Capítulo 6 — A Sombra que Fica

Lilith

Desde aquela noite, nada mais em mim foi o mesmo.

O mundo parecia o mesmo — os campos dourados, o cheiro de trigo e o riso dos aldeões —, mas algo dentro de mim havia mudado.

Como se uma parte do meu coração tivesse acordado… e não soubesse mais dormir.

Lucien.

O nome ecoava na minha mente como uma canção proibida.

Eu não o conhecia — não de verdade. Mas o som da voz dele, o toque, o olhar… tudo me parecia tão antigo quanto as histórias que o vento conta nas madrugadas.

Tentei esquecê-lo.

Tentei me convencer de que era apenas um sonho, uma ilusão nascida da solidão.

Mas cada vez que fechava os olhos, via seu rosto.

Cada vez que o vento tocava minha pele, sentia o arrepio de quando ele sussurrou meu nome.

E, o pior de tudo…

Eu não sentia medo.

Deveria sentir.

Deveria fugir, esconder-me, rezar.

Mas o que eu sentia era saudade — de algo que não vivi.

De alguém que parecia ter deixado minha alma incompleta ao partir.

Naquela manhã, encontrei-o outra vez.

Estava à beira da floresta, imóvel, como se esperasse o nascer do sol — coisa que nenhum homem faria, não daquele jeito.

O vento brincava com seus cabelos escuros, e o olhar dele… era um olhar de despedida.

— Lilith — disse ele, baixo, a voz rouca, cansada. — Eu não deveria ter voltado.

Meu peito apertou.

— Então por que voltou? — perguntei. — Por que me procurou se só quer ir embora?

Ele desviou o olhar.

Por um instante, vi o reflexo de algo… dor, talvez. Culpa.

— Porque o destino é cruel — respondeu. — E porque, mesmo quando tento esquecê-la, é o seu nome que me mantém vivo.

As palavras dele me feriram e me curaram ao mesmo tempo.

— E o que eu fiz para merecer isso?

Lucien deu um meio sorriso — o tipo de sorriso que parece pedir perdão antes mesmo de partir.

— Nasceu. Isso foi tudo o que precisou fazer.

O silêncio se instalou entre nós.

O vento soprava, e as folhas se agitavam como se o mundo inteiro soubesse que algo estava prestes a acabar.

Ele se aproximou, devagar, e seu olhar encontrou o meu.

Havia algo ali… uma tristeza tão profunda que me fez querer tocá-lo, segurá-lo, dizer que ele não precisava partir.

Mas antes que eu pudesse falar, ele sussurrou:

— Siga sua vida, Lilith. Finja que nunca me conheceu.

— E se eu não conseguir? — perguntei, sentindo o peito doer, a voz falhar. — E se tudo em mim te procurar, mesmo quando eu não quiser?

Lucien fechou os olhos, como se minhas palavras fossem lâminas.

— Então, que o destino tenha piedade de nós dois.

E se virou.

O vento soprou mais forte, a névoa ergueu-se do chão, e quando percebi… ele havia sumido.

Como se a noite o tivesse reclamado de volta.

Fiquei ali, parada, sentindo o coração pulsar com força demais.

Entre os dedos, o ar ainda carregava o perfume dele — frio, doce e impossível de esquecer.

E pela primeira vez, temi não o que ele era…

Mas o que eu estava me tornando.

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Comments

Aono Morimiya

Aono Morimiya

Cara, essa história é demais!

2025-10-11

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