Mais um dia. O dia de hoje parece o de ontem... Céu calmo e ensolarado e chão movimentado. Não quero sair da cama hoje, mas eu preciso.
Tomo um banho rápido e me olho no espelho, não sei porque, mas hoje quero me arrumar e ficar um pouco bonita. Decido usar meu cabelo solto, um lado escondendo o meu rosto e o outro atrás da orelha mostrando um pouco. Meio termo é bom. Vou no guarda roupa e pego um vestido largo ombro a ombro, não quero que ele fique tão largo hoje e coloco um sinto prendendo na cintura. Ficou bem bonito. Nos pés um tênis. No rosto, apenas um batom avermelhado nos lábios. É estranho me ver assim. Na última vez que acordei querendo estar um pouco mais bonita, desisti ao colocar o pé na rua e as pessoas me olharem. Ser vista não é bom. Em pensar nisso já quero amarrar o cabelo, trocar de roupa e tirar o batom, mas eu não vou, eu preciso fazer isso por mim. Eu consigo!
Ao sair de casa já vejo alguns olhares, encontro o senhor do dia anterior, além de me dar bom dia ele também sorri, retribuo mostrando um sorriso triste, mas é o único que tenho. Na faculdade faço o mesmo que nos outros dias, a diferença é que algumas pessoas me perguntaram sobre a matéria. O mais engraçado e também triste é que a menina que senta do meu lado a mais de um ano me perguntou se sou nova. Me sinto estranha por ser vista, mas me sinto bem por ter conseguido sair de casa sem minha capa da invisibilidade.
Voltando para casa, faço o mesmo caminho de sempre. É quase meio dia, a rua tá bem quieta e o céu está fechando como se a qualquer momento fosse chover. Fico olhando para os lados e percebendo que a movimentação é menor do que normalmente. Sem perceber alguém vindo na minha direção, me choco com essa pessoa e caio no chão. É tudo muito rápido, a pessoa se agacha e me pergunta se estou bem, sinto um ardor nos cotovelos e também gotinhas de chuva. Olho para a pessoa e também sinto falta de ar. Tem um garoto na minha frente com olhos preocupados e cuidadosos. Ele avalia os meus cotovelos e me coloca de pé no mesmo passo em que respondo que estou bem.
- Precisamos nos abrigar, vai começar a chover forte.
Ele diz me conduzindo até embaixo de uma parada de ônibus. Ainda estou querendo silenciar os meus pensamentos para enfim respondê-lo. Olho ao redor e por incrível que pareça as pessoas se dessiparam e estamos sozinhos.
- Você realmente tá bem?
- Sim, estou. Não se preocupe.
Dou o sorriso mais sincero que posso e então ele relaxa. Acho que ele não encontrou o meu sorriso quebrado, ou apenas ignorou a parte quebrada.
Nem percebi, mas minha casa é logo de frente da para de ônibus que estamos. Então, perdida nos meus pensamentos ele me puxa de volta.
- Sou Rafa...Rafael. Sei que não é o melhor momento para apresentação já que te atropelei.
Dou mais um sorriso sincero e respondo: - Não se preocupe, eu também estava um pouco distraída. Sou Anne.
- É bom conhecê-la, Anne.
Ele diz essas palavras olhando nos meus olhos e me deixando mais uma vez sem ar. Já não escuto mais os pingos de chuva, só a voz dele. Sem reação apenas repito o comentário dele.
- É bom conhecê-lo, Rafa... Rafael.
Ele sorri. É um sorriso lindo, mas parece tão quebrado quanto o meu.
- Posso te deixar perto de casa se você não quiser ir sozinha, eu moro por aqui.
- Acho que você já deixou, moro logo ali.
E aponto para minha casa. A chuva está aumentando. Inconsciente, digo: - Tenho um guarda chuva, você pode usá-lo para chegar em casa, ou se preferir pode esperar a chuva passar.
As palavras saem rápido demais e só depois percebo que convidei um estranho que acabei de conhecer para minha casa. Logo em seguida percebo que falei mais com o Rafa em minutos do que com a minha turma da faculdade de um ano.
- Se não for incômodo para você.
- Não é.
Então, corro em direção a minha porta e ele me segue. Quando abro a porta ele entra logo depois de mim.
- Eu tenho umas camisas e calças masculinas grandes, acho que cabem em você. Quer tomar um banho e trocar de roupa?
- Não quero abusar da sua gentileza, Anne. Agradeceria se você me emprestasse o guarda chuva, te devolvo logo.
Olho por fora da janela para analisar se a chuva está muito forte para o meu pequeno guarda chuva aguentar. É nessa hora que tenho um susto e o Rafa percebe. Olho para o relógio, é meio dia... não é possível! O céu está escuro como se fosse noite, a chuva não para de cair. Ligo a televisão para ver se há alguma reportagem explicando o que está acontecendo. Tudo o que eu faço Rafa me segue com os olhos. Na televisão há um repórter dizendo para não sairmos de casa, essa chuva é maléfica por causa da coloração do céu em pleno dia. Ele alerta que as pessoas que se molharam com a chuva estão isoladas porque andam tendo uma reação alérgica. As últimas palavras me assustam: - Há um vírus na chuva e ele é facilmente disseminado.
Entro em choque. Os olhos do Rafa demonstram preocupação. Há caos no mundo e caos no meu coração.
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Atualizado até capítulo 22
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