Reencontrar o Liam, foi difícil pra mim. Eu passei todos esses anos imaginando como seria se tivesse a oportunidade de ver o Liam novamente. E quando finalmente aconteceu, foi tão estranho.
E agora tenho que estar com ele todos os dias. Minha rotina em Coldsburg se resume a ir a casa do Liam pela manhã, fazer alguns exercícios fisioterapeuticos, acompanha-lo nas consultas medicas e exames, analisar tudo, realizar pesquisas sobre os tratamentos possíveis, enviar os exames dele e laudos médicos, solicitar orçamentos e com isso vou montando um plano de tratamento pra ele.
E por incrível que pareça, essa tem sido a parte fácil. O difícil é ter a companhia diária dele e manter uma distância segura. Eu tenho me esforçado pra lidar com o Liam, como sendo apenas e exclusivamente um paciente, e não um amigo ou amor da escola. E isso tem me cansado muito.
Enfim... faz um mês que iniciei o tratamento com o Liam e ele tinha alcançado algumas melhorias, ao menos estava conseguindo andar sem sentir tantas dores, mas ainda precisava das muletas.
Certo dia eu já estava com o plano de tratamento e os orçamentos em mãos e não era um plano fácil, nem barato, o valor tinha ficado bem maior do que eu imaginei, e olha que eu tinha imaginado um valor bem alto.
— Bom dia Sam — Disse o Liam que parecia estar bem animado essa manhã. — Eu me sinto bem melhor, as dores diminuíram bastante.
— Que bom Liam. É... eu tenho aqui o seu plano de tratamento. — Expliquei o plano a ele com detalhes, descrevi cada cirurgia e tratamento que seria realizado, boa parte dos tratamentos tinham que ser realizados no exterior, devido a qualidade dos hospitais que pesquisei.
— Caramba é muita coisa. Mas depois disso tudo eu vou poder voltar a jogar?
— Bom, isso não é uma certeza Liam, mas sem isso você não tem chance nem de largar essa muleta. — Fui sincera.
— Bom, e quanto vai custar tudo isso?
— Aí é que tá o problema, é caro e extenso. — Olhei ao redor, analisei a casa do Liam. — Quanto vale essa casa? E quanto de dinheiro você tem guardado? Talvez vendendo a casa você possa pagar o tratamento.
— Bom... Antes da doença me parar, eu não costumava guardar dinheiro, minha vida era luxar, festas, viagens, compras. — O Liam começou se justificando, nisso eu já sabia que a resposta seria ruim. — Depois que parei de jogar, o time diminuiu o meu salario, obviamente, e eu não tenho outra renda. Estava abrindo uma empresa mas o joelho piorou e acabei deixando pra lá.
— E então?
— A casa e o carro custam cerca de 6,5 milhões, e depois que pago os funcionários da casa, compro remédios, pago as despesas da casa, e do meu projeto social. — O Liam tinha um projeto social bem maneiro, era dedicado a crianças em situações de vulnerabilidade social, para que pudessem estudar e praticar esportes. — Depois de tudo, me sobra muito pouco dinheiro. Eu vivo bem, mas não sou rico.
Bom, era pior do que eu imaginava, o tratamento do Liam, ia custar cerca de 15 milhões, e ia aumentar com o tempo e despesas extras. Com certeza o plano de saúde dele ou o time de futebol não iam pagar por nada do que coloquei no plano de tratamento.
— E o seu avô? Com certeza ele tem esse dinheiro. A indústria Olsen é bilionária.
— O meu avô não me dá 1 centavo desde que eu saí de Codrinal. — É, eu lembrava do aviso do senhor Olsen, de que o Liam ia viver da poupança dele e que deveria trabalhar, e foi o que ele fez, trabalhou e conquistou tudo isso. — Fora que a gente nunca se deu bem. Raramente nos falamos. A última vez que falei com ele soube que estava doente no hospital e eu nem fui visita-lo.
— Bom, se quiser fazer esse tratamento, acho melhor ir visitar o seu avô, é a sua única chance. Ou roubar uns bancos por aí. — Tentei uma piada pra amenizar o clima.
— Engraçadinha! Eu tô ferrado, meu avô me detesta, você lembra que ele não queria que eu fizesse o tratamento na época da escola, imagina gastar 20 milhões. — Ele passa as mãos no rosto em agonia e me olha sério. — Acho melhor a gente ir roubar uns bancos.
— Liga pro seu avô Liam.
— Vou ligar! — Ele suspira profundamente, depois para e me olha com uma expressão intrigada.
— O que? — Ele continua me olhando de forma insistente.
— O velho Olsen gosta de você, foi você quem o convenceu a iniciar o meu tratamento, ele te escuta. — Ele levantou e veio em minha direção, me olhando fixamente.
— Ta, mas, e aí?
— E aí que você podia ir comigo lá, conversar com ele. Se tem alguém que pode fazer o velho abrir o bolso, é você.
— Não Liam!
— Por favor Sam. E você tem que me acompanhar de qualquer forma.
Que maravilha, como se não bastasse ter que ficar com o Liam todos os dias, agora eu ia ter que voltar pra Codrinal com ele. Que situação viu.
1 mês depois
O Liam enrolou o quanto pôde pra evitar ligar pro avô, até que finalmente resolveu ceder.
O senhor Olsen estava ainda internado no hospital, parecia estar bem debilitado e pediu que o Liam fosse vê-lo com urgência, disse que queria ver o neto antes de morrer. Me partiu o coração ouvir isso, e o Liam também ficou mal.
Nos organizamos o mais depressa possível para ir até Codrinal. Como o quadro do senhor Olsen era delicado, decidimos viajar sem pressa de voltar, afinal poderia ser que ele acabasse não se recuperando então era melhor irmos preparados pra caso ele infelizmente viesse a falecer.
O Liam estava realmente triste com a situação do avô.
— E aí preparado?
— Não! — O Liam me respondeu triste, ele continuava sendo bem emotivo. Na hora eu lembrei de como ele era sensível e não tinha problema em chorar e demonstrar o que sentia. — Me sinto mal. Eu sempre pensei que um dia eu e meu avô poderíamos ser amigos. Mas ele me detesta.
— O que houve entre vocês? — Eu sempre soube que o Liam e o avô não se davam bem, tinha momentos que a relação deles parecia melhorar, mas em seguida eles brigavam novamente, e eu nunca tive coragem de perguntar qual era o problema entre eles.
— Tudo começou depois que os meus pais morreram. O meu pai me disse que o meu avô não era bom nessa coisa de ser pai. Eles sempre foram um pouco distantes. Meu pai me contou que ele recebia muito amor e cuidado da minha avó, mas o meu avô era daqueles que pagava as contas, e tava ótimo. Ele nunca soube como ser um pai de verdade. — O Liam fez uma pausa, inspirou e continuou, era difícil pra ele falar sobre isso. — Na minha infância eu tinha pouquíssimo contato com o meu avô, então eu não tinha ideia de como ele era de verdade. Quando meus pais morreram eu tive que ir morar com ele, e comprovei que ele não sabia mesmo ser um pai.
— Ele e seu pai tinham problemas?
— Não, o meu pai aceitava o jeito do meu avô, e quando precisava de amor e tudo mais ele tinha a minha avó pra compensar. O problema é que eu não tinha ninguém, era só eu e o meu avô, e ele mal me dava atenção. — ele fez outra pausa, e continuou. — Imagina como foi pra mim. Um garoto que perdeu os pais do nada, e não tinha nenhum carinho, nem compreensão do avô que era a sua única família, então odiei o meu avô por isso, e ele me odiou de volta pela minha rebeldia. Bom, esse é o nosso problema.
Engracado, eu e o Liam tínhamos histórias parecidas, ambos éramos órfãos, eu só conheci o amor de uma família qua do perdi os meus pais, já o Liam, perdeu o amor da família quando teve que ir morar com o avô. O senhor Olsen não era uma pessoa ruim, ele só não tinha jeito pra ser pai, só que era justamente disso que o Liam precisava, de um pai.
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Atualizado até capítulo 50
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