07

Ah, inferno… Se até o filho americano do Nathan conseguia se divertir nessa cidade, por que eu, que já era residente há alguns anos, não conseguia abandonar meu preconceito?

Um movimento além da janela chamou minha atenção. Meu vizinho “arquiteto” tinha acabado de sair do banho. Usava apenas uma toalha branca enrolada na cintura e ainda estava com o corpo molhado. Meu coração pulou e eu me aproximei da janela, mantendo o corpo contra a parede para evitar ser vista. Não foi muito correto da minha parte ficar espionando meu vizinho, eu sei disso. Mas também não foi correto da parte dele sair andando pela sala só de toalha, foi?

Ele era oriental. Japonês, provavelmente. Tinha os olhos puxados e o cabelo negro extremamente liso e arrepiado. Sei que é clichê dizer que ele devia praticar artes marciais, mas com certeza não se mantém um corpo daquele sem praticar algum tipo de exercício físico com frequência. E ele tinha três daquelas espadas samurais presas na parede, logo acima de um armário cheio de bonecos. Ele também parecia colecionar revistas em quadrinho. Tinha algumas emolduradas espalhadas pela parede. Era estranho, nunca tinha imaginado que um cara que coleciona bonecos e revistas em quadrinho pudesse ser tão gostoso. É sério: dava pra contar os gominhos do seu abdômen, e quando ele usou outra toalha para enxugar o cabelo molhado, dava para ver os músculos do braço se contraindo deliciosamente. Ele tinha uma boca desenhada, um maxilar quadrado e um nariz afilado.

Ele se aproximou do que deveria ser a porta do seu quarto e tirou a toalha. Infelizmente, ela caiu bem no segundo que ele atravessou a porta e eu não pude ver mais nada. Joguei as costas contra a parede e encarei o meu teto. Eu estava começando a ficar molhada só de ver um homem de toalha andando pela sua sala. Qual era o meu problema?

Certo… Vamos fazer isso! Corri até o meu computador e comecei a digitar algo como “acompanhantes masculinos Amsterdã” e demorei poucos segundos para descobrir que o mundo é extremamente masculino, para não dizer machista.

Todos os sites de acompanhantes disponibilizavam mulheres. E os poucos sites que mostravam algum homem oferecendo o serviço de acompanhante eram voltados para o público gay.

Como o meu objetivo era não só aliviar minha tensão como aprender o que um homem gosta que uma mulher faça, um acompanhante gay não me pareceu uma boa opção. Demorei mais tempo do que imaginei até achar uma agência razoável. As fotos dos modelos eram incríveis, e um em particular chamou toda a minha atenção. Dava para contar os gominhos do abdômen dele também e isso me atraiu quase instantaneamente. O site dizia que ele era bissexual. Eu preferia um cara cem por cento hétero para essa experiência em particular, mas como não havia muitas opções e eu estava com um pouco de pressa, acabei optando pelo gominhos.

Tinha um e-mail e telefone.

E-mail era mais impessoal, telefone era mais rápido.

Respirei fundo e olhei pela janela. Meu vizinho usava uma calça comprida cinza de moletom e estava sem camisa. Bebia algo quente de uma caneca escura. Nossos olhares se cruzaram e ele levantou a caneca para mim em um brinde. Eu voltei a encarar a tela do computador e fingi que não tinha visto.

Telefone será.

Disquei o número rapidamente como quem arranca um band-aid. Estava tendo muitos desses momentos ultimamente: momentos em que, se parar para respirar, desiste do que ia fazer.

A pessoa do outro lado atendeu.

– Hallo – cumprimentou em holandês a voz feminina do outro lado da linha.

– Alô… Eu queria um homem – nahia! Eu queria um homem? Você perdeu o juízo?

Prendi minha respiração e esperei a moça do outro lado parar de rir.

– Uma cliente direta! É bem diferente das que geralmente temos por aqui.

Gostei! A senhora se interessou por alguns de nossos acompanhantes em particular?

– Ah, sim – vai, agora desembucha, sua maluca. “Quero um homem”… ai,meu Deus! – O nome no site é Nick. Diz aqui que ele tem 27 anos, loiro, olhos claros.

– Ja, ja! O Nick, certo. Qual serviço gostaria de solicitar e quando?

– Ah… quais serviços vocês têm?

– Bem, vários! Temos a companhia para jantar, para festas comuns, festas degala, fim de semana de viagens. Temos também a experiência namorado, a experiência ator pornô e a experiência virgem.

Sorri. Parecia que estava pedindo delivery de comida chinesa. Ela ainda estava falando.

– E todos esses serviços podem ser acompanhados por massagem, intimidadeou ambos.

Fiquei em silêncio considerando minhas possibilidades.

– Senhora? Ainda está na linha?

– Sim! Estou! – “intimidade” quer dizer sexo? Eu não sabia. Mas como jáestava tão enfiada naquele negócio todo, achei que mais uma pergunta maluca não ia me destruir. – Quando você diz intimidade, quer dizer “sexo”?

– Ja! Sim, senhora! Relações íntimas.

– Certo. Eu quero isso, então.

Eu tinha certeza que ela estava sorrindo do outro lado. Mas que se dane. A essa altura, eu também já estava rindo da minha ousadia.

– Sim, senhora. O Nick para um momento íntimo. Apenas isso? Ou maisalgum serviço?

Sim, eu queria arroz chop suey com o meu frango xadrez.

– Ah, coloca uma massagem também.

Dessa vez ela riu alto. Provavelmente estava achando a experiência delivery muito divertida, também.

– E para quando será?

– Ah… Agora?

– Só um momento, senhora. Preciso ver se o Nick está disponível.

Ela me colocou em espera e eu fiquei tamborilando os dedos em qualquer superfície ao meu alcance.

– Senhora? Está na linha?

– Sim!

– O Nick está disponível. Onde gostaria de encontrá-lo?

– Na minha casa.

– Certo. Preciso de um endereço.

Eu disse.

– Um telefone para contato pode ser este mesmo que a senhora usou?

– Sim, pode. Você precisa do meu nome?

– Não, senhora. Trabalhamos com total discrição. Não precisa dar qualquerinformação que não seja absolutamente necessária.

Gostei disso. A atendente continuou.

– O valor por hora será de 150 euros.

– Tudo bem.

– Por quantas horas gostaria de reservar o serviço?

– Não sei bem…

– É a primeira vez que usa nossos serviços, eu suponho?

– Sim, acho que já deu pra perceber – sorri e ela riu de volta.

– Posso informar o Nick que a senhora quer ser avisada a cada nova hora.Assim, a senhora mantém o controle de quanto tempo passou e decide se quer que ele permaneça ou não. E vou deixar o limite de tempo em aberto. Pode ser?

– Parece ótimo.

– E qual a forma de pagamento? Dinheiro, cartão…?

Minha boca tinha vontade própria e se abriu mais uma vez. Eu não era holandesa e definitivamente não estava acostumada com essa naturalidade quando se tratava de prostituição. Na França, uma coisa assim nunca aconteceria. Nunca. Pelo menos não de forma tão aberta e tranquila. Estava só esperando ela me perguntar se eu queria parcelar o pagamento porque, sinceramente, era só isso que faltava.

– Posso pagar com cartão? – não era o tipo de transação que eu queria queficasse registrada, mas… Eu não devia nada a ninguém. Não estava fazendo nada ilegal. E não tinha tanto dinheiro em espécie comigo.

– Com certeza. Nick levará a máquina. Posso ajudá-la com mais algumacoisa?

– Não. Não.

– Boa tarde, então, senhora. E obrigada por escolher a Elite Escorts.

E desligou.

Eu nem respirei. Corri direto para tomar banho. Um homem maravilhoso ia bater na minha porta a qualquer instante, e mesmo que ele estivesse sendo pago, eu ainda queria me preparar o melhor que pudesse.

Coloquei uma roupa leve e bonita e fiquei logo sem roupa íntima. Ah, não me julgue. Eu estava pagando por hora, não estava?

Três batidas na porta. Tentei respirar fundo, mas o ar estava passando pela minha traqueia em etapas. Eu devia ter virado uma dose de alguma coisa para ver se parava de tremer tanto.

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Comments

Maria Concebida

Maria Concebida

Mmmmm, interessante...

2023-10-22

0

Amanda

Amanda

😂😂😂😂😂😂😂🤪🤪🤪

2023-08-19

0

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