Alicia: E então?
Assim que saí da sala da Helena Parker , vulgo demônio, a Alicia do RH estava me esperando do lado de fora com uma galera toda ao seu redor. Enfiei as mãos nos bolsos com os lábios torcidos, em expressão de desapontamento.
Kaio: não foi dessa vez – quando falei todos suspiraram desacreditando – ela simplesmente me dispensou.
Rosa: eu sabia! – exclamou uma loira ao lado de Alicia. Era muito bonita e elegante, portava um celular em mãos – vou avisar para o pessoal que o cara dançou. Estava todo mundo achando que você ia ficar – e saiu. Aos poucos, a rodinha foi se desfazendo e Alicia veio para o meu lado.
Alicia: Mas como ela pode ter te dispensado? Seu currículo é incrível, sua formação é excelente! – lamentou-se, e por um minuto tive medo da garota chorar – oh Deus!
Kaio: Calma, tudo bem – toquei seu ombro – vai aparecer alguém a altura dela. Pode demorar, mas vai.
Alicia: E, mas até que esse alguém apareça, sou eu quem tem que sofrer aturando essa megera! – suspirou limpando algumas lágrimas que caiam por sua bochecha. Segurei sua mão compreensivamente – obrigado por ter tentado, Kaio. É uma pena não te ter por aqui. Cheguei a pensar que iria ser você a mudá-la.
Kaio: pois é, não foi dessa vez...
Enquanto conversávamos, notei que em uma das mesas do escritório enorme havia uma garotinha sentada perto do computador de uma delas soprando bolinhas de sabão. As mesmas voam pela janela alta fazendo-a rir baixinho. Era muito bonita e familiar. Usava um uniforme escolar azul, tinha o cabelo longo, liso e escuro. Familiar. Os olhos grandes e verdes, o rosto de boneca e também reconhecível aos meus olhos. Me pareceu ser a coisinha mais graciosa do mundo naquele momento; um anjo, uma princesa.
Alicia: ...Kaio? – ouvi meu nome e então me voltei para ela novamente, percebendo que por todo o tempo em que fiquei olhando a garotinha Alicia esteve falando comigo – você ouviu o que eu disse?
Kaio: ouvi, é sim – assenti, cocei a cabeça intrigado – Alicia, desculpe, mas... Sendo tão perturbada como é, como a poderosa chefona pode permitir que os empregados tragam os filhos para cá? Ela vai ficar uma fera quando ver essa menina sentada naquela mesa...
Seguindo meu dedo que apontou a pequena, os olhos de Alicia se arregalaram quando viu a menina. Fiquei sem entender de inicio, mas logo saquei quando prosseguiu.
Alicia: MEL! – gritou, e no exato instante a menininha olhou para ela deixando o potinho que segurava o sabão para fazer as bolinhas cair no chão aos seus pés – pelo amor de Deus, desce dai querida! Se a sua mãe te ver ai em cima vai sair matando todo mundo nesse lugar... Por favor!
Sua mãe?
Aquela mulher grossa e arrogante era mãe? Mãe de uma criaturinha tão linda? Como um homem era capaz de aturar aquela pessoa por uma vida inteira a ponto de ter uma filha com ela? Então era tudo uma capa? Será que existiria vida dentro daquela casca, será que existia sentimento naquele coração? Notei novamente a familiaridade no rosto da pequena; sim, o cabelo era idêntico ao da megera, o rosto lembrava demais; eram parecidas, exceto pelos olhos e a doçura que exalava da criança. Era por isso que a menina estava ali, porque era filha da patroa! Claro!
Mel: Desculpa tia Alicia! – disse com a voz muito culpada – já vou descer...
Foi tudo muito rápido. Olhei para a garota, olhei para o chão cheio de sabão sobre o piso altamente escorregadio e olhei para a grande distância que ela teria que pular até alcançar o chão. Resultado?
Kaio: CUIDADO! – gritei ao percorrer o espaço correndo, mas foi tarde demais.
Ouvimos um estalo alto quando ela caiu sobre a própria perna se espatifando ao chão. Em segundos montamos uma aglomeração ao redor da menina, que tinha uma fratura enorme resultante do tombo feio que levou. E ela gritava. Gritava. Gritava, anunciando que a cabeça de alguém ali estava prestes a rodar.
Helena POV
Pierre: Um homem minha rainha? Oh meu Deus, e ele era bonito?
Helena: Pierre, por favor, você também? – beberiquei meu cappuccino observando um de meus melhores estilistas sentado na cadeira a minha frente – não preciso de um homem bonito. Nem de um capacitado. Não preciso de homem nenhum! Nem de homens eu gosto...
Pierre: opa, como é que é minha rainha? – o olhei percebendo como interpretou errado minha frase – você, Deusa gostosa e sexy, não se interessa por homens? Senhor! Homem é a melhor coisa que existe querida, não podemos viver sem eles! Eu que sou um deles resolvi mudar toda minha estrutura para... Você sabe, amar sem medidas!
Helena: Pierre me poupe dos seus ataques, ok? E mais uma vez – coloquei a xícara sobre o pires em cima de minha mesa – eu não sou lésbica! Sou apenas uma mulher ocupada, uma mãe solteira que só tem tempo para o trabalho e para a filha!
Pierre: estou totalmente ciente disso, minha rainha! – cruzei os braços olhando para ele – porém, ainda sou dono da opinião de que tudo o que falta para você é um homem forte e másculo para te proteger e trazer alegria para sua vida... – abraçou a si mesmo com expressão apaixonada, me olhando com seus olhos azuis brilhantes apenas imaginando o homem em questão. Másculo. Forte – garanto que a pequena Mel não irá fazer objeção a isso. Você mesma diz que o que ela mais lhe pede é um papai...
Helena: Mel não precisa de um pai e nem eu de um... Homem – suspirei – já tive problemas demais a vida toda com homens, não preciso de mais um. E você... Trate de se controlar! O candidato era sim um rapaz interessante, mas...
Pierre: É? Ele era interessante? – sussurrou interessado, apoiando os cotovelos sobre a mesa para me ouvir falando. Cruzei os braços e rodei os olhos – fiquei sabendo pelas meninas que tinha um cara gato no escritório, mas não sabia que era para ser seu secretário. OMG! Me conta como ele era? Você tem o endereço dele?
Helena: ele não era gay – pareceu não mudar em nada seu interesse – ok, ele era moreno, um e oitenta e poucos de altura, olhos verdes, um pouco forte, branquinho – Pierre ergueu uma sobrancelha – tudo bem, admito! Ele era gostoso, mas e daí? Com certeza era tão tarado quanto às outras secretárias e iria colocar fogo nesse escritório. As meninas iriam pirar com ele aqui, inclusive você!
Pierre: inclusive você, minha rainha! Quem é que resiste a um homem desses?
Quando ele gargalhou, a frase “Foi exatamente por isso que o dispensei. Porque é um homem interessante!” surgiu em minha mente. Mas ficou apenas por ai, já que gritos começaram a invadir o ambiente vindo lá de fora. Gritos de criança. Assim que pensei na possibilidade de ser Mel, sai correndo junto a Pierre. Nós dois abrimos a porta correndo e andamos apressadamente até a aglomeração de pessoas. Quase todos os empregados estavam rodeando alguém; alguém que gritava.
Na hora em que vi minha filha com a perna quebrada berrando no chão, quase tive um colapso. Afastei todo mundo e me ajoelhei ao lado dela sem saber o que fazer!
Ela está ferida!
Bella: Mel? Oh meu Deus! O que foi que aconteceu? – sem saber onde tocar nela, comecei a me desesperar aos poucos, sendo invadida por desespero a cada grito de dor que ela dava.
KAIO: Não mexe nela! – quando olhei para cima através de algumas lágrimas que já desciam por meu rosto, vi Kaio, sim, o candidato, ajoelhado do outro lado de Mel segurando a perna ferida imobilizada, para ninguém tocar.
Helena: o que você está fazendo aqui? – praticamente cuspi as palavras cheia de raiva, desesperada, sem saber o que fazer. Pierre afastou as pessoas, que olhavam também nervosas.
kaio: ajudando a sua filha, por acaso! – Mel continuava gritando alto, chorando muito – calma, vem cá, passa o braça no meu pescoço. Tudo bem, eu sei que dói, mas preciso te levantar sem mexer a sua perna... Pode ser?
Mel: mas está doendo muito... – choramingou alto, com o rosto vermelho e molhado. Gritou mais – não consigo me mexer... AI!
Helena: o que está fazendo? Larga a minha filha! – gritei também – Alicia chame a ambulância!
kaio: a ambulância vai demorar, temos que levá-la logo para o hospital! Tem idéia de como ela está sofrendo? – e mais gritos de Mel atravessaram em mim como facas. Ao mesmo tempo em que queria pegá-la a agarrá-la para ninguém tocar nela, para socorrê-la, tinha medo de machucá-la.
Mel: mamãe... – disse em meio aos gritos. Quase desmaiei também chorando, nervosa, sem saber o que fazer!
kaio: eu já disse, temos que levá-la para o hospital! – ele mesmo com cuidado passou o braço de Mel em seu pescoço e a ergueu no colo. Ela seguia gritando como uma louca, chorando, me chamando, e não tive escolha a não ser ir atrás dele.
Kaio POV
Era mesmo uma capa.
Helena: para onde vamos levá-la? – perguntou quando abriu a porta do carro dela para que eu colocasse a menina em prantos no banco.
kaio: você deveria dizer, afinal é mãe dela! – Helena me encarou com o rosto nervoso, mas estava frágil demais para brigar comigo.
Entrou no carro na parte de trás e ficou com a garotinha. Assim que me acomodei no banco do passageiro ela logo foi me dizendo onde era o hospital que sempre passava a filha e me deu o endereço.
Corri para lá o mais rápido possível, vendo pelo retrovisor a forma doce como Helena tentava consolar a menininha, como acariciava seu cabelo, como chorava ao ouvir cada grito desesperado de dor da pequena. Assim que chegamos ao hospital mais caro da cidade ajudei a retirarem a garota do carro e ela logo foi levada para o consultório médico. Chamaram-me para ir junto. Fui. Ignorando minha presença, Helena tremia do meu lado enquanto esperava os médicos darem o diagnostico.
Kaio: quer um café? – tentei ser gentil. Aproximei-me dela vagarosamente para me inteirar com a situação. Deveria ser horrível.
Helena: não – respondeu somente com a voz chorosa, manhosa. Sentou-se em uma das cadeiras e abaixou o rosto.
kaio: quer que eu ligue para alguém? – tirei meu Iphone do bolso – para o seu marido? – pela primeira vez em todo o dia fiquei com medo dela. Seus olhos foram para meu rosto, vermelhos e inchados pelas lágrimas, mas cheios de raiva de repente.
Helena: Não tenho marido, e dá pra parar de se meter na minha vida? – suspirou ficando de pé bruscamente – o que está fazendo aqui ainda?
kaio: você é mesmo uma grande de uma mal agradecida! Estou aqui tentando te dar uma força, ajudei com a sua filha e é assim que me trata? – bati de frente com ela a encarando de cima, uma vez que era uns vinte centímetros no mínimo maior que ela – sua bruaca, merece muito menos. Depois eu passo para ver a garota. Adeus.
Coloquei o celular no bolso e quando me virei para sair... Sua mão se fechou no meu pulso. Parei; retirei-me de seu toque e me virei para ela. A encarei nervoso e cruzei os braços.
Helena: viu como aconteceu? Como Mel caiu? – questionou de volta a sua postura frágil. Porque raios tenho coração fraco?
kaio: ela... – pensei duas vezes. Mel – estava fazendo bolinhas de sabão, deixou um pouco de líquido cair e escorregou – cortei a parte da mesa um tanto em dúvida se iria ajudar mesmo – logo em seguida a loucura começou.
Helena: ai meu Deus... – colocou a mão sobre o peito – a minha filhinha... – se sentou novamente – será que ela vai parar de andar?
kaio: oh, não seja dramática! – nisso o médico apareceu na sala de espera e nos reportou a informação de que a perna da pequena Mel deveria ser engessada, uma vez que estava quebrada. Disse que não era nada grave, mas que deveria ser acompanhado de perto. Aos seis anos ela tinha tudo para se recuperar logo.
Permaneci alguns minutos encostado na sala de espera aturando os médicos e o desespero de Helena. Fiquei com certa dó vendo-a ali daquele jeito, vulnerável e ao mesmo tempo tentando manter uma casca ao seu redor. Sentei-me ao seu lado querendo consolá-la quando seus soluços estavam altos demais, porém a coragem de passar o braço ao seu redor me faltou. Ela ainda era durona, havia me dispensado.
Helena: não acredito que deixei isso acontecer com a minha filha – suspirou mais para si mesma do que para mim – sou a única responsável por ela e... Sempre disse que nada de ruim iria acontecer e agora isso... – uma lágrima desceu por seu rosto e me deixou um pouco sensibilizado.
Helena era mãe solteira. Enfrentava tudo sozinha. Não era fácil, eu sabia... Minha mãe fora mãe solteira de três filhos, incluindo eu e minhas duas irmãs menores.
Kaio: a culpa não foi sua – sussurrei do modo menos comprometedor que consegui – foi um acidente, poderia ter acontecido com qualquer pessoa. É coisa de criança...
Helena: mesmo assim – não usou um tom ríspido, foi até educada. Limpou a lágrima quando o enfermeiro disse para irmos acompanhar enquanto engessavam a perna dela. Entrei na sala junto a Helena que não recusou minha companhia.
Enfermeiro: pronto! Ai estão seus pais – disse para a pequena Mel, que estava sentadinha e quieta sobre uma maca colorida com a perna ainda lesionada. Não chorava mais, devido ao efeito da injeção para dor. Quando nos viu, a garotinha abriu um sorriso enorme com os olhos brilhando. Cheguei a pensar que nem iria se lembrar de mim, mas me enganei.
Mel: mamãe... Kaio! – sorriu mais ao meu ver, esticou a mão em nossa direção e fiquei pensando onde a pequena Mel havia aprendido o meu nome.
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Atualizado até capítulo 53
Comments
Maria De Fatima Carvalho
como ela sabe o nome dele
2024-09-04
1
Jô Silva
como ela sabe o NOME dele
2024-01-12
0
graca lobo
😂😂😂😂😂😂😂agora ferrou tudo, a Mel virou amiga do kaio😍
2023-11-04
4