Eu sempre ouvi que os últimos segundos de vida trazem consigo uma retrospectiva do que vivemos. A única coisa que senti foi calor, ouvi o bom dia do vovô, viu o sorriso do Rafa...
Acordo na minha cama, com uma toalha úmida na minha testa e alguém segurado na minha mão. Olho para ela e vejo Rafa olhando para ela esperando que eu faça alguma coisa. E é o que eu faço, aperto sua mão com toda a força que tenho. Ele olha pra mim com os olhos cheios de água. Ele me deixa sentada na cama e me abraça, como se aquilo fosse me curar. Não sei se é isso que vem depois da morte, mas se parece com amor, é quente. Depois de um tempo caio em mim, estou viva. Ele ainda está me abraçando. De repente ele corre até a cozinha e volta com macarrão requentado e suco.
- Você precisa comer.
me entrega tudo com alívio e também preocupação.
- Por quanto tempo eu dormi?
Ele olha pra mim, como se pedisse pra mim não fazer essa pergunta.
- Preciso que você coma primeiro antes de termos essa conversa.
Isso me faz gelar por alguns segundos, até eu perceber que estou morrendo de fome e devorar tudo o mais rápido que posso. Ele me dá água e então começa.
- Você ficou desacordada por uma semana, Anne.
Estou em choque. como assim? achei que os desmaios fossem temporários. Ele continua, vendo que estou incrédula.
- Quando você desmaiou, eu te coloquei na cama enquanto fui atrás de tolhas para baixar sua febre eu também desmaiei, mas voltei quase no mesmo instante. Quando voltei para ver você, você não estava respirando e estava fria. Fiquei desesperado e fui para sala e peguei o celular para ver se tinha alguma coisa que eu pudesse fazer na internet, tinha uma chamada do telefone fixo da minha casa, então retornei e meu avô atendeu, ele disse que estava bem e que não tinha saído de casa, estava em segurança. Contei para ele que me encontrei com a moça que ele falava todas as manhãs e que estava em segurança por causa dela. Ele me disse que você era um anjo e quis falar com você para agradecer. Eu não tive coragem de contar o que tinha acontecido, então disse que você estava no banho e que depois vocês se falavam e desliguei. Do nada a chuva parou e o céu abriu. Voltei para o quarto para te cobrir com um lençol e quando toquei em você, você estava quente de novo. Você passou uma semana desacordada e eu desmaiei algumas vezes mas sempre voltei rápido. A chuva não voltou mais desde aquele dia.
Me sinto pesada com tudo o que ele diz. Parece que estou sendo atingida com vários socos no estômago. Eu morri e depois eu voltei. Não sei o que pensar. Tento focar nos acontecimentos de ontem... quer dizer, da semana passada.
- E as pessoas ainda estão doentes? A gente ainda não pode sair?
- Todas as pessoas que estava doentes estão falecendo aos poucos. Ainda não podemos sair porque aparentemente o ar está contaminado.
- Eu realmente queria que ninguém passasse por isso. Queria que todos ficassem vivos e bem.
- Eu tenho que te contar uma coisa, mas preciso que você não se assuste. Quando a febre vem, eu me sinto estranho...agora e posso fazer coisas.
- Como o quê? Você pode me mostrar? Não estou conseguindo compreender.
- Até agora eu consegui fazer duas coisas diferentes. A primeira foi levitar e a segunda me teletransportar.
Ele fala e faz essas coisas. Não estou assustada. Eu entendo. O vírus mudou alguma coisa nele, e em mim? tenho medo da resposta. Mas não tenho tempo de pensar nela, o telefone toca, ele olha para mim. Sei que é o vovô.
- Posso atender?
pergunto para ele. Ele me entrega o celular. Quando atendo a voz é suave
- Rafael, alô?
- Oi, vovô.
- Oi, anjo. Você está bem?
- Estou sim, só queria te dar oi, vou passar para o Rafa agora.
Antes de passar o celular escuto ele dizer "ai desse garoto se fizer alguma coisa errada". Rio e passo o telefone.
- Sim, vovô. Eu sei. Não estou fazendo nada.
Só consigo rir, porque eu sei sobre o que eles estão falando. Dou tanta risada que não percebo que a ligação acabou.
- Se divertindo, Anjo?
Olho para o Rafa e só consigo sorrir ainda mais.
- Um pouco.
Ele vem para cima de mim e me abraça.
- Gosto disso. - Diz
Ele fala como se estivesse aliviado. Mas como ele pode sentir qualquer coisa por mim em tão pouco tempo? Como se soubesse os meu pensamentos ele diz.
- Eu sinto como se te conhecesse a muito tempo. Sei que não tenho que cuidar de você e que você fez um ótimo trabalho por quase 20 anos, mas eu quero que você saiba que também pode contar com o meu cuidado, e como já ficou claro, com o do vovô também.
Acho que sinto amor e nesse momento vejo que não vivi bem sem ele, eu apenas sobrevivi. Ele olha pra mim e beija a minha testa. Olho para ele, dou um beijo na bochecha e digo obrigada. Ele ainda está com febre, desejo com todo o meu coração que ela vá embora junto com o vírus.
- Esqueci completamente, a ligação do vovô era pedindo pra gente ligar a televisão.
Ele pega na minha mão e me arrasta para a sala, liga a televisão e fico surpresa. Todos os canais falam sobre o milagre. Todos acordaram, todos estão bem. O vírus saiu de seus corpos. Ponho a mão na testa do Rafa, a temperatura dele está normal. Penso em como desejei que ele estivesse bem, penso como disse que queria todos bem e vivos... Não é possível!
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 22
Comments