Sem saída

Matheo começa a tossir, fica vermelho, Giovanna séria espera ele se recompor do choque. Ela sabe que foi muito direta mas não havia modos de tornar a proposta mais suave, então ela foi direto ao ponto.

Giovanna: Tudo bem?

Matheo: Sim senhora. Desculpe-me mas acho que não entendi direito.

Giovanna: Pois eu vou lhe explicar Matheo, qual é o problema e onde você se encaixa nele.

Giovanna então explica pacientemente a ele sobre as regras da máfia e quando Matheo a questiona sobre se casar com um estranho ela explica a ele que será uma negociação. Ela diz que o casamento será apenas de fachada, que terão quartos separados e não haverá contato íntimo entre os dois. Depois de uns meses ela fará uma inseminação artificial na qual ele não será o doador portanto no caso da gravidez de Giovanna ele ficará livre de qualquer compromisso moral ou afetivo. Depois de um ano ambos vão estudar a melhor forma de acabar com o casamento, sem que haja escândalos ou questionamento de seus aliados.

Matheo: Eu não sei o que dizer, acredito que mesmo chamando isso de proposta, eu não tenha a opção de recusar, certo?

Giovanna: Você pode recusar se quiser e eu o levo de volta onde o encontrei e faço de conta que nunca entrei naquele galpão.

Matheo: E deixaria o Dom Luiggi me matar. - ele afirma mais para si mesmo - Dona Giovanna...

Giovanna: Pare de me chamar de dona ou senhora, apenas Giovanna.

Matheo: Que seja então, Giovanna, eu tenho uma filha. E como sabe que não tenho esposa, noiva ou namorada?

Giovanna: Não vi aliança em sua mão então imaginei que não fosse casado. E quando você contou sua história lá no galpão, você mencionou seu pai e sua filha, se tivesse mais alguém importante em sua vida provavelmente estaria na mira de Dom Luiggi e você teria mencionado.

Matheo: Estou impressionado.

Giovanna: Não fique, estou apenas acostumada a lidar com situações que exigem sagacidade e saber aproveitar as oportunidades.

Matheo: Então se eu não aceitar você me entregará ao Dom Luiggi e ele provavelmente me matará.

Giovanna: Exatamente Matheo, você não tem escolha. Ou aceita minha proposta ou será um homem morto.

Matheo fica atordoado com o que ouve, como pode uma mulher tão jovem e bela ser tão fria e calculista? Como pode falar de casamento e gravidez como se fosse uma transação comercial? Nada fazia sentido para Matheo, mas ele não tinha saída, tinha uma filha pequena e não podia arriscar sua vida e a de seu pai, pois quem garantiria que Dom Luiggi não mataria a todos? Essas questões passaram em flashes pela mente atordoada de Matheo. A turbulência de pensamentos e questões foi interrompida pela voz de Giovanna.

Giovanna: Oi, dá pra deixar seus delírios pra depois? Preciso que me responda se aceita ou não minha proposta.

Matheo: Se estou sendo obrigado não é uma proposta.

Giovanna: Não estou obrigando, você tem duas opções. Escolha uma e pronto.

Matheo: Casar por contrato ou morrer? Essas são as opções? Muito justo não é?

Giovanna: Eu não sei em que mundo cor de rosa você foi criado Matheo, porque o meu mundo sempre foi cinza, sem opção de cores. Morra ou sobreviva, essa é a escolha!

Matheo se cala diante da amargura e tristeza que pesam na voz de Giovanna. Ele não vivia uma vida cor de rosa, tinha seus próprios demônios interiores para lidar, mas ouvindo aquela mulher falar dessa forma ele percebe o quanto a vida foi generosa com ele. Se apaixonou e casou com uma mulher maravilhosa, mesmo a tendo perdido a vida lhe deu uma filha linda, saudável. Pensando em Anna e no quanto queria vê-la crescer e se tornar adulta, Matheo responde Giovanna.

Matheo: Ok eu aceito sua proposta! Mas tenho uma condição.

Giovanna: E qual seria essa condição?

Matheo: Minha filha, eu não abro mão dela, Anna é meu maior tesouro, minha vida, o motivo que me faz levantar todos os dias. Eu não posso deixá-la.

Giovanna olha atentamente para Matheo, a forma como ele fala da filha faz com que seu coração se aqueça e bata mais forte, uma sensação estranha percorre seu corpo, como se quisesse abraça-lo e dizer que está tudo bem. Giovanna logo afasta o pensamento, olha pra ele e volta a sua frieza habitual.

Giovanna: Não terá que abrir mão de sua filha, eu jamais pediria tal coisa. Você pode trazê-la, e seu pai ficará seguro, não se preocupe, Dom Luiggi não terá coragem de fazer nada contra vocês.

Giovanna pede que Matheo a acompanhe até o escritório, ela já havia preparado um contrato de casamento, estava só a espera de alguém que aceitasse a proposta. Matheo lhe caiu do céu, ela sabia que seria quase impossível convencer alguém a aceitar tal proposta. Outros mafiosos faziam esse tipo de coisa, pegavam moças inocentes como pagamento de dívidas e as obrigavam a se casar, outros casavam-se por conveniência, para firmar alianças. Era o que pretendia Dom Luiggi, queria casar seu filho Lorenzo com ela, pois assim juntaria as duas maiores máfias da Itália, seria a fusão perfeita. Mas Giovanna conhecia muito bem a fama dos homens da família Manzzini, o histórico de mulheres internadas em hospícios como se fossem loucas, suas mortes suspeitas. Giovanna queria distância de Lorenzo, não se casaria com ele nem que fosse o último homem na face da Terra.

Matheo leu cuidadosamente cada cláusula do contrato, Giovanna esperou pacientemente que ele lesse tudo. Não havendo saída Matheo assinou o contrato e no próximo sábado seria o noivado, Giovanna daria um jantar para os aliados e apresentaria Matheo como seu noivo. Marcaria a data do casamento e cuidaria de todos os preparativos, a única coisa que Matheo precisava era explicar essa confusão toda ao pai, e arrumar uma boa história para Anna.

Contrato assinado Matheo se despede de Giovanna e é levado até a casa de seu pai pelo motorista. Matheo não sabe mas Giovanna já colocou seguranças vigiando vinte e quatro horas a casa de Matheo e a de seu pai, como também o restaurante. Qualquer indício dos homens de Luiggi, Giovanna seria avisada imediatamente. O pai de Matheo se assusta ao vê-lo.

Ângelo: Matheo meu filho, onde você se enfiou? Já estava quase indo a polícia dar queixa de seu desaparecimento. Você não foi ao restaurante hoje. O que houve? - ele vê as marcas no rosto de Matheo - Filho o que fizeram com você?

Matheo: Calma pai, eu vou responder todas as suas perguntas. Eu estou bem agora, onde está Anna?

Ângelo: Está brincando com a filha da vizinha, ela já estava ficando chorosa por causa de você.

Matheo: Deixe ela lá por enquanto, melhor o senhor se sentar pai. O que eu tenho pra contar é estarrecedor.

Ângelo senta-se com o filho na mesa e conversam enquanto tomam um café, Matheo conta tudo que aconteceu para o pai, desde o empréstimo com Dom Luiggi até a proposta de casamento de Giovanna. Ângelo ouve tudo boquiaberto com tantas novidades. Seu filho ia se casar com uma mafiosa, viveria numa mansão de luxo para enganar seus aliados, um casamento de fachada em troca de sua vida e a segurança dele e de sua neta.

Ângelo: Filho isso é surreal, não consigo acreditar que esteja acontecendo uma coisa tão absurda dessas com você.

Matheo: Pois é pai, logo eu, um cara tranquilo, nunca havia me metido em nenhuma confusão. Apenas um chef de cozinha viúvo com uma filha pequena pra criar. Agora sou noivo da mulher mais cobiçada do país, que ninguém sequer imagina que seja dona da máfia mais poderosa da Itália.

Ângelo: Que Deus nos proteja!

Quando terminam a conversa ouvem alguém vindo correndo pela porta.

Anna: Papaaaaai! - ela pula no colo de Matheo, que a abraça sentindo seu perfume - Você sumiu papai.

Matheo: O papai estava resolvendo um monte de problemas minha princesa. Desculpa pela demora. - ele abraça a filha novamente - Como é bom abraçar essa borboletinha sapeca.

Anna adora borboletas e flores, tem vários vestidos com asinhas atrás que Matheo descobriu no shopping. Agora Anna queria usar esses vestidos por todo lado que ia. Matheo comprou um rosa, um verde e um amarelo. Anna ficou radiante com os vestidos e Matheo satisfeito pois o sorriso de sua filha valia cada centavo que ele pagou naqueles vestidos. Olhando para ela ele pensava em como contaria sobre o casamento. Decidiu que faria isso depois, ele precisava ir até o restaurante, depois aproveitaria cada segundo ao lado de sua pequena, acharia uma forma de contar a ela sobre o casamento.

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