Capítulo 5 — O Peso da Lembrança

Lucien

O nome escapou dos lábios dela como um raio rasgando o silêncio.

Lucien.

E naquele instante, tudo parou.

O vento cessou, as folhas congelaram no ar, e até a noite pareceu prender a respiração.

O som da minha própria existência se desfez diante daquele murmúrio.

Lilith lembrava.

Seus olhos — antes confusos e doces — agora se tornavam mais fundos, dilatados, cheios de perguntas e medo. A alma dela, que eu havia tocado e selado com meu próprio poder, gritava dentro do corpo frágil.

— Eu… — ela gaguejou, recuando um passo. — Eu vi você antes. Na floresta… naquela noite…

A voz dela tremia.

Mas não era só medo. Era algo mais. Um reconhecimento que ia além da carne, um laço que nem o tempo nem a magia puderam romper.

Eu me aproximei lentamente.

— Sim, pequena luz. — Minha voz soou baixa, como um eco antigo. — Você me viu. E eu jurei que nunca mais a deixaria ver.

Ela piscou, tentando entender.

— Por quê?

Como eu poderia responder?

Como explicar a uma alma pura que ela pertencia àquilo que mais deveria odiar?

— Porque você… é a lembrança do que me resta de humano — confessei, cada palavra saindo como um lamento. — E isso é o tipo de fraqueza que o mundo não perdoa.

Ela se afastou mais um passo, e a lamparina vacilou na mão trêmula.

— O que você é, Lucien?

Ah, se ela soubesse o quanto desejei que essa pergunta nunca fosse feita.

— Um erro que o tempo se recusou a apagar — respondi, o olhar cravado no chão. — Um monstro.

Silêncio.

O tipo de silêncio que pesa mais que qualquer grito.

E então ela fez algo que me partiu em mil fragmentos — aproximou-se.

Devagar, com o mesmo cuidado de quem toca um espelho rachado.

— Se fosse só isso — disse ela, em voz suave — eu não estaria aqui.

Meu corpo inteiro estremeceu.

A distância entre nós se reduziu até que o calor da pele dela queimasse a frieza da minha. O coração dela batia forte, e o som era como música — a mais cruel e perfeita melodia já escrita.

— Lilith… — murmurei, tentando resistir. — Você não entende o que está fazendo.

— Então me explique — ela insistiu, os olhos marejados de confusão e coragem. — Explique por que eu sonho com você todas as noites. Por que sinto falta de algo que nem sei se vivi.

Meus lábios se abriram… mas a verdade era um abismo.

Um abismo onde, se ela caísse, nunca mais voltaria a ser a mesma.

— Porque nossas almas já se encontraram antes — admiti, enfim. — Em outras vidas. Em outras mortes. E em todas elas, eu te perdi.

Ela ofegou, e eu soube que era tarde demais para voltar atrás.

A ligação entre nós queimava, viva, antiga — tão antiga quanto a própria maldição que me condenava.

Aproximei-me mais uma vez, incapaz de resistir à atração que me destruía.

Mas dessa vez, não a toquei.

Apenas deixei o sussurro escapar:

— Se eu te contar tudo, você nunca mais será livre.

Lilith me olhou, e havia uma lágrima brilhando sob a luz trêmula da lamparina.

— Então me prenda, Lucien. Mas não me esconda a verdade.

E foi ali, entre o medo e o desejo, que percebi:

ela já era minha — não por magia, nem por promessa,

mas porque o destino, uma vez escrito em sangue, nunca se apaga.

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Comments

Agnes

Agnes

Adorei a ambientação desse romance, me senti viajando para um outro mundo.

2025-10-11

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