Primeiro Amor

🎵- Trilha Sonora : Ed Sheeran — Photograph "

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Despertei naquela manhã com um cansaço profundo, uma exaustão que parecia se entranhar em cada fibra do meu corpo. As duas últimas noites haviam sido marcadas pela insônia, impulsionada por pesadelos insistentes que me mantinham acordada. O motivo? A incerteza esmagadora de não saber como sobreviver a tudo aquilo que se abatia sobre mim.

Levantei-me lentamente e me encarei no espelho do quarto. A imagem refletida não era a de uma noiva radiante. Minha pele ressecada denunciava noites mal dormidas, e as olheiras escuras cavavam sulcos de desgaste ao redor dos meus olhos. Victoria certamente enlouqueceria ao me ver assim.

— Oieee... A noiva finalmente despertou? — ela anunciou-se ao entrar, trazendo seu habitual tom animado.

— Sim, mas definitivamente não estou bem — respondi, sem tentar esconder o cansaço.

Victoria franziu o cenho, desviando o olhar para minhas olheiras.

— Meu Deus, você parece um zumbi. Que olheiras são essas?

— Não consegui pregar o olho a noite inteira.

— Eu só pedi para que cuidasse de si mesma, Sophie. Mas está bem, vamos resolver isso. Está pronta para me acompanhar até a casa dos Barton?

— Preciso apenas me trocar. Me dê alguns minutos.

— Dez minutos lá embaixo, combinado? — disse, já se retirando, e assenti com a cabeça.

Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água quente deslizar pelo corpo. Escovei os dentes com a mente dispersa e, logo após, vesti uma roupa leve. Victoria havia cuidado de tudo: levara meu vestido e ainda me presenteou com uma lingerie nova, discreta e delicada.

— Podemos ir, Victoria.

— Finalmente! — ela exclamou, levantando-se do sofá.

Antes de seguir para o hall de entrada, minha mãe se aprocimou. Com um abraço cheio de afeto e preocupação, segurou-me firme.

— Meu amor, em poucas horas você estará casada e longe de mim.

— Não tão longe assim, mãe — respondi, depositando um beijo suave em sua testa. — Estarei sempre aqui.

Antes que o momento pudesse se estender, Victoria, impaciente, nos cutucou.

— Gente, tenho muito o que fazer. O mundo não vai acabar hoje, sabe? Então, parem com essa choradeira — e com um leve empurrão nas minhas costas, conduziu-me para a porta.

— Até logo, querida.

— Amo você, mãe...

Já no quarto de Dênio, sentada diante do espelho ornamentado, observo Vic finalizar com delicadeza meu penteado. Cada movimento dela é cuidadoso, mas meu coração parece distraído, antecipando o momento que se aproxima.

No reflexo, vejo Alec se aproximar em silêncio. Seus passos são suaves, mas seu olhar intenso me alcança com força.

— Você está perfeita, Sophie. — Sua voz soa baixa, quase reverente. O sorriso nos lábios é gentil, mas os olhos... carregam uma tristeza antiga, irreparável.

— Obrigada, Alec. — murmuro, tentando manter o tom sereno, mesmo sentindo um nó silencioso se formar na garganta.

Vic franze o cenho, impaciente.

— Se veio atrapalhar, já pode dar meia volta, Alec.

— Não vou, prometo. — ele diz, sem desviar os olhos de mim. — Só queria ver a Sophie antes de tudo.

Ela suspira, cruzando os braços.

— Então ajuda. O vestido está no closet.

Alec se move rápido, pegando a peça com delicadeza e entregando a Vic.

— Obrigada. Agora, pode sair para que ela se vista.

Ele hesita.

— Antes... eu queria dar algo a ela. Posso?

Vic revira os olhos dramaticamente.

— Ok... Mas seja rápido. — Ela sai, batendo levemente a porta ao fechar.

Levanto-me devagar.

— Você não precisava me dar nada, Alec. — digo com ternura.

Ele sorri, tirando do bolso uma pequena caixinha de veludo vermelho.

— Desde que te encontrei naquela floresta, algo em mim se acendeu. Depois daquela noite, eu me perguntei se você seria a garota com quem eu dividiria a eternidade.

— Alec... — tento interrompê-lo, mas ele ergue a mão suavemente.

— Ainda não terminei. — Ele respira fundo, como se cada palavra viesse de um lugar que sangrou por tempo demais. — Você trouxe luz às minhas trevas. E até hoje eu não me perdoei por tudo que fiz com a gente... com você. Queria que usasse isso. — Ele estende a caixa para mim. — Era pra ser eu ao seu lado naquele altar. — Seus dedos tocam meu rosto com uma ternura que me desmonta por dentro. — Mas eu sempre estrago tudo. Mesmo assim, isso sempre foi seu.

Abro a caixa. Um broche antigo repousa sobre o veludo como uma relíquia: adornado com pedrarias, irradiando uma beleza melancólica, como se carregasse séculos de histórias.

— Alec, isso é lindo... mas eu não posso aceitar.

— Aceite. — ele insiste. — Sempre pertenceu a você. Era tradição na minha família: as mulheres usavam um broche no vestido quando se casavam. Este está conosco há 327 anos.

— Você deveria dar isso à mulher que se casará com você, não a mim. — sussurro, tocando o broche com cuidado.

Ele se aproxima, seu olhar cravado no meu.

— Que seria você. Não existe outra digna de recebê-lo, Sophie. E mesmo que existisse... meu coração já tem dono. Ele é seu. Sempre foi.

Seus lábios se aproximam lentamente. Por um segundo, não consigo me mover. Tudo ao meu redor desaparece. Mas, no último instante, ele apenas encosta os lábios em minha bochecha. Um gesto doce, cheio de adeus.

Por dentro, meu mundo para. Como se o tempo tivesse dado meia-volta, e eu voltasse à época em que o amor era só ele.

Eu amo Trevor, com todas as minhas forças. Mas Alec... Alec será sempre meu primeiro amor.

Ele se afasta um pouco, colocando as mãos nos bolsos.

— Acho melhor deixar você terminar de se arrumar, não é?

Toco seu braço, impedindo-o de sair.

— Antes... eu queria te agradecer.

— Pelo quê? — pergunta, confuso.

— Eu nunca disse isso. E você merece saber. Você me fez muito feliz quando estávamos juntos. Ainda me faz bem como amigo. Não vou mentir, Alec... Naquela época, eu morreria por você. E hoje... ainda morreria. Eu amo você. E sempre vou amar.

Ele fecha os olhos por um instante, absorvendo cada palavra.

— Obrigado por me dizer isso. Eu fico...

Não espero que ele termine. Me inclino e encosto um beijo suave em seus lábios. Um selo silencioso, carregado de lembranças.

— Por que isso, Sophie? — pergunta ele, a voz rouca, confusa.

— Pra que leve esse amor com você. Sempre. — Seguro firme sua mão. — E sim... eu vou usar o broche.

Seus olhos brilham, e um sorriso largo rompe sua expressão contida.

— Eu vou te amar por toda a eternidade. Agora preciso ir. Se eu demorar mais, Vic me joga pela janela... e, agora, ela tem força pra isso. — rimos juntos, como nos velhos tempos. — Espero que seja feliz, Sophie. De verdade.

Alec sai, fechando a porta com delicadeza.

Fico sozinha diante do espelho.

Segurando o broche, penso em tudo o que nos trouxe até aqui. Em tudo o que foi... e ainda vive em mim.

— Precisamos nos apressar agora. Alec já nos tomou dez minutos. — Victoria checou o relógio no pulso. — O que ele queria?

— Me entregar isso. — ergui a mão, revelando a pequena joia.

— Uau... É lindo. — ela pegou o broche, analisando cada detalhe com olhos atentos. — Vai ficar perfeito com o vestido.

— Eu quero usá-lo hoje. — confessei.

— E vai. — ela sorriu de lado, determinada. — Dou um jeito de encaixá-lo no decote. Agora, se vista. Já estamos atrasadas demais.

Obedeci. Depois de me vestir, Victoria cuidadosamente fixou o broche sobre o decote com precisão quase cirúrgica. Quando recuei um passo e me olhei no espelho, o resultado me arrancou um breve suspiro. Estava... delicado. E surpreendentemente perfeito.

— Você está deslumbrante. — ela afirmou com firmeza. — É hora de ir.

Engoli em seco.

— Eu não sei se estou pronta. — a ansiedade subiu como uma maré e me virei em direção à janela, buscando um ponto de fuga no horizonte.

— Sophie, você está linda. Já está pronta há muito tempo, só não percebeu ainda. — Victoria se aproximou, sua voz calma tentando me ancorar.

— Ela tem razão. — uma nova voz ecoou atrás de mim, fazendo meu corpo reagir num sobressalto. Girei nos calcanhares, surpresa. — Admito que fiquei bem magoada por não ter sido convidada. Mas entendo. Você nunca gostou de mim.

— E com razão, não é, Catherine? — Victoria cruzou os braços, impaciente. — Você é desprezível. Se veio aqui só para estragar o dia da Sophie, eu juro...

— Calma, loirinha. — Catherine ergueu as mãos num gesto teatral. — Hoje não estou aqui para causar. Apesar de não estar na lista de convidados, vim entregar um presente. — seus olhos encontraram os meus. — Posso?

— Eu não quero nada que venha de você. — minha voz saiu firme, mesmo que o coração ainda vacilasse.

Ela fez um pequeno beiço debochado, mas não recuou.

— Mesmo assim, é seu. — retirou um pequeno saquinho de veludo do bolso do casaco e o estendeu para mim. — Pertence a você. E mesmo que eu quisesse, não teria utilidade alguma comigo. — hesitei, mas acabei pegando o objeto. — Só… abra depois, por favor.

Ela se virou, já a caminho da porta, mas parou antes de sair.

— Antes de ir... espero sinceramente que dê tudo certo pra vocês. — disse, e pela primeira vez... sua voz não soou como veneno. Era sincera. Ou, pelo menos, parecia.

E então, ela se foi.

Um silêncio estranho se instalou.

— Casamentos deixam todos sentimentais, não é? — murmurei.

— Catherine é a exceção. Ainda estou tentando entender o que acabou de acontecer. — Victoria franziu o cenho, confusa.

— Melhor irmos antes que o noivo infarte. — soltei um sorriso breve, já tentando recuperar o fôlego da realidade.

Ela assentiu, me oferecendo o braço.

O destino me aguardava.

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