Era a terceira vez que ele tinha que refazer o relatório em um período de cinco dias; todas as vezes, por um pedido meu. Esperava que dessa vez estivesse bom o suficiente para ser repassado, já que eu não teria coragem de pedir mais uma vez.
O dia se passou sem horas suficientes para que eu terminasse tudo o que precisava ser feito, e papéis e mais papéis não paravam de se acumular em cima da minha mesa.
– Bom dia, linda – Colin tocou em meu ombro e eu senti um arrepio passarpelo meu corpo. Abri um largo sorriso, mas ele já tinha saído. Ele sim era um homem educado e encantador. A linha de chegada para a qual todas as mulheres corriam.
Ele seguiu direto para a copa distribuindo cumprimentos e sorrisos. Espreguicei-me na cadeira tentando estalar a coluna e pensei que esse poderia ser um bom momento para uma pausa para um café.
Passei os dedos pelos cabelos em uma tentativa inútil de arrumá-los. Respirei fundo e me dirigi para a copa. Era agradável ter esses pequenos encontros sociais com o Colin, pois ele tinha um jeito charmoso de soltar comentários simples que faziam com que eu me sentisse especial.
Mal coloquei a mão na porta vaivém e escutei a voz rasgada de Vicent sorrindo lá dentro:
– … umas seis horas. Vamos, Colin! Vai ser divertido.
– Talvez. Pode ser que eu chegue um pouco atrasado, tenho muito trabalhohoje. E você? Já terminou tudo?
– Já. A não ser que aquela mulherzinha irritante me faça ter que começar tudode novo.
A grande quantidade de risadas que ecoaram lá dentro deixou claro que Vicent tinha uma plateia considerável.
– Do jeito que você escreve, eu fico impressionada que não te façam revisartudo! – brincou uma voz feminina.
– Muito engraçado – Vicent devolvia a brincadeira. – Confesso que a canetanão é minha ferramenta preferida – insinuou.
– E qual seria sua ferramenta preferida? – a mulher pronunciava as palavrascomo se elas derretessem na sua boca.
– Ah, meu bem – era quase um sussurro. – Se você tiver um tempinho será umprazer te mostrar.
Mais risos.
– Acho que você devia focar seus agrados na Nahia, Vicent. Eladefinitivamente não gosta de você, hein?
As risadas imperavam no pequeno ambiente enquanto Vicent concluía:
– E aquela ali não precisa de muito, não. Malcomida do jeito que é… Sópreciso dar um sorrisinho e ela vai se derreter com a atenção.
Voltei pra minha mesa sem sequer anunciar minha presença. Tive vontade de mandá-lo refazer tudo, só de birra. Mas, infelizmente, dessa vez o relatório estava bom o suficiente. Terminei o que tinha que fazer e voltei para casa. Esperar o elevador estupidamente lento do escritório tinha sido quase impossível. Tive que engolir minha covardia junto com as lágrimas todo o caminho até o meu lar, doce lar. Descarreguei minha frustração na porta. Coloquei a bolsa em cima da poltrona verde que ficava do lado da entrada e depois alinhei o celular, as chaves e minha caneta favorita no aparador de madeira ao lado da poltrona.
Tomei banho como se estivesse tentando exorcizar algum demônio que tinha entrado no meu corpo através da minha pele. Malcomida, malcomida, malcomida. Tentei ler, tentei assistir televisão, tentei jantar, tentei alinhar e realinhar os itens em cima da minha penteadeira. Mas nada tirava a voz irritante de Vicent dos meus ouvidos. Duas pequenas palavras e eu tinha perdido o controle.
Lavei as mãos e o rosto, sentei na cama, limpei os pés, coloquei primeiro o pé direito em baixo das cobertas. Tive vontade de levantar da cama e fazer tudo de novo, mas fiquei deitada com o edredom em cima da cabeça e os olhos apertados.
Demorei muito para conseguir pegar no sono, mas quando finalmente consegui, o sonho começou sem que eu percebesse.
Eu estava na copa de frente para Vicent.
– Com licença, Nahia – ele sorriu. – Você quer que eu te mostre minhaferramenta favorita? – ele se aproximou e eu senti nojo. Coloquei meus braços estendidos diante de mim como um escudo contra seu toque. Virei-me de costas e pensei em correr.
– Calma! Não vá ainda! – era outra voz que falava agora. Era uma voz suave eencantadora. Olhei de volta. Vicent tinha sumido, o homem atrás de mim era alto e atlético, usava uma camisa de time de basquete e um cabelo loiro curto penteado com um topete discreto. Seus olhos eram verdes e profundos e ele tinha um cheiro delicioso.
Olhei ao redor. Estava incrivelmente ciente de mim e do meu corpo. Sim, eu sabia que estava sonhando. Mas não era como qualquer outro sonho que já tive em minha vida. Eu estava no controle das minhas ações. Mas aquele homem na minha frente… ele estava completamente fora do meu controle. Seja lá quem fosse, não era minha mente quem o tinha criado.
– Eu precisava testar você, primeiro – ele sorriu e eu tive vontade de devolvero sorriso. – Precisava saber se você aceitava realmente qualquer tipo de atenção ou se tinha limites. Mas você vê? O idiota estava errado. Você não se derrete por qualquer atenção. Você sabe dizer “não”.
Eu o observei e abri a boca. Queria falar algo, mas não sabia o quê. Então decidi fechar a boca e deixar que ele continuasse.
– É importante dizer “não”, Nahia. Saber dizer “não” é o primeiro passo parasaber dizer “sim”. Entende? Porque se você não consegue recusar algo, como saber se o que você aceitou foi por opção ou por falta de capacidade de negar?
Certo, já era demais.
– O que é isso? Quem é você? E qual é a da aula de autoajuda?
Ele se aproximou e pegou minha mão.
– Eu sou um amigo. E eu vim pra te ajudar a se descobrir – ele estava muitoperto agora e sua boca estava quase no meu ouvido. – E se você decidir me ouvir, nós vamos partir para uma deliciosa aventura juntos.
Sua voz era sedutora e penetrante, mas havia um som ensurdecedor envolvendo minha mente, gritando “malcomida” nas mais variadas entonações. Meu amigo segurou meu rosto nas mãos, observou meus olhos com uma delicadeza infinita e sorriu.
– Você só é malcomida se escolher maus homens para te comer. E nós jávimos que você sabe dizer não para maus homens, não é?
Eu não sabia se ficava ou não ofendida. Ele estava sendo grosseiro com as palavras, mas seu tom era tão delicado que beirava a mais absoluta das contradições. E além do mais… ele era um sonho. Como ficar ofendida com um sonho?
– Agora só precisamos te ensinar a dizer sim para um bom homem.
Baixei meus olhos e encarei o chão.
– O problema é que bons homens não dizem “sim” pra mim.
Ele levantou meu queixo e alisou minha boca com o polegar.
– Dizem sim. Não é culpa deles se você não está escutando – ele desceu opolegar da minha boca traçando uma linha ao longo do meu pescoço até chegar aos meus seios. Ele tinha um sorriso que fazia minhas pernas tremerem e um cheiro… por Deus! Aquele cheiro… Ele cheirava a perfume, suor e sexo. Se todos os homens do mundo tivessem aquele cheiro, as mulheres gozariam no meio da rua.
Eu me deixei abraçar e percebi que estava nua. Meus braços correram para tentar cobrir minha nudez, mas ele me tinha segura em um abraço envolvente e não permitiu que eu me escondesse.
Respirei fundo e lembrei que era só um sonho. Não precisava ter vergonha de um sonho.
– Agora é a parte que você diz que eu sou a mulher mais linda que você jáviu? – perguntei descrente.
– Você não é a mulher mais linda que eu já vi.
Engoli em seco. Se ele estava tentando me seduzir, aquele comentário não tinha sido muito apropriado.
– Oh – foi tudo que consegui dizer.
– Se você não se acha bonita, Nahia… Por que eu deveria achar?
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Amanda
😯😯😯😯
2023-08-19
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