Lucien
O nome escapou dos lábios dela como um raio rasgando o silêncio.
Lucien.
E naquele instante, tudo parou.
O vento cessou, as folhas congelaram no ar, e até a noite pareceu prender a respiração.
O som da minha própria existência se desfez diante daquele murmúrio.
Lilith lembrava.
Seus olhos — antes confusos e doces — agora se tornavam mais fundos, dilatados, cheios de perguntas e medo. A alma dela, que eu havia tocado e selado com meu próprio poder, gritava dentro do corpo frágil.
— Eu… — ela gaguejou, recuando um passo. — Eu vi você antes. Na floresta… naquela noite…
A voz dela tremia.
Mas não era só medo. Era algo mais. Um reconhecimento que ia além da carne, um laço que nem o tempo nem a magia puderam romper.
Eu me aproximei lentamente.
— Sim, pequena luz. — Minha voz soou baixa, como um eco antigo. — Você me viu. E eu jurei que nunca mais a deixaria ver.
Ela piscou, tentando entender.
— Por quê?
Como eu poderia responder?
Como explicar a uma alma pura que ela pertencia àquilo que mais deveria odiar?
— Porque você… é a lembrança do que me resta de humano — confessei, cada palavra saindo como um lamento. — E isso é o tipo de fraqueza que o mundo não perdoa.
Ela se afastou mais um passo, e a lamparina vacilou na mão trêmula.
— O que você é, Lucien?
Ah, se ela soubesse o quanto desejei que essa pergunta nunca fosse feita.
— Um erro que o tempo se recusou a apagar — respondi, o olhar cravado no chão. — Um monstro.
Silêncio.
O tipo de silêncio que pesa mais que qualquer grito.
E então ela fez algo que me partiu em mil fragmentos — aproximou-se.
Devagar, com o mesmo cuidado de quem toca um espelho rachado.
— Se fosse só isso — disse ela, em voz suave — eu não estaria aqui.
Meu corpo inteiro estremeceu.
A distância entre nós se reduziu até que o calor da pele dela queimasse a frieza da minha. O coração dela batia forte, e o som era como música — a mais cruel e perfeita melodia já escrita.
— Lilith… — murmurei, tentando resistir. — Você não entende o que está fazendo.
— Então me explique — ela insistiu, os olhos marejados de confusão e coragem. — Explique por que eu sonho com você todas as noites. Por que sinto falta de algo que nem sei se vivi.
Meus lábios se abriram… mas a verdade era um abismo.
Um abismo onde, se ela caísse, nunca mais voltaria a ser a mesma.
— Porque nossas almas já se encontraram antes — admiti, enfim. — Em outras vidas. Em outras mortes. E em todas elas, eu te perdi.
Ela ofegou, e eu soube que era tarde demais para voltar atrás.
A ligação entre nós queimava, viva, antiga — tão antiga quanto a própria maldição que me condenava.
Aproximei-me mais uma vez, incapaz de resistir à atração que me destruía.
Mas dessa vez, não a toquei.
Apenas deixei o sussurro escapar:
— Se eu te contar tudo, você nunca mais será livre.
Lilith me olhou, e havia uma lágrima brilhando sob a luz trêmula da lamparina.
— Então me prenda, Lucien. Mas não me esconda a verdade.
E foi ali, entre o medo e o desejo, que percebi:
ela já era minha — não por magia, nem por promessa,
mas porque o destino, uma vez escrito em sangue, nunca se apaga.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Agnes
Adorei a ambientação desse romance, me senti viajando para um outro mundo.
2025-10-11
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