A vida por um fio

Matheo foi surpreendido pelo homem e seu filho, eles mandaram ele entrar no carro, colocaram um capuz nele e o levaram. Matheo rezava silenciosamente, pensava na filha o tempo todo, um medo avassalador tomava conta dele, não da morte em si, o que aterrorizava Matheo era nunca mais poder ver Anna, seu sorriso preguiçoso de manhã, quando ele a acordava para a creche, suas manhas quando não queria comer legumes, a forma como ela o abraçava quando percebia que ele estava triste.

Uma angústia tomava conta de Matheo, ele sai de seus pensamentos quando o carro estaciona, um silêncio mortal, eles o puxam para fora do carro, uma porta se abre, ele é empurrado para dentro, ouve uma cadeira sendo arrastada, ele é empurrado nela e sente suas mãos sendo amarradas e só então retiram o capuz de sua cabeça.

O homem que o ajudou não está mais ali, apenas seu filho com dois seguranças. Ele pergunta a Matheo o que ele viu e ouviu, como não obteve resposta ele dá um soco no rosto dele e repete a pergunta. Dessa vez Matheo diz que não viu nada, mas o rapaz sabe que ele está mentindo, mais socos são desferidos contra Matheo, sangue jorra dos seus lábios feridos. Um dos seguranças traz um balde de água com gelo e joga em Matheo, mesmo estando na primavera a noite está fria e ele começa a tremer. O homem pega então um taser e dá vários choques em Matheo que acaba desmaiando. Eles o deixam ali então, talvez de manhã ele resolva contar exatamente o que viu e ouviu, se chegou a ligar para alguém. Não que fosse fazer muita diferença, afinal ele morreria depois de qualquer forma.

Matheo acordou no meio da madrugada, sentado com suas pernas dormentes, molhado e com muito frio. Gritou várias vezes mas tudo que ouvia era o eco de seus próprios gritos dentro do galpão. O lugar estava escuro e silencioso, quando finalmente amanheceu Matheo estava tão exausto que acabou dormindo, despertou com alguém batendo no seu rosto.

Ele acorda e o rapaz está ali novamente, dessa vez está com o pai. Ele estende um tablet diante do seu rosto e liga, Matheo sente o coração parar por alguns segundos enquanto vê as imagens na tela. Sua doce e pequena Anna com seu pai no jardim que era de sua mãe, os dois regando as flores. Lágrimas escorrem no rosto de Matheo enquanto ele observa Anna com seu vestido rosa com asinhas de borboleta nas costas, ela corre entre os canteiros de jasmim, a flor preferida de sua mãe.

De repente Matheo se desespera quando a imagem mostra ali do lado de fora da casa de seu pai dois homens vestidos de preto, eles observam Ângelo e Anna sem que eles percebam.

Matheo: Porque está fazendo isso? - ele chora pela filha - Deixa eles em paz. Quem são vocês? Porque tudo isso?

Homem: Quem faz as perguntas aqui sou eu rapaz. - sua voz antes amistosa agora é fria e causa arrepios em Matheo - Você ligou pra alguém quando fugiu do restaurante? Ouviu ou entendeu alguma coisa do que falávamos?

Matheo: Eu já disse que não entendi nada, não vi nada. Eu só quero ir embora daqui.

Homem: Infelizmente isso não será possível. Sinto muito. - ele puxa uma arma e aponta para a cabeça de Matheo.

Enquanto isso....

Giovanna acorda cedo e com dor de cabeça, desde a reunião com o conselho ela não tem dormido direito. Falta dois meses para seu aniversário de trinta anos e ela não faz idéia de como colocará seu plano de contratar um "marido" em prática. Ela faz sua higiene, troca de roupa e desce para tomar café. É sábado de manhã, Giovanna adora a primavera, o jardim que foi de sua avó fica todo colorido com suas inúmeras flores, sua mãe sempre cuidou desse jardim e agora ela também, era o lugar preferido de Giovanna.

Quando ela desce a mesa já está posta e Francesca está ali tomando um café. Giovanna está com um vestido azul, sapatos de salto médio e seu lindo cabelo preto está preso num rabo de cavalo.

Giovanna: Bom dia Chesca!

Francesca: Bom dia querida. Está tão linda! Vai sair?

Giovanna: Infelizmente sim. Um sábado lindo desses e eu tenho o que? Problemas para resolver.

Francesca: Nada grave espero.

Giovanna: Assuntos da máfia, tem dois mafiosos russos nos causando problemas. Quem negocia com eles é o Luiggi.

Francesca: Não gosto daquele homem, nem dele nem daquele filho dele. Sei que ele é caidinho por você.

Giovanna: Aff nem me fale Chesca - ela revira os olhos - Lorenzo é um idiota, mulherengo e sem caráter. Prefiro a morte a ter qualquer coisa com ele. O problema é que é o Luiggi que conhece esses caras e negocia com eles. Mas dessa vez parece que eles estão tentando passar a perna na gente. Luiggi ficou de se encontrar com eles ontem a noite, agora estou ligando ele não me atende. Nem ele nem Lorenzo, provavelmente estão com os russos no galpão.

Francesca: Madona mia! - ela faz o sinal da cruz - Não me acostumo com essas coisas. Ainda acho um pecado uma moça tão linda como você metida no meio disso tudo.

Giovanna: É a minha vida Chesca, minha sina, sempre senti isso, que um dia eu seria a senhora da máfia Salvatore.

Francesca: Espero que isso não destrua a mulher linda e maravilhosa que você é Giovanna. Tenha sempre em mente filha, que Deus existe e cuida de todos nós. Ele observa nossas ações, por isso Gio seja sempre o mais justa possível minha filha.

Giovanna: Porque está dizendo isso Chesca? Você sabe que procuro ser o mais justa possível. Até quando preciso agir na máfia eu só torturo e mato quem realmente precisa. Jamais faria qualquer coisa a alguém inocente ou inofensivo.

Francesca: Sei disso meu amor, você tem o coração maravilhoso de sua mãe e de seus avós.

Os olhos de Giovanna se enchem de lágrimas ao lembrar da mãe, ela levanta, joga um beijo para Francesca e pega sua bolsa. Ela entra no carro e pede ao motorista que a leve até a sede do conselho. Antônio e Lucca estão viajando, Giovanna tem certeza que Luiggi deve ter levado os russos até o galpão. Luiggi e Lorenzo eram dois sádicos, muitas vezes Giovanna interviu nas sessões de tortura, eles faziam aquilo apenas por prazer.

Giovanna olha para suas duas principais seguranças, Sofia e Antonella, todas as duas foram tiradas das garras de Luiggi, as duas o odiavam. Sofia foi pega por roubar um cliente quando trabalhava num dos cassinos de Luiggi e Antonella seria o pagamento de uma dívida de seu pai alcoólatra. Lorenzo estava a ponto de estupra-la quando Giovanna a resgatou das mãos dele. As duas eram as seguranças mais próximas de Giovanna, as que ela mais confiava e eram muito eficientes, tanto na luta corpo a corpo quanto no tiro.

Finalmente chegam a sede, Giovanna sai do carro com as duas e vai direto ao galpão, ela bate na porta e não obtém resposta, ela então bate mais forte.

Dentro do galpão...

Luiggi Manzzini tem sua arma apontada para a cabeça de Matheo, quando ouve batidas na porta. Ele tem certeza que é Giovanna, pois Antônio Machiari viajou com sua família e Lucca Bellucci estava com sua nova amante na sua casa de praia. Ninguém além dos quatro vai até ali.

Luiggi: O que esta saffica faz aqui?? (saffica é o mesmo que sapatão, um xingamento em italiano)

Lorenzo: Não fale assim da Giovanna papai!

Luiggi: O que faremos agora?

Lorenzo: Abrir a porta antes que ela mande derrubar, o senhor conhece a Giovanna.

Luiggi ainda ficou resmungando alguns palavrões enquanto Lorenzo vai abrir a porta.

Lorenzo: Giovanna querida! - ele diz ao abrir a porta fazendo uma reverência pra ela entrar.

Giovanna: Bom dia Lorenzo! - ela diz séria enquanto entra com suas duas seguranças - Quero falar com seu pai.

Luiggi: Olá Giovanna minha querida. - ele sorri falsamente.

Giovanna: Eu estou tentando desde ontem a noite falar com você. Cadê os russos?

Giovanna mal acaba de falar e avista Matheo sentado na cadeira amarrado. Quando Luiggi lhe apontou a arma ele achou que fosse seu fim. Então ouviu as batidas na porta, pelo nervosismo dos dois parecia ser alguém importante. Matheo imaginou uma senhora carrancuda com roupas masculinas e voz grossa, mas quando a porta abriu, o que ele viu através dos seus olhos já inchados pelos socos que levou, foi uma jovem e linda mulher, com um corpo lindo dentro de um vestido azul discreto. Não era muito alta pois apesar do salto ainda era menor que os dois homens. Tinha os cabelos muito pretos presos num lindo rabo de cavalo, usava pouca maquiagem, o que nem lhe fazia falta pois era muito bonita. Seu perfume suave e marcante encheu todo aquele galpão. Sua entrada repentina salvou a vida de Matheo, pelo menos por enquanto.

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