Minha mão está muito quente presionada na testa dele. Seus olhos estão nos meus. Sem aviso, ele repete o mesmo movimento que fiz, sua mão está na minha testa. Seus olhos estão nos meus, há tudo neles, menos notícias boas. Seus olhos imploram para que eu não diga que ele está com febre, meus olhos imploram para que ele não diga que eu estou com febre. Pensar na morte é estranho. Será que realmente quando a gente morre há um depois? Meus pensamentos estão lentos e tristes. De repente Rafa me ergue me colocando nos seus braços, ele senta e me coloca no seu colo. Estou tão confusa. Com mais atenção olho que ele observa meu pé. Tem sangue no chão. Tem lágrimas nos meus olhos. Ele está tão preocupado comigo, quanto estou preocupada com ele. Não precisamos dizer, nós sabemos.
- Você tem alguma coisa que eu possa usar para limpar o ferimento?
- Na primeira gaveta da cômoda do meu quarto.
Ele me deixa no sofá e sai. Quando volta está com algodão, esparadrapo e álcool. Ele limpou o ferimento com todo cuidado e delicadeza. Agora meu pé está um bolo com algodão e esparadrapo.
- Vou pegar a vassoura e a pá. Vi elas próximas do seu quarto.
- Tá bom. Obrigada.
Me sinto tão grata. Me sinto aquecida. Quando tudo se acalma, volto a colocar a mão na testa dele, ele faz o mesmo. A febre ainda está lá, ainda está aqui, ainda está em nós. Preciso afirmar isso em voz alta, não poso ficar em negação, nós não podemos.
- Estamos com febre alta. Você sente mais alguma coisa?
- Não, Anne. Na verdade me sinto muito bem, como se estivesse normal.
- Certo. Não faço ideia de como agir.
- Vamos conversar um pouco, deve ser estranho para você está passando por tudo isso e ainda mais com um estranho.
- Tá bom. Pode perguntar o que quiser, ou dizer.
Durante o primeiro momento ele me pergunta da minha vida, dos meus pais... Não tenho muito o que dizer. Conto a história da minha vida, ele ouve com atenção. Em nenhum momento vi pena em seus olhos, pelo contrário, vi admiração. Depois de falar tudo sobre mim, pedi para que ele fizesse o mesmo. A vida dele é corrida. Mora com o avô desde sempre. Seus pais faleceram num acidente de carro com a avó e só ficou os dois. Ele trabalha com construção, é engenheiro. Disse que se formou a alguns meses. O que mais o preocupa é o avô agora. Ele tem medo porque não sabe se ele está em casa ou se saiu. Há tanto medo em seus olhos. Eu queria ser capaz de fazer alguma coisa. O que me deixou mais surpresa, foi saber que ele mora a menos de um minuto de mim, que fazemos o mesmo caminho todos os dias e nunca nos encontramos, até hoje. Depois de tanta coisa dita de ambos, o clima ficou um pouco pesado. Mas do nada ele começou a rir. Ele vê meu olhar com interrogações na sua direção e então explica.
- É que lembrei de algo que meu avô me disse hoje cedo. Todos os dias ele sai para fazer uma caminhada matinal e sempre volta para casa todo alegre. Já tem vários dias que ele diz que se apaixonou e que se eu a visse também me apaixonaria. Eu pensava que ele saia todos os dias para manter a saúde em dias, mas a verdade é que ele quer ver essa garota. Sempre diz que é a neta perfeita e que ainda vai ganhar o coração dela. Ontem, ele chegou em casa bem feliz, disse que pela primeira vez tinha falado com ela. Hoje, ele chegou muito mais feliz. Disse que se soubesse mexer no celular que eu dei para ele, tinha tirado uma foto do quanto ela estava linda. Ele disse que deu bom dia novamente e dessa vez ela respondeu e sorriu. Ele estava tão radiante, dançando comigo na sala que ao lembrar disso sorri.
Meu coração acelera, não pode ser eu, pode? Não consigo esboçar nenhuma reação, o Rafa percebe.
- Você tá bem?
- É... que ... tem um senhor que sempre me vê e começou a me dar bom dia a dois dias. Fiquei um pouco surpresa, mas provavelmente não sou eu.
- Espera, tenho uma foto dele no meu celular. Ele pega o celular e me mostra. É o senhor dos meus bom dias. Aquele fofo e amável vovô que só de ouvir as histórias já me apaixonei. Rafa olha para mim, abro um sorriso e sinto os meus olhos cheios de água, não preciso afirmar, ele sabe que sou eu.
- Meu avô tinha razão.
Ele sorri, e a última coisa que vejo é aquele sorriso... DESABO, APAGO, TENHO MEDO DO ESCURO. DESCULPA, RAFA. EU QUERIA QUE HOUVESSE UM DEPOIS, MAS NÃO CONSIGO VER NADA DEPOIS DA ESCURIDÃO.
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Atualizado até capítulo 22
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