O salão de mármore reluzente da mansão Castellani, naquela noite, estava menos iluminado do que de costume. As luzes mais suaves davam um tom intimista ao ambiente, como se a própria casa entendesse que algo estava em ebulição sob a superfície dos olhares educados e dos brindes falsamente calorosos.
Isadora caminhava com elegância entre os convidados, sua taça de espumante praticamente intocada. Vestia um novo vestido — azul-marinho com fenda lateral e decote discreto — que contornava suas curvas com precisão elegante. A presença dela, embora contida, atraía olhares e sussurros. Alguns dos nomes mais influentes da cidade estavam ali, e todos sabiam quem ela era agora: a mulher que conseguira dobrar Gael Castellani.
Ou ao menos era o que imaginavam.
Gael, por sua vez, observava tudo do alto da escada, sem pressa para descer. Estava impecável em seu smoking preto, os cabelos penteados de forma displicente e o olhar cravado em Isadora como se ela fosse uma questão ainda sem resposta. Desde o incidente na biblioteca — o beijo que não deveria ter acontecido — ele vinha se mantendo mais afastado, mas nunca distante o suficiente para não saber onde ela estava.
Ele não confiava em ninguém, nem nela. Mas havia algo em Isadora que o tirava do eixo, algo que não combinava com suas intenções declaradas.
Ao perceber o olhar dele, Isadora ergueu o queixo. Ela também não estava disposta a recuar. Na verdade, cada passo que dava naquela mansão era cuidadosamente calculado. O plano seguia em andamento, e ela precisava manter Gael interessado, mas também desconfiado. Era assim que se guiava a atenção dele: na tensão entre controle e mistério.
— Pensando em fugir novamente? — Gael surgiu ao seu lado, repentinamente, como uma sombra elegante.
— Depende — disse ela, com um meio sorriso. — Pretende me trancar em outro quarto se eu disser sim?
Ele riu, baixo.
— Não costumo repetir métodos, Isadora. Sou mais criativo do que isso.
Ela fingiu espantar um calafrio.
— Ainda bem. A repetição é entediante.
Eles estavam se testando, mais uma vez. Dançando num campo minado onde qualquer palavra poderia ser a explosão. Os convidados à volta seguiam em seus próprios jogos sociais, alheios à batalha silenciosa entre os dois.
— Quer sair daqui? — ele perguntou, subitamente. — Tenho um lugar melhor em mente.
Isadora arqueou uma sobrancelha. Sabia que aquilo fazia parte do jogo dele. Mas também era uma oportunidade para avançar o seu.
— Desde que eu não precise dirigir — ela respondeu, deslizando o braço pelo dele com naturalidade.
O carro preto de Gael cortou as ruas da cidade como um sussurro, e eles não trocaram uma palavra até que o veículo parou diante de uma construção antiga, de fachada clássica e portões de ferro retorcido.
— O que é isso? — Isadora perguntou, ao descer.
— Um lugar que gosto de visitar quando quero pensar. Pertenceu ao meu avô. Está fechado há anos. — Gael destrancou o portão e ela o seguiu, intrigada.
Lá dentro, o casarão tinha cheiro de história e abandono. Mas as janelas altas e os móveis cobertos por lençóis revelavam que, em algum momento, aquele lugar havia abrigado sonhos.
— Por que me trouxe aqui? — ela perguntou, parando diante de uma estante antiga.
— Porque você me intriga. — Gael encostou-se ao batente da porta. — Está sempre no controle. Sempre com respostas afiadas. Mas há algo por trás disso. Eu vejo nos seus olhos.
Ela se virou, encarando-o sem medo.
— E o que exatamente você vê?
Gael se aproximou devagar, os passos ecoando pelo chão de madeira. Parou diante dela, próximo o suficiente para que Isadora sentisse a tensão entre os dois crescer como eletricidade no ar.
— Alguém que está escondendo algo. — Sua voz saiu mais baixa. — E por alguma razão... isso me faz querer descobrir.
Isadora não recuou. Pelo contrário, ergueu o rosto, desafiadora.
— Cuidado, Gael. Nem todo mistério deve ser desvendado.
Mas ele não estava ouvindo mais com os ouvidos. Seu olhar descia pelos traços dela, absorvendo cada detalhe. Então, sem aviso, ele a puxou para si, os lábios colando-se aos dela com urgência contida, como se quisesse testá-la, senti-la, entendê-la com a boca.
Isadora não resistiu. Não naquele momento. Havia tensão demais acumulada entre os dois, desejo demais entrelaçado nos jogos de poder. Ela sabia que aquilo era um erro — um que poderia custar o controle da situação — mas também sabia que, para manter Gael envolvido, ela precisava dar a ele o gosto do que queria… sem nunca dar tudo.
Quando o beijo cessou, ambos estavam ofegantes.
— Isso não muda nada — ela disse, tentando se recompor.
— Não. Mas muda tudo. — Ele sorriu, e pela primeira vez, aquele sorriso parecia perigoso.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Vanildo Campos
🙏🙏🙏🙏🙏
2025-07-21
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