Eu estava no meu quarto estudando como sempre quando a minha tia bateu na minha porta em total desespero.
— Samantha Higgins, me explica o que Liam Olsen, o neto do homem mais rico e consequentemente mais temido de Codrinal está fazendo na minha porta? — eu mal abri a porta do quarto e ela ja foi gritando em cima de mim.
A família Olsen é uma das famílias mais ricas de Codrinal, os pais do Liam faleceram faz uns 4 anos, foi um terrível acidente de avião, sem sobreviventes.
O avô do Liam, senhor Theodore Olsen é um magnata de automóveis, ele tem fabricas espalhadas por toda Urba do Leste, nunca ouvi falar de alguém mais rico que ele, pelo menos, não nesse país. E por ser tão rico ele também é bastante temido.
Era óbvio que a minha tia estranhou que a sobrinha dela, que aparentemente não tinha amigos, de repente recebia a visita do neto do homem que ela temia simplesmente por ser rico demais.
— O Liam ta aqui? — Me levantei surpresa!
— Samantha, o Liam Olsen, eu disse Olsen — Ela continuava nervosa e gritando o sobrenome do Liam. — ele ta aqui na minha porta, te procurando.
— Tia, o Liam é meu amigo. — Falei como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas ela ficou boquiaberta, acho que ela não esperava por isso.
— Você? Amiga de Liam Olsen? — sim, ela continuava gritando.
— É tia. E cadê ele? — saí do quarto e fiquei olhando pela escada pra ver se ele estava na sala. — Não deixou ele entrar?
Foi aí que ela se tocou do que havia feito, ela ficou tão assustada que bateu a porta na cara dele e foi correndo me chamar no quarto.
— Ai minha nossa, tia, porque a senhora faz essas coisas? — Corri até a porta e abri, o pobre do Liam tava plantado do lado de fora sem entender nada.
— Oi Liam! Pode entrar! — Abri caminho pra que ele pudesse finalmente sair da porta da casa.
— Oi Sam, desculpa vir sem avisar, eu achei que seria legal te fazer uma visita. A gente podia estudar junto, o que acha? — disse ele já entrando em casa.
— Acho uma ótima ideia, vem, vamos pro meu quarto. — Fui puxando o Liam escada acima.
Ele entrou e ficou olhando o meu quarto, na hora eu pensei que ele tava meio que me menosprezando, afinal o meu quarto era pequeno, tinha só a cama, um guarda roupa pequeno e vem bagunçado, minhas prateleiras de livros e um banheiro minúsculo. Certamente o quarto dele devia ser super elegante.
— O que foi? — Perguntei já incomodada com tanta observação da parte dele.
— Seu quarto é bem legal, eu imaginava que era mais de menininha, tipo cor de rosa — rimos disso, eu não era do tipo menininha cor de rosa — Eu curti bastante, principalmente essas luzes e o vinil na parede.
— Eu amo música — Peguei meu violão e mostrei a ele — eu amo cantar, eu tô participando de uns concursos de canto, o dinheiro que eu ganho eu guardo pra faculdade, pra pagar o alojamento.
— Fala sério, você canta? Canta algo pra mim!
— Calma aí, eu não consigo cantar assim do nada, eu canto o que eu tiver sentindo, é esquisito, eu sei, por isso só participo dos concursos livres, tipo dos que eu posso escolher a música na hora. É idiota né?
— Não — ele responde com tanta sinceridade, que chega a me comover. — Isso é especial, a música é a sua verdade.
— É, é a minha verdade.
— Canta o que você ta sentindo agora.
Eu então peguei o violão e cantei pra ele, a música que tava martelando na minha cabeça havia alguns dias "Wake me up do DJ Avicii" ela fala sobre encontrar o seu caminho, sobre estar perdido e tentar sair e descobrir o seu lugar. Era assim que eu me sentia.
..."So wake me up when it's all over...
...When I'm wiser and I'm older...
...All this time I was finding myself...
...And I didn't know I was lost"...
..."Então me acorde quando tudo isso acabar...
...Quando eu for mais sábio e mais velho...
...Todo este tempo eu estava procurando por mim mesmo...
...E não sabia que eu estava perdido"...
Quando terminei de cantar ele me olhava de um jeito tão bonito, parecia que ele tinha entendido exatamente o que eu sentia com aquela música.
— Você canta muito bem, de verdade.
Estávamos bem próximos, sentados na minha cama, havia um clima no ar, em algum momento eu achei que ele ia me beijar, mas aí a minha tia bateu na porta.
— Sam, eu trouxe um lanche pra vocês — E sim, ela estava gritando, como sempre.
Abri a porta do quarto e ela estava segurando uma bandeja com bolo e suco. Minha tia nunca me deixava comer no quarto e hoje ela traz uma bandeja de comida. Ela tava realmente preocupada com o Liam aqui em casa.
— Muito obrigada senhora Higgins, a senhora é muito gentil.
— Pode me chamar de Martha, meu bem. Com licença, vou deixar vocês em paz, mas Sam, mantenha a porta aberta, está bem?
— Certo tia.
Ela saiu e não deu pra evitar rir disso.
— Bom, vamos estudar.
Minha amizade com o Liam só crescia, a gente passava bastante tempo juntos na escola e na minha casa, aos poucos a tia Martha estava se acostumando com a presença dele lá, até a Tessa tava gostando da companhia do Liam.
Certo dia estávamos estudando no meu quarto, quando senti ele movimentar o joelho esquerdo de um jeito estranho.
— Qual o problema com o seu joelho? Percebi que você fica meio desconfortável com ele as vezes — Faz tempo que havia percebido isso, o Liam parecia sentir dor no joelho, principalmente depois do treino de futebol.
— É, eu tenho uma doença no joelho, ela atrofia os nervos, e tá piorando, acho que por causa do futebol, tá acelerando o processo. — Ele falou isso com tanta tristeza que me doeu ouvir, caramba o futebol era a paixão dele, imagina saber que em breve não iria mais poder jogar.
— Nossa Liam, você já pesquisou sobre isso, se tem tratamento?
— Já, mas exige muito dinheiro e o meu avô acha que é só largar o futebol e tudo se resolve. Ele nem quis ouvir sobre o tratamento.
— Mas você tem que falar com ele! — Foi estranho ouvir o Liam dizer que o problema era o valor do tratamento se ele é tão rico.
— Meu avô é um velho, rabugento, e chato, a gente não se dá nada bem, ele não me escuta, ainda mais agora com essa história de eu ser gay. — O Liam respirou fundo e deitou na cama. — Ele acha que eu devia largar o futebol e me dedicar a empresa dele, por ele eu viro um aleijado.
— Não, eu não vou deixar você ficar aleijado, nem parar de jogar, eu vou falar com o seu avô. — Me levantei da cama e peguei o notebook. — Vamos fazer uma pesquisa bem fundamentada, vamos estudar os detalhes dessa doença, todas as formas de tratamento e os valores, vamos apresentar tudo ao senhor Olsen, ele vai ter que ouvir.
— Tem mesmo coragem pra enfrentar o Todo Poderoso? — Ele disse isso cheio de ironia.
— Ele deveria ter medo de enfrentar a voz da persuasão.
Eu e o Liam nos dedicamos a nossa pesquisa e reunimos todos os documentos necessários para convencer o avô dele. Eu não ia deixar essa doença avançar e prejudicar ele. Mas não ia mesmo.
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Atualizado até capítulo 50
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