A Vontade de um Coração Inquebrável
A noite estava fria, mas dentro da mansão dos Vasconcellos, o ambiente exalava sofisticação e calor humano. As luzes suaves dos lustres de cristal pendiam dos altos tetos, lançando reflexos dourados sobre os rostos bem arrumados que preenchiam o salão principal. Músicos discretos tocavam uma peça clássica ao fundo, e os garçons transitavam silenciosamente entre os convidados, oferecendo taças de espumante francês.
Isadora cruzou o imenso salão com passos calmos, mas decididos. Seu vestido preto longo abraçava o corpo com elegância, a fenda lateral revelando discretamente uma perna bem torneada a cada movimento. Os cabelos ruivos caiam soltos, como uma chama viva contrastando com sua pele clara e os olhos azuis intensos que observavam tudo ao redor com atenção. Ela sabia que atraía olhares, mas nunca foi o tipo de mulher que precisava de aprovação — sua presença falava por si.
Naquela noite, ela estava ali por um motivo claro: não para socializar ou impressionar, mas para assumir seu lugar em um novo jogo. Após anos longe dos círculos mais fechados da elite, Isadora retornava à sociedade como herdeira e executiva do império deixado por seu pai — um império que muitos pensavam que ela jamais teria coragem de assumir.
— A rainha voltou ao tabuleiro — murmurou um dos convidados a um colega, sem perceber que Isadora os ouvira.
Ela ergueu uma sobrancelha, contendo um sorriso. "Rainha? Talvez. Mas ainda estou posicionando minhas peças."
Entre os rostos conhecidos e desconhecidos, havia um que ela não esperava ver naquela noite — ou talvez esperasse, mas fingia que não. Gael Monteiro. Alto, vestindo um smoking perfeitamente alinhado, barba por fazer e um olhar que parecia atravessar qualquer máscara social. Estava encostado discretamente próximo ao bar, observando as interações como um espectador cético.
Isadora o reconheceu de imediato. O passado entre eles não era trivial. Eram como dois lados de uma moeda: semelhantes na ambição, mas separados por escolhas e circunstâncias. Havia tensão, havia histórias não contadas — e havia uma química que nenhum dos dois soube explicar.
Ela caminhou até ele com a naturalidade de quem sabe que todos os olhos a seguem.
— Não esperava te ver aqui, Gael — disse, com um tom neutro, porém firme.
— E eu achei que você tivesse sumido do mapa de vez, Isadora — ele respondeu, sem sorrir, mas com um brilho nos olhos. — A cidade andava silenciosa demais sem você.
Ela inclinou a cabeça levemente, analisando-o.
— Voltei para fazer barulho, então. E você? Continua nos bastidores ou resolveu se tornar peça ativa?
— Depende do tabuleiro. E da jogadora.
O silêncio entre eles era carregado de tudo o que não haviam dito no passado. Ela sabia que ele era perigoso — não no sentido físico, mas emocional. Gael era intenso, imprevisível, e sempre parecia dois passos à frente de qualquer um. Ainda assim, ali estavam, testando fronteiras que haviam sido traçadas há anos.
— A festa está bonita — ela disse, quebrando o momento. — Mas, sinceramente, não vim para dançar.
— Então por que veio?
— Para lembrar a todos que ainda sei jogar. E que ninguém vai mover minhas peças por mim.
Ele riu baixo, um som rouco e breve.
— Ainda é a mesma, Isadora?
Ela sorriu de lado.
— Ou talvez só estou começando a mostrar quem sempre fui.
O restante da noite passou com lentidão. Ela cumprimentou aliados, observou possíveis inimigos, mediu intenções. Sabia que o poder não estava apenas nos contratos ou nos números, mas nas alianças silenciosas, nos sorrisos falsos, nas promessas não ditas. E ela estava disposta a se misturar a tudo isso para conquistar o que era seu.
Antes de ir embora, cruzou novamente com Gael.
— Vai embora tão cedo? — ele perguntou.
— Apenas cedo o suficiente para deixá-los curiosos.
— E eu?
— Você já me conhece. Curiosidade nunca foi suficiente pra mim.
Assim que deixou o salão principal, Isadora respirou fundo. O ar fresco da noite envolveu seus ombros como um manto invisível, trazendo alívio após horas em meio a sorrisos calculados e conversas veladas. Parou no alto da escadaria da mansão, observando os jardins perfeitamente podados e o vai-e-vem dos carros de luxo.
Sua mente ainda repassava cada detalhe do reencontro com Gael. Ele estava exatamente como lembrava — ousado, instigante, com aquele olhar que parecia decifrar segredos. Mas havia algo novo também. Uma sombra por trás do charme. Como se o tempo tivesse deixado marcas profundas nele… assim como havia deixado nela.
Ela apertou a bolsa contra o corpo, buscando dentro dela o celular. Precisava checar os relatórios da empresa — sua volta ao império dos Vasconcellos não se limitava a aparições em festas. Nos bastidores, ela já estava reestruturando contratos, identificando os aliados leais e eliminando os parasitas silenciosos que haviam se aproveitado da ausência dela.
Mas antes que pudesse digitar a senha, ouviu passos às suas costas. Não precisou se virar para saber quem era.
— Vai fugir de novo, Isadora?
A voz de Gael soou baixa, firme, e muito próxima.
Ela guardou o celular e se virou devagar, o encarando de frente.
— Se estivesse fugindo, você não estaria aqui.
Ele deu um passo a mais, agora tão perto que ela podia sentir a presença dele como uma onda quente.
— Achei que você tinha ido embora. Mas ainda está aqui. Por quê?
Ela ergueu o queixo, orgulhosa.
— Porque o jogo só começou. E eu não fujo de nada, Gael. Muito menos de você.
Houve um momento de silêncio, intenso e cortante. Os olhos dele percorreram o rosto dela, como se tentasse ler algo além da superfície.
— Você mudou — ele disse, enfim. — Está mais afiada. Mais segura.
— E você continua perigoso. Mas menos previsível.
Um leve sorriso apareceu nos lábios dele.
— Isso é ruim?
— É o tipo de perigo que atrai… e destrói — respondeu, séria.
Gael inclinou a cabeça, pensativo.
— E você? Vai se deixar destruir?
Isadora deu um passo em direção a ele, diminuindo o espaço entre os dois até que apenas a tensão os separava. Ela podia sentir a respiração dele, o calor, o desejo contido. Mas seus olhos azuis continuavam firmes, desafiadores.
— Ninguém me destrói, Gael. Nem você.
Foi ele quem desviou o olhar primeiro. Passou a mão pelos cabelos, claramente frustrado por não conseguir quebrar as defesas dela.
— Você sempre soube me deixar sem chão — murmurou.
— E você sempre soube como me tirar do eixo — ela respondeu, com sinceridade. — Mas desta vez, Gael, eu não vim para me perder em ninguém. Nem mesmo em você.
Ele assentiu, como quem compreendia… mas não desistia.
— Então vamos ver até onde você aguenta sem se deixar levar.
Ela não respondeu. Apenas sorriu de canto, virou-se novamente e desceu os degraus com elegância. Ao entrar em seu carro, lançou um último olhar pelo espelho retrovisor.
Gael ainda estava no topo da escadaria, observando-a partir. Com aquele olhar intenso, cheio de perguntas e intenções.
Isadora sabia que o reencontro com ele não havia sido acaso. E que sua presença mexeria com tudo que ela havia planejado. Mas ela não estava mais à mercê das emoções.
Agora, ela era a estrategista. E todo movimento seria calculado.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Vanildo Campos
🫣🫣🫣🫣🫣🫣🫣❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-21
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