Minha Querida Presa
O vento frio da madrugada soprava pelos campos de Verdan, trazendo o cheiro úmido da terra recém-regada pela chuva. As colinas ainda brilhavam sob o luar, e eu podia ouvir o som distante dos sinos do castelo — suaves, solenes, como se anunciassem o fim de algo que eu ainda não compreendia.
Me chamo Lilith.
Um nome que sempre pareceu maior do que eu, pesado demais para uma moça simples, filha de camponeses que vivem do trigo e do leite das vacas. Desde pequena, mamãe dizia que ele significava “mulher da noite”, e ria, dizendo que talvez um dia eu entendesse o porquê. Eu nunca entendi. Sempre preferi a luz do sol, os campos dourados e o riso de meu pai quando eu voltava para casa com o avental sujo de barro e flores.
Naquela noite, no entanto, algo me chamava para fora da segurança da fazenda.
Eu havia acordado com um sussurro — um som tão doce que parecia vir de dentro dos meus sonhos. “Lilith…” dizia a voz, arrastada, quase um canto. “Venha…”
Levantei-me devagar, tentando não acordar meus pais. O vento fazia dançar as cortinas rasgadas, e a lua, curiosa, espiava pela janela. Peguei meu xale e saí.
O bosque atrás de casa sempre fora um lugar proibido. Diziam que à noite as sombras tinham vontade própria. Mas havia algo diferente naquela hora. Um silêncio denso, vivo, como se as árvores respirassem comigo.
— Quem está aí? — perguntei, tentando esconder o tremor na voz.
Nenhuma resposta.
Apenas o farfalhar das folhas… e então, olhos. Dois olhos vermelhos, brilhando entre as sombras, como brasas.
Meu corpo inteiro se arrepiou. Dei um passo para trás, mas algo em mim não queria fugir. Era medo — sim —, mas também uma curiosidade amarga, uma força que me prendia àquele olhar.
— Você não deveria estar aqui, doce Lilith. — A voz era grave, suave como seda molhada em vinho. — A noite é um banquete perigoso para quem ainda tem sangue quente.
Senti o coração disparar. O homem saiu das sombras, alto, com a pele pálida como a neve sob o luar. O casaco negro que usava parecia se misturar à escuridão, e o rosto dele… havia algo de triste, antigo, como se tivesse visto mil vidas passarem diante dos próprios olhos.
— Quem é você? — sussurrei.
Ele sorriu, e o sorriso revelou presas — longas, reluzentes, impossíveis de confundir.
— Alguém que deveria te temer — respondeu ele, com uma ironia melancólica. — E, no entanto… não consigo.
O mundo pareceu se calar.
O som dos grilos, o vento, até o bater do meu coração — tudo ficou suspenso naquele instante. Eu sabia o que ele era. Desde criança ouvia histórias sobre criaturas da noite que caçavam em silêncio, seduzindo suas presas antes de beber-lhes a vida.
E mesmo assim…
Mesmo assim, quando ele se aproximou, eu não dei um passo para trás.
— Lilith — ele disse novamente, saboreando cada sílaba do meu nome. — O destino tem um gosto amargo quando brinca conosco.
Ele estendeu a mão, como quem oferece algo proibido.
E eu, uma simples moça do campo, fiz o que jamais deveria ter feito.
Segurei.
O toque dele era frio, mas havia uma chama ali — algo que queimava diferente, um calor que vinha de dentro, misturado a tristeza e fome.
Foi naquele instante que percebi: eu era a caça… e ele, o caçador.
Mas algo me dizia que o jogo acabara de mudar.
E talvez, só talvez…
fosse ele o verdadeiro prisioneiro naquela noite.
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Atualizado até capítulo 30
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