a praticar... Principalmente cozinhar. O seu tempero é divino!— Zoe responde com a boca cheia degustando a refeição.

— Vou pensar no seu caso. — Oliver declara sorridente.

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