Um convite especial

Após almoçar com seu pai e sua filha Matheo vai até o restaurante, ele fica abismado pelo fato de não haver nenhum vestígio daquela noite. Segundo os funcionários o restaurante estava impecavelmente limpo quando eles chegaram. Matheo havia dado folga a eles, disse que havia alugado o restaurante por uma noite para um jantar especial. Como não perderiam o dia e ganharam uma folga em plena sexta feira ninguém questionou a decisão de Matheo, apesar de parecer estranho. Olhando tudo agora seria impossível acreditar que na noite passada havia dois homens mortos ali, que ele havia deixado a cozinha toda bagunçada ao fugir. Ele próprio ainda custava a acreditar em tudo que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas.

A movimentação do restaurante estava bem tranquila então Matheo disse que não voltaria mais naquele dia. Beatrice sua gerente fecharia o restaurante pra ele, mesmo achando estranho o comportamento de Matheo, nem ela nem os outros funcionários questionaram nada. Matheo não quis contar ainda sobre o casamento, era algo que ele próprio estava tentando digerir. Ele voltou para a casa do pai pois tinha que dar um jeito de contar para Anna, como ele ainda não sabia mas precisava falar com a filha.

Matheo retornou a casa do pai já no final da tarde, Ângelo estava assistindo um filme com Anna, Matheo riu ao parar na porta e ver os dois sentados no tapete da sala com uma bacia de pipoca assistindo Kung fu Panda. Anna dava risadas enquanto Ângelo se divertia com ela. Matheo parou ali e ficou observando a cena pensando em como a vida deles seria depois que se casasse com Giovanna. Teria que morar naquela mansão, conviver com uma mulher que tinha uma pedra de gelo no lugar do coração, ele ainda perguntava a si mesmo como conseguiu se meter nessa confusão toda. De repente Anna se levanta imitando a Tigresa (personagem do filme) então ela vê o pai e sai correndo até ele.

Anna: O papai chegou vovô eeeeeeh vem papai, vem ver o Panda que legal!!

Pulando e rindo com uma alegria contagiante Anna puxa Matheo para o sofá, ele resolve curtir o momento, senta-se no chão junto com eles e assiste o filme também, afinal depois que fossem para aquela casa ele não sabia quando teria outra oportunidade de estar assim tão a vontade com sua filha.

Após acabar o filme Matheo recebeu um telefonema, pela cara que ele fez seu pai sabia que devia ser a "noiva". Depois que desligou Matheo disse ao pai que Giovanna os havia convidado para almoçar em sua casa, para que ela pudesse conhecer seu pai e sua filha. Matheo gostaria de poder dizer um não bem sonoro pra ela, manda-la procurar outra pessoa pra cumprir esse papel, mas ele sabia que não podia então simplesmente disse "ok nós iremos". Ângelo pediu a Matheo que ficasse, havia algumas roupas dele e de Anna ali então não seria problema, ele resolveu ficar, precisava conversar com Anna e definitivamente não queria fazer isso sozinho.

Matheo colocou Anna na banheira de espuma, enquanto dava banho na filha começou a contar a ela sobre o casamento. Anna era uma garota esperta, inteligente, ela escutou atentamente tudo que o pai disse. Matheo se sentia culpado por mentir para a filha, ele disse a ela que Giovanna era uma moça muito bonita e muito rica que ele havia conhecido no restaurante, que ele a levaria para almoçar na casa dela junto com seu avô, deixou claro para a filha que ninguém jamais substituiria sua mãe. Apesar de não se lembrar da mãe, Matheo sempre fez questão de falar de Laura para a filha, sempre mostrou fotos pra ela, quando Anna perguntou pela primeira vez onde ela estava Matheo disse que ela precisou ir morar lá no céu junto de Deus. Era difícil falar da morte para uma criança, mas Anna encarava de forma natural o que Matheo lhe contou. Estava sendo mais complicado pra ele explicar agora como de uma hora pra outra surge uma noiva do nada.

Anna: Papai eu quero vê a moça. - ela pede enquanto Matheo enxuga seu cabelo - Eu pode papai vê a moça?

Matheo: Claro que pode filha - ele faz cócegas nela - e não é "eu pode", é eu posso.

Os dois dão risada e Matheo termina de arrumar a filha, eles vão pra cozinha, Matheo prepara um jantar rápido, enquanto eles comem Anna bombardeia Matheo com várias perguntas, felizmente todas fáceis de responder. Na sua ingenuidade de criança Anna queria saber se podia ir na casa de Giovanna com seu vestido de borboleta, se ela poderia ter um cachorrinho, se na casa tinha televisão e outras perguntas inofensivas, que no fim das contas fizeram Matheo relaxar um pouco da tensão que estava sentindo.

Depois que Anna dormiu, Matheo e Ângelo ficaram na cozinha conversando enquanto tomavam um vinho, quando foram dormir já era mais de meia noite, Matheo deitou na cama e ainda ficou acordado por um tempo pensando nos últimos acontecimentos, as vinte e quatro horas mais loucas de sua vida. Ele riu ao lembrar do pai dizendo "veja pelo lado bom filho, pelo menos é uma bela mulher".

Matheo acordou cedo, seu pai e Anna ainda estavam dormindo. Ele foi até a cozinha preparar o café, fez uma pequena fornada de brioches, eram os pães preferidos de Laura e agora também de Anna. Fez uma geléia de amoras que era a preferida da filha, salpicou alguns com açúcar como o pai gostava. Para Matheo cozinhar era uma terapia, era o momento que ele se sentia leve, livre de qualquer preocupação.

Ângelo acordou fez sua higiene e foi tomar café, Anna acordou logo depois, com seu cabelinho bagunçado, esfregando os olhos ela correu até a cozinha quando sentiu o cheirinho dos brioches que Matheo acabara de tirar do forno. Ele pega Anna no colo e a leva para fazer sua higiene matinal, enquanto ela escova os dentes Matheo penteia seu cabelo fazendo um lindo rabo de cavalo que deixa Anna com uma carinha de sapeca.

Eles tomam o café da manhã juntos, a cada refeição, a cada momento com Anna e seu pai Matheo fica tentando imaginar como será após o casamento com Giovanna. Quando se casou com Laura ele se lembra de sentir uma ansiedade gostosa, era mais do que isso, era a expectativa de um momento desejado, esperado. Agora era diferente, Matheo se sentia mais como alguém que havia sido condenado e não tinha como escapar de sua sentença. Durante toda sua vida Matheo sempre foi livre, desde a adolescência seus pais sempre lhe deram autonomia para viver, e ele sempre exerceu esse direito com muita maturidade e responsabilidade. Para ele a vida estava realmente sendo muito injusta, colocando-o nessa situação.

Como não havia escolha, após arrumar a cozinha do café eles foram se arrumar para ir à casa de Giovanna, ela havia avisado que um motorista iria buscá-los às onze horas. Pontualmente o motorista chegou e lá se foram eles, Anna estava animadíssima para conhecer a "namorada do papai", Ângelo também estava bem curioso apesar de sentir pena da situação difícil que seu filho estava vivendo. A única coisa que consolava Matheo era o fato desse casamento não ser algo permanente, no contrato Giovanna deixa claro que no máximo em um ano eles poderão se separar. Finalmente eles chegam a casa de Giovanna, Matheo respira fundo ao sair do carro com Ângelo e Anna e juntos se encaminham para as portas da imponente mansão.