Capítulo 2 — O Sabor do Pecado

Narrado por Ele (Esse é o ponto de vista do personagem)

Ela surgiu diante de mim como uma promessa que o tempo havia esquecido de cumprir.

Lilith.

O nome que o vento sussurrava em meus sonhos havia séculos.

A primeira vez que a vi, caminhar entre as névoas do bosque, pensei que fosse um engano. Nenhum ser de luz deveria adentrar o território da noite. Mas então ela olhou para mim — e todo o meu controle, toda a minha eternidade construída sobre o sangue e a solidão, tremeu.

Havia algo naquela moça.

Algo que não era apenas doçura, nem apenas vida.

Era luz — e para mim, que vivi milênios na escuridão, a luz é o maior dos tormentos.

Quando ela pronunciou a pergunta, “Quem é você?”, quase ri.

Quem sou eu? Um fantasma preso à carne, um monstro condenado a desejar o que não pode possuir.

Mas ela me olhava sem medo.

E isso... foi o que mais me destruiu.

Aproximei-me.

Senti o cheiro de sua pele — o calor que subia do pescoço, o pulsar da artéria tão próximo de meus lábios.

O sangue dela chamava o meu nome.

Mas o que queimei por dentro não foi fome, foi vontade.

— Você não deveria estar aqui, doce Lilith — eu disse, tentando afastá-la com palavras que mentiam o que o corpo gritava.

Ela ficou.

E quando sua mão tocou a minha, percebi que a ruína havia começado.

Por um instante, o mundo inteiro silenciou.

A lua parecia observá-la como se também a desejasse.

O vento prendeu a respiração.

E eu… eu me lembrei do que era sentir.

Mas o amor, para criaturas como eu, é uma sentença.

E ela… ela ainda não estava pronta para o peso que o destino já lhe impusera.

Segurei-a firme, o suficiente para gravar o calor dela em minhas mãos frias. Vi o medo e a entrega se misturando em seus olhos — um reflexo perfeito da dualidade que me destrói desde o primeiro nascer do sol.

Ela seria minha.

De um modo ou de outro.

Mas não agora. Ainda não.

Toquei sua têmpora com a ponta dos dedos, deixando um fio de minha essência percorrer sua mente.

Ela piscou, confusa, e murmurou algo que soou como meu nome — um nome que ela jamais deveria conhecer.

— Esqueça-me, pequena luz — sussurrei. — Sonhe apenas com o vento e o luar.

O feitiço desceu suave como um beijo.

Vi seus olhos se apagarem, o corpo relaxar, e a alma se recolher de volta à inocência.

Quando a deixei deitada entre as flores, o mundo pareceu zombar de mim.

O gosto do sangue dela ainda ardia em meus lábios — não porque eu o bebi, mas porque desejei fazê-lo mais do que qualquer coisa.

Ela voltaria para o campo, para os dias dourados e simples.

E eu voltaria para o castelo, para minhas sombras e maldições.

Mas no fundo, eu sabia.

O laço já estava feito.

Lilith podia esquecer o que viu…

Mas eu jamais esqueceria o som do coração dela chamando por mim.

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