Noite das garotas

Luma

-Não acredito que vocês estarão em Nova Iorque ao mesmo tempo. Com certeza é o destino, Luma!

-Pois é, a essa hora ele já deve ter chegado lá. Mas não vamos nos encontrar, nem nada.

-Como não? -Sarah me olha surpresa. -Achei que a essa altura vocês já teriam no mínimo trocado telefones.

-Não, é tudo muito complicado com ele. E ele não quer nada sério. Pelo menos é honesto em relação a isso. Mas fica me dando uns sinais estranhos, sabe?

-Como assim, amiga?

-Ah, não sei. Talvez seja só coisa da minha cabeça. -Dou de ombros.

-Realmente, você analisa demais as pessoas. Às vezes ele só está sendo ele mesmo e você já está criando algum tipo de teoria da conspiração. -Ela faz uma careta e depois ri. -De toda forma, acho bom você levar todos aqueles vestidos novos que comprou e as lingeries também. Nunca se sabe…

-Quanto a teoria da conspiração, é exagerado mas você tem razão em parte. E quanto a Nova Iorque, com certeza vou levar todas aquelas roupas. Quem sabe não encontro meu príncipe lá. -Digo piscando deliberadamente. -Mas e você e Paul, como estão?

-Ah amiga, você sabe… Paul é muito oito ou oitenta, quando está bem é tudo muito bom, mas quando acontece alguma coisa, ele é o drama em pessoa.

-Jura, parece alguém que conheço, uma tal de Sarah, sabe?

-Hahá, muito engraçadinha. -Sarah mostra a língua. Me levanto avisando que estarei no quarto fazendo as malas. A amizade dela é muito especial e nunca escondemos nada uma da outra.

Durante o restante do dia, organizei as malas, escolhendo roupas, compondo looks, embalando sapatos, montando necessaire de higiene, de maquiagem, de skin care, de esmaltes e até mesmo de remédios. Meu Deus, ser uma mulher vaidosa é exaustivo. Quando termino já é início de noite. No Brasil nós comeríamos arroz, feijão e alguma proteína, mas aqui não existe esse costume e depois de alguns anos, acabei me acostumando a comer lanche ou qualquer coisa do tipo durante o jantar.

-Amiga? -Grito para que Sarah consiga me ouvir.

-Já vou. -Ela responde saindo do quarto e me encontrando na cozinha.

-O que você acha de bebidas e brigadeiro?

-Tá falando sobre encher a cara de álcool e gordura? Eu topo!

Pego o carro e vamos até o mercado, pegando tudo que precisamos para preprar um brigadeiro, alguns fardos de cerveja, uma garrafa de tequila, sorvete de flocos e algumas besteirinhas e voltamos para casa. Enquanto cozinho o brigadeiro, começamos nossa saga de encher a cara, na terceira garrafa de cerveja o brigadeiro já está na geladeira e nós já devoramos alguns pacotes de salgadinho. Todo mês temos uma noite assim, Paul chama de “noite das garotas” e eu adoro.

-Eu tive uma ideia. -Sarah me encara com olhar travesso.

-Por que eu tenho a sensação que não vou gostar?

-Vou ligar para o Paul e convencê-lo a mandar o número do Jordan.

-Certo. Para quê, exatamente?

-Para você ligar para ele, ora?!

-Acho que você já bebeu demais. -Dou risada.

-Vou ligar.

Como sei que não tenho escolha, deixo Sarah fazer o que quer e talvez eu também já tenha bebido demais, porque estou achando a ideia muito divertida. Ela liga e coloca no viva-voz, enquanto chama eu vou buscar o brigadeiro na cozinha.

-Oi amor. -Paul atende no exato momento que retorno à sala.

-Paul, preciso do telefone do Jordan. Ah e você está no viva-voz.

-Pra quê precisa do telefone dele? Espera, você bebeu?

-Sim. -Sarah me olha e ri. Acabo rindo também, ela fica engraçada quando bebe.

-Deixa eu advinhar, noite das garotas?

-Siiim. -Nós gritamos juntas.

-Ah, oi Luma. Vou te mandar o número dele por mensagem e não quero nem saber o que vão fazer. Juízo meninas.

-Obrigada meu amor. -Sarah desliga. -Pronto, agora você liga para ele.

-Tá bom. Me fala o número. -Sarah começa a dizer os números e eu digito no meu celular, rindo feito uma boba, como uma criança fazendo arte. Pego uma colher cheia de brigadeiro enquanto espero ele atender.

-Põe no viva voz. -Sarah diz empolgada.

-Claro que não. -Dou risada, ele atende. Puta merda.

-Alô?

-Ele atendeu, o que eu digo? -Pergunto a Sarah, esquecendo de tirar o celular do ouvido.

-Eu não sei, diz que quer transar com ele em Nova Iorque. -Ela ri.

-Luma, é você?

-Oi, Jones. Sarah disse que é pra eu dizer que quero transar com você em Nova Iorque. Ela está certa, eu quero mesmo. -Solto um risinho.

-Luma, você andou bebendo?

-Ora, ora, temos um Sherlock Holmes por aqui.

-Porra, Luma. Onde você está?

-Em casa, segura e protegida.

-E quem mais está aí? -Percebo a irritação em sua voz.

-Tem um cara, eu tenho que ir porque ele está me chamando. -Olha para Sarah que se diverte e faz sinal positivo com os polegares, me incentivando.

-Como assim um cara, que porra é essa? -Ele se exalta, quase gritando.

-Calma meu amorzinho. É brincadeira, só tem a Sarah aqui. Oi amiga. -Digo dando um tchauzinho a Sarah, que ri da situação. Okay, talvez eu esteja bêbada demais. Hora de encerrar essa chamada.

-Luma, que brincadeira é essa? Sabe que não posso fazer nada de onde estou.

-Eu vou desligar Jones. Ai droga! Caiu brigadeiro nos meu seios, vou limpar, um beijo.

-Espera, me fale mais sobre o brigadeiro no seios…

-Tchau, Jordan. -Desligo rindo, claro que não derramei brigadeiro nos seios, mas queria que ele me imaginasse dessa forma e parece que deu certo.

-A parte do brigadeiro nos seios foi maldade, mas eu adorei. -Sarah aplaude.

-Deus! Somos péssimas quando bebemos. -Digo sentindo uma pontada de culpa.

-Eu não fiz nada, você é a única culpada aqui.

-Ah, então é assim Sarah Cortes… -Jogo uma almofada nela, que revida iniciando uma guerra. Rimos muito e bebemos mais e comemos porcaria e nos sentimos completas com a presença uma da outra.

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