3#Blue Moon — Lua Azul
Por séculos, o mundo se pintou de cinza sob as chamas das fogueiras acesas para purificar o "mal". Bruxas foram caçadas, torturadas e queimadas vivas diante de multidões que aplaudiam sua agonia como se estivessem presenciando justiça — e não um massacre.
A verdade, no entanto, é amarga como sangue coagulado.
Durante milênios, mulheres foram perseguidas apenas por serem diferentes. Por pensarem de forma livre. Por ousarem existir fora da sombra dos homens que tentavam controlá-las. Eram chamadas de bruxas, mas eram curandeiras, videntes, eruditas — almas livres que pagaram com a vida pela coragem de serem quem eram.
No início, esse genocídio era abertamente financiado e abençoado pela Igreja. Os caçadores eram treinados em nome de Deus. Diziam-se enviados do céu, mas carregavam no olhar a sede do inferno. Eles marchavam com suas cruzes e lâminas, julgando-se heróis por erradicar a “magia do mal”. Mas, na realidade, agiam como carrascos.
Com o tempo, no limiar do século XIX, a própria Igreja recuou. Talvez por arrependimento, talvez por medo de perder poder. Declararam fim às caçadas. Disseram que a purificação havia se cumprido. Que Deus havia sido satisfeito.
Mas o mal não se desfaz com decretos.
Parte dos caçadores se rebelou. Não aceitaram a ordem divina de cessar a matança. Deserdaram da fé e mergulharam nas sombras. Passaram a agir secretamente, criando uma nova ordem. Mais cruel. Mais silenciosa. Mais implacável.
Eles deixaram de ser os soldados da luz. Tornaram-se algo ainda pior: os Caçadores da Escuridão.
Conforme os séculos passaram, eles se tornaram fantasmas. Deixaram de usar armaduras e símbolos religiosos. Agora usavam tecnologia, táticas modernas e se infiltravam entre os humanos comuns como predadores disfarçados.
Com o tempo, descobriram que bruxas não eram as únicas criaturas "não humanas". Vampiros, lobisomens, magos, fadas, híbridos e até demônios tornaram-se alvos da sua fome insaciável. A cada nova espécie descoberta, mais sede eles tinham. E não era sede de justiça.
Era sede de lucro.
Tudo que não fosse inteiramente humano era caçado, capturado e vendido como gado raro. Órgãos. Ossos. Sangue. Tudo era aproveitado. O sangue dos mestiços, por exemplo, tornou-se artigo de luxo no mercado negro. Usado como arma, como droga, como soro de força para soldados humanos. Uma verdadeira alquimia perversa.
Eu cresci nesse mundo.
Fui treinada desde pequena. Condicionada a acreditar que caçar criaturas era um ato de bravura. Que erradicar espécies era salvar o mundo. Que matar uma família inteira de lobisomens, ou queimar vampiros até a morte, era um feito glorioso. Recompensado. Celebrado.
Meu pai — um dos mais respeitados entre eles — costumava repetir, com orgulho nos olhos:
> "Melissa, você é a caçadora perfeita. Vai libertar o mundo desses monstros."
Eu acreditava.
Mas a verdade, como sempre, não se revela nos livros ou nos discursos. Ela se mostra em silêncio, nos detalhes. Nos olhos de uma criança perdida. No gemido sufocado de um prisioneiro. Nos pesadelos que começaram a me visitar toda noite.
E então eu conheci Azrael.
Um demônio. Sim. Um ser que, segundo meu treinamento, deveria ter sido morto à primeira vista. Mas ele me salvou — não da morte, mas da mentira. Foi Azrael quem abriu meus olhos. Me contou as histórias que ninguém ousava narrar. Me mostrou as guerras que presenciou ao longo dos séculos. As alianças improváveis. Os amores proibidos. As tragédias silenciosas escondidas sob a máscara da “proteção humana”.
Ele me falou sobre amigos que fizera — vampiros, lobos, magos — seres que, até então, eu teria matado sem hesitar. E percebi: não somos tão diferentes assim. Eles também sangram. Eles também amam. Também sentem medo.
O mais irônico?
Hoje, Melissa Hanter — a caçadora perfeita — anda ao lado de um demônio. E não poderia haver maior heresia do que essa.
Mas eu não abandonei os caçadores. Ainda não. Porque enquanto eles estiverem sequestrando criaturas inocentes, dilacerando corpos por dinheiro, e vendendo o sangue dos híbridos como arma... eu estarei lá. Dentro do sistema. Cortando seus fios, sabotando suas ordens, expondo suas falhas.
Eles podem ter me criado. Podem até se considerar minha família. Mas não vou permitir que continuem essa chacina doentia.
Nem que isso custe minha vida.
Ou eu não me chamo mais Melissa Hanter.
Ou não serei mais conhecida como A Dama da Noite.
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Atualizado até capítulo 85
Comments
Elloá Vitória Assis Araújo
oxe eu não entendi nada
2023-11-25
2
Silvia Araújo
que bom que caiu na real
2022-11-08
2
Anap2
Gostei da nova personagem.
2022-03-12
5