Lilith
Desde aquela noite, nada mais em mim foi o mesmo.
O mundo parecia o mesmo — os campos dourados, o cheiro de trigo e o riso dos aldeões —, mas algo dentro de mim havia mudado.
Como se uma parte do meu coração tivesse acordado… e não soubesse mais dormir.
Lucien.
O nome ecoava na minha mente como uma canção proibida.
Eu não o conhecia — não de verdade. Mas o som da voz dele, o toque, o olhar… tudo me parecia tão antigo quanto as histórias que o vento conta nas madrugadas.
Tentei esquecê-lo.
Tentei me convencer de que era apenas um sonho, uma ilusão nascida da solidão.
Mas cada vez que fechava os olhos, via seu rosto.
Cada vez que o vento tocava minha pele, sentia o arrepio de quando ele sussurrou meu nome.
E, o pior de tudo…
Eu não sentia medo.
Deveria sentir.
Deveria fugir, esconder-me, rezar.
Mas o que eu sentia era saudade — de algo que não vivi.
De alguém que parecia ter deixado minha alma incompleta ao partir.
Naquela manhã, encontrei-o outra vez.
Estava à beira da floresta, imóvel, como se esperasse o nascer do sol — coisa que nenhum homem faria, não daquele jeito.
O vento brincava com seus cabelos escuros, e o olhar dele… era um olhar de despedida.
— Lilith — disse ele, baixo, a voz rouca, cansada. — Eu não deveria ter voltado.
Meu peito apertou.
— Então por que voltou? — perguntei. — Por que me procurou se só quer ir embora?
Ele desviou o olhar.
Por um instante, vi o reflexo de algo… dor, talvez. Culpa.
— Porque o destino é cruel — respondeu. — E porque, mesmo quando tento esquecê-la, é o seu nome que me mantém vivo.
As palavras dele me feriram e me curaram ao mesmo tempo.
— E o que eu fiz para merecer isso?
Lucien deu um meio sorriso — o tipo de sorriso que parece pedir perdão antes mesmo de partir.
— Nasceu. Isso foi tudo o que precisou fazer.
O silêncio se instalou entre nós.
O vento soprava, e as folhas se agitavam como se o mundo inteiro soubesse que algo estava prestes a acabar.
Ele se aproximou, devagar, e seu olhar encontrou o meu.
Havia algo ali… uma tristeza tão profunda que me fez querer tocá-lo, segurá-lo, dizer que ele não precisava partir.
Mas antes que eu pudesse falar, ele sussurrou:
— Siga sua vida, Lilith. Finja que nunca me conheceu.
— E se eu não conseguir? — perguntei, sentindo o peito doer, a voz falhar. — E se tudo em mim te procurar, mesmo quando eu não quiser?
Lucien fechou os olhos, como se minhas palavras fossem lâminas.
— Então, que o destino tenha piedade de nós dois.
E se virou.
O vento soprou mais forte, a névoa ergueu-se do chão, e quando percebi… ele havia sumido.
Como se a noite o tivesse reclamado de volta.
Fiquei ali, parada, sentindo o coração pulsar com força demais.
Entre os dedos, o ar ainda carregava o perfume dele — frio, doce e impossível de esquecer.
E pela primeira vez, temi não o que ele era…
Mas o que eu estava me tornando.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Aono Morimiya
Cara, essa história é demais!
2025-10-11
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