Capítulo 16

Depois de conversar com Leon, fui direto ao meu quarto.

Apesar de ter dormido tanto tempo, eu ainda me sentia muito cansada.

Quando eu estava prestes a abrir a porta, senti uma aura maligna, mas ao mesmo tempo familiar ali dentro.

A porta se abriu sozinha, e eu vi minha mãe sorrindo através do espelho que ali havia.

Eu me aproximei lentamente, esperando que ela dissesse alguma coisa.

-Lillyan, por que você fugiu? Não sabe como Claire e eu estávamos preocupadas!

(Você está preocupada?)

-Será que dá para poupar o fingimento? -Meu tom é de total desprezo.

O sorriso dela desapareceu.

-Resolveu me desobedecer? Por acaso esqueceu que tem consequências?

-Eu cansei de estar presa a você, alguém que só pensa na própria pele e não se importou de matar a própria irmã!

Nem um pingo de remorso havia no olhar dela.

-Desde quando o que eu fiz foi errado? Eu precisava sobreviver, e foi isso que fiz.

-Você nem ao menos se arrependeu…

-Deveria? O mundo é para os fortes, se você não sabe se virar, porque viver?

-Não acredito que eu achei que você fosse uma boa pessoa…

-Haha… Ah, o que foi? Está decepcionada? Então por que não vem até mim sozinha para resolver as coisas?

-Para você me matar?

-Eu tenho meus métodos de te fazer voltar para casa, Lillyan! -Ela sorriu novamente.

Em seguida vejo Claire totalmente machucada e cheia de cortes.

-C-Claire!

Seus olhos estavam fechados, e seus braços amarrados.

(Por favor, esteja viva…)

Percebendo meu desespero, minha mãe me olha curiosa.

-Pelo visto você se importa demais com essa coisa aqui?

-Ela foi a única que cuidou de mim na sua ausência… -Eu estava tentando segurar minhas lágrimas.

-Viu? Esse é o seu problema, Lillyan. Você é muito sentimental, como poderia sobreviver sozinha no mundo desse jeito? -Ela chega perto de Claire.

-Sai de perto dela! -Eu grito.

-Se quer que ela continue viva, volte imediatamente!

Eu mordo a língua tão forte, que sinto gosto de sangue.

Eu não queria ir, mas a vida de Claire está em jogo.

(Claire…)

-E-Eu vou… -Dessa vez, minhas lágrimas caíram.

-Use esse livro que carrega como troca.

Eu nem ao menos relutei, sai apressada chorando.

(A Claire não, por favor!)

Eu corri até aquele lugar, e gritei para que abrisse o portal.

-Por favor, abre o portal… Para o mundo humano…

-Está apressada demais, onde está a troca?

Eu coloquei meu livro de feitiços no chão…

-Não deveria dar algo tão valioso, você irá precisar no futuro.

-A vida de uma pessoa querida é mais valiosa do que um livro.

-Sabe do que está falando? Esse livro é…

Assim que o portal se abre, vou até ele com pressa. Mas logo eu sinto mãos me puxando antes que eu entrasse.

Leon e Mallia me agarram com tudo.

-Não vai! É uma armadilha, você sabe!

-Mas a Claire…

-Lillyan, você vai por tudo a perder se for, e ela irá conseguir o que quer! -Leon súplica com os olhos.

-A Claire foi a única que cuidou de mim…

-A gente entende, mas se você for, pode acabar morrendo!

-Eu não me importo! Eu nunca pedi para nascer…

-Sai dessa! Você não age assim!

-Vai atravessar ou não? -A voz nos interrompe.

-Me desculpem… -Eu lanço um pequeno feitiço em Mallia e Leon e corro para dentro do portal.

Como estávamos perto, eles também conseguiram entrar.

Eu corri desesperadamente até a minha casa.

-Por favor, esteja bem!

Minha lágrimas continuaram a cair.

-Lillyan! -Leon me grita.

Eu o ignoro completamente.

Eu estava chegando perto do parque, onde provavelmente eu esqueceria tudo.

Eu passei esperando que acontecesse, mas eu permaneci intacta.

De alguma forma, eu senti que isso foi coisa da Mallia, mas eu não tinha tempo de pensar em como ela fez isso em poucos segundos.

Quando eu cheguei perto de casa, Leon me segurou enquanto Mallia colocava algo em minhas mãos.

-Lillyan, chega!

Eu tento usar meu poder, mas não consigo.

-Desista, essas algemas são feitas para para evitar que seus poderes saiam. Não vai conseguir usá-los por um tempo.

-Não… Eu tenho que salvar a Claire…

Logo, Mallia cria uma barreira sobre nós. Algo bate no escudo levemente.

-Eu sabia… Olivia sabe que não pode nos enfrentar agora, e está tentando nos fazer esquecer tudo…

Nós escutamos uma voz.

-Foi uma escolha sua, Lillyan. Diga adeus a Claire!

-Não!

De repente, a minha casa explode.

Eu escuto um zumbido no meu ouvido, e por segundos, me sinto desligada da realidade.

-Lilly?

-Lillyan! Está me… Ouvindo?

Logo, eu volto a mim, e o choque de realidade me faz cair de joelhos. Leon vai junto porque estava me segurando.

-Claire… É tudo culpa minha…

Eu chorei ainda mais.

-Lillyan, a Claire já estava morta quando Olívia entrou em contato com você… Ela te enganou.

-Do que isso importa? Se eu não tivesse desobedecido a minha mãe, a Claire ainda estaria…

-Lillyan! -Leon me força a olhar para ele. -Você está voltando a ser como antes, um fantoche da sua mãe… Você não precisa obedecer alguém como ela… -Ele me abraça. -Não foi culpa sua!

Eu não dei resposta, continuei chorando. Leon me carregou até o reino das sombras.

Felizmente, Mallia havia pego algo para fazer a troca caso precisasse.

Nós passamos pelo portal, então eles soltam as minhas mãos.

-Não…

Continuei choramingando, enquanto eles me olhavam preocupados.

-Lillyan, vamos vol… -Leon tenta tocar em mim, mas eu bato na mão dele.

Eu me levanto e corro para bem longe.

Eles me gritam, mas eu adentro ainda mais na floresta.

Quando consigo despistar eles, eu paro e me sento perto de uma árvore.

Logo começa a chover.

(Ótimo, igual aos filmes, sempre chove quando alguém está triste…)

-Eu vou matar todos que estiverem perto de mim? Agora foi a Claire, e logo será o Leon… Eu sou uma ameaça, seria melhor se eu não existisse…

-Não fala isso! -Leon aparece sozinho.

Antes que eu pudesse correr, ele me abraça forte.

-Lilly… Posso te chamar assim?

Eu não o respondi.

-Lilly, você não é uma ameaça!. A culpa são daquelas pessoas…

-Aquelas pessoas são os meus pais, Leon… Eles que causaram tanta infelizmente ao seu reino, a mim, a Claire e também a Yara.

-Isso não significa que você vai ser igual a eles.

Eu aponto a mão para o coração de Leon.

-Tem certeza? E se eu te matasse agora?

-Seria o destino, não poderia fazer nada.

Eu abaixo a mão.

-Vai aceitar tão fácil? Eu te disse que sou eu quem vai matar você…

-Lillyan, olha para mim. -Ele puxa meu rosto em direção ao seu.

-Por acaso você vai me beijar?

-Eu deveria? Não sei como é a sensação… Nós estamos destinados a nos amar não é?

-Mas eu não sinto nada agora além de tristeza…

-Eu também não sinto nada agora, mas o que isso importa?

Então ele me beija...

Inicialmente foi estranho, já que nenhum de nós tinha experiência, mas logo, se torna intoxicante. Ele dá leves mordidas nos meus lábios, e em seguida usou a língua.

Não era ruim, na verdade, acabei me deixando levar um pouco.

Não durou muito tempo.

-Vamos embora? -Leon me pega no colo.

-Você está me perguntando realmente?

-Mesmo que dissesse que não, eu ainda te levaria.

Ele me olha com um brilho nos olhos.

-Lillyan, se estivermos destinados a estarmos juntos, e se eu tiver que morrer… Eu não me importarei.

-Você vai se arrepender dessas palavras…

-Talvez, mas se esse é o destino, estou disposto a tentar te amar.

-Leon, eu não quero amor, então não precisa de forçar a me amar também apenas porque o destino escreveu assim.

-Lillyan, eu sinto que não tenho mais um sentido de vida além de vingança, e isso está me corroendo. Não me importo que eu esteja forçando a mim mesmo, eu quero sentir outras coisas…

-Leon… Por favor, não tente me amar a não ser que seja genuíno. Eu não preciso de ninguém… Eu não aguentaria ver você morrer também por minha culpa.

Ele beija minha testa.

-Tudo bem.

Ele me leva, não demora muito até que encontremos Mallia.

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