Claire estava com medo de que eu desaparecesse de novo, e com isso, acabei ficando mais presa do que antes. Eu me lembro que eu estava perto do chafariz, e que eu havia escutado alguma coisa… Mas o que aconteceu depois eu não consigo me lembrar.
— Lillyan, sua mãe está aqui.
— Ah… Certo, eu já estou indo.
Eu finalmente ia ver minha mãe depois de tanto tempo. Claire contou provavelmente o que aconteceu para ela, então eu já esperava que tivesse consequências. Minha mãe nunca foi carinhosa, nem ao menos parecia se importar comigo. Por alguma razão, ela não me deixava sair, e o único amigo que tenho é Edward.
Eu segui em direção até a sala, minha mãe estava com um rosto inexpressivo como sempre.
— Sente-se!
Eu faço, sem dizer uma palavra.
— Onde você esteve?
Permaneci quieta, afinal nem mesmo eu sabia a resposta.
— Me responda, William! — Ela bate na mesinha com toda força.
Eu já estava acostumada com coisas assim, então nem mesmo tive reação.
— Ah… Onde eu errei? No fim, eu deveria ter escolhido a outra… -Ela sussurra.
Aquelas palavras… Eu ouvia sempre ela dizer coisas estranhas assim, como se pudesse me trocar. Ela nunca foi clara sobre nada, mas eu também não procurei saber.
— Esse é meu último aviso, se você sair dessa casa, pode dar adeus para aquele seu amiguinho!
Ela sai, me deixando a sós com Claire.
— Ela não mataria o Edward, né? — Aperto minha mão.
— Ela só está irritada, tenho certeza que a senhora nunca faria nada assim!
— Eu não tenho tanta certeza…
Claire me disse que minha mãe foi embora novamente, e como sempre, eu estava sozinha.
Mesmo em uma casa tão grande, não havia muito o que fazer. Eu gostaria de poder ir para a escola, Edward me disse ser chato, mas nos livros que li, dizia ser divertido. Me joguei na cama, dormir é a única coisa que me restava no momento. Pela primeira vez, eu não tive nenhum pesadelo ou sonho estranho. O estranho é que isso não me fez sentir melhor ou aliviada.
Eu estava preparada para outro dia entediante, mas Edward veio até mim.
— Eii, abre um sorriso, vai! — Ele estava otimista.
Dou um sorriso.
— Não assim, quero um genuíno.
Ele aperta minhas bochechas.
— Ed! Para…
— Suas bochechas são tão redondas, é ótimo apertar.
Ele ri, e eu acabo me contagiando com a risada dele.
— Quer sair?
— Mas a minha mãe…
— Lilly, você parece estranha desde ontem, talvez se sairmos, você se sinta melhor.
— Eu não posso, minha mãe vai fazer algo com você.
— Ela não pode me matar, então fica tranquila.
— Como você sabe que é isso?
— Ela já me ameaçou assim várias vezes. — Ele ri.
— Por que está rindo?
— Eu não me importo se ela fizer isso comigo, não posso ficar parado esperando que você sofra por culpa dela.
Edward é esse tipo de amigo, ele não se importa em arriscar tudo pelo bem de quem ele gosta. Eu ainda estava hesitante, mas no fim, Edward conseguiu me convencer. Eu não poderia sair de dia, já que Claire estava na minha cola. Edward e eu decidimos tentar de madrugada. Já era uma da manhã quando Edward apareceu no jardim.
(Eu sempre me perguntava como ele entrava aqui, finalmente descobrirei.)
— Como vamos sair?
— É um segredo, então feche os olhos!
Faço o que ele pede.
— Sabe, eu quero saber como você faz.
— Apenas continue curiosa, não posso te dizer tudo sobre mim assim.
— Mas não somos melhores amigos?
Ele dá uma pequena pausa.
— Somos… Mas tem coisas que os melhores amigos não contam, afinal todos temos segredos.
O tom dele era sério, me fazendo compreender que eu não deveria mais perguntar nada.
— Pronto.
Abro meus olhos, vendo pela primeira vez o mundo fora dos muros da minha casa.
— Então, aonde vamos?
— Somente me acompanhe.
Edward me leva até um lugar não muito longe da minha casa.
— Ah… Ed, que lugar é esse?
— É um parque de diversões.
— Não são só para crianças?
— Claro que não, venha. — Ele me estende a mão.
Andamos até o que parece ser um carrossel.
— Parece que você sabe o que é isso.
— Ah, eu acredito que sim… A discrição é igual a algo que li em um livro.
— Então, quer tentar? — Ele sorri.
— Claro. — Eu também abro um sorriso.
Depois, fomos em vários brinquedos diferentes. O tempo passa, e já era quase cinco da manhã.
— Eu achava que esses lugares não ficavam abertos de madrugada.
— Esse aqui não fica, mas eu aluguei.
— Você o quê? Mas você disse que não tinha dinheiro…
— Eu também te disse que tenho meus segredos. — Ele toca minha testa.
— Sabe, a Claire me disse que você não era rico.
— Ainda com isso? Claire é apenas minha prima, mas não sabe muito sobre mim.
— Certo, já que você diz… Enfim, logo a Claire irá passar no meu quarto, ela normalmente vai ver se está tudo bem às seis horas. Algumas vezes que estive acordada, percebi a presença dela lá.
— Sua mãe é realmente exigente.
— Ah, talvez ela ache que vou fugir de madrugada e não voltar, igual a agora.
— Mas você pretende voltar.
Ed e eu rimos.
— Sabe, você está diferente. Normalmente é mais quieta, até seu tom de voz está mais alegre.
— Ah… Eu não havia percebido. — Continuo sorrindo.
— Que tal irmos naquele último brinquedo antes de voltar? — Ele aponta para a roda gigante.
— Não seria má ideia!
Caminhamos até lá, Edward comprou algodão-doce antes de irmos, era algo que nunca experimentei. Quando estávamos prestes a chegar na roda gigante, algo me afetou. Sinto como se houvesse algo quebrando dentro de mim.
— E-Ed! — Minha cabeça e meu corpo doem.
— Lilly? — Ele se aproxima desesperado.
Sinto uma grande falta de ar.
— M-Me aju…
De repente, vários acontecimentos vêm à minha cabeça. Eu me lembro de Leon e Mallia, e tudo que escutei sobre a minha mãe.
Logo, eu me sinto diferente outra vez. Era como se eu estivesse livre de algo.
— Lillyan, vamos voltar!
— Não! Eu não posso.
— Já se sente melhor?
— Sim, mas eu não posso voltar.
— E por que não?
— A minha mãe… Ela é perigosa… Ela não é quem aparenta ser.
— Do que você está falando, Lillyan? Se você não voltar, para onde vai?
— Posso ficar com você?
— Eu… -Ele parece pensar muito. — Talvez você ache estranho o lugar onde eu moro.
— Tudo bem, eu não me importo!
Caminhamos até a entrada do parque, que fica na volta de onde viemos. Mas assim que dei um passo, algo estranho aconteceu.
— Edward…
— Sim, Lilly?
— Para onde estamos indo?
— Você… Esqueceu?
— Eu… Não entendo… Parece que algo desapareceu da minha mente do nada.
— Lilly, você me disse que não podia voltar para casa, que sua mãe era perigosa e que ela não era quem aparentava.
— Eu disse? Não tem como, minha mãe é apenas a minha mãe, por mais que ela ameaçasse, seria incapaz de matar.
— Lilly… -Ele me olha preocupado.
— Mesmo assim, eu não vou te levar para casa, tudo bem?
— Não… Preciso voltar, não posso desobedecer.
Eu nunca compreendi, por mais que eu quisesse, não consigo ficar longe de casa.
— O sol já está nascendo, me leva para casa, por favor!
Edward parecia hesitante, mas acabou fazendo o que pedi. Antes que saíssemos, percebi que alguém estava nos observando de longe, mas não senti curiosidade de ver quem era.
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Atualizado até capítulo 37
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