Bloodbound

Bloodbound

Capítulo 1 - O aroma que invocou sombras

A chuva caía fina sobre as ruas estreitas da cidade antiga. Entre becos úmidos e lanternas que balançavam ao vento, uma pequena loja de flores resistia à escuridão. “Hana no Yume” – dizia a placa desgastada. Dentro, entre aromas doces e cores vivas, estava Lisa, uma jovem de cabelos vermelhos como o fogo, mãos delicadas que conheciam a linguagem das pétalas.

Para ela, flores eram vida. Para os outros, apenas ornamentos. Mas naquela noite, algo mudou.

Quando o sino da porta tilintou, Lisa ergueu os olhos e sentiu o coração vacilar. A figura que entrou não parecia pertencer àquele mundo. Um homem alto, pele pálida quase luminosa, olhos vermelhos como rubis queimando em brasa. Um sorriso cortante dançou em seus lábios.

— Um ramo de lírios-negros, pediu ele, com voz grave e rouca, que soou mais como uma ordem do que um pedido.

Lisa hesitou. Nunca ouvira falar de lírios-negros. Flores assim não existiam. Mas, como que guiadas por algo além da razão, suas mãos tocaram um vaso esquecido no canto da loja. Nele, pétalas escuras tremulavam, como se respirassem.

— Como… isso está aqui? — murmurou, mais para si do que para ele.

O homem riu baixo. Um som que parecia ecoar nas paredes, como um sussurro de condenação.

— Porque você os chamou.

Seu olhar a queimou mais do que o fogo de qualquer vela. Foi então que percebeu: o ar estava mais denso, as sombras se alongavam atrás dele, como garras.

— Quem é você? — perguntou, a voz vacilando.

Ele inclinou o rosto, aproximando-se. Sua respiração roçou sua pele, fria como a noite.

— Eu sou aquele que ouve os desejos escondidos no aroma das flores.

Seus dedos tocaram levemente o caule escuro. No instante seguinte, os lírios pareciam pulsar, como se estivessem vivos.

— E você, Lisa… acabou de me invocar.

As luzes piscam, a porta se fecha sozinha. Do lado de fora, a chuva vira tempestade. Dentro, só restam as flores… e o demônio.

Lisa recuou um passo, mas suas costas encontraram a parede coberta por trepadeiras secas. O coração batia tão alto que parecia ecoar pelo pequeno espaço da loja.

— Invocar você? — a voz dela saiu baixa, como um sussurro trêmulo. — Eu… só vendo flores.

Ele avançou lentamente, cada passo acompanhado por um som quase inaudível, como correntes arrastando pelo chão. Quando parou diante dela, sua presença preencheu todo o ar. Lisa sentiu o perfume das flores mudar — um aroma adocicado que se misturava com algo metálico, como sangue.

— Vender flores? — Ele sorriu, expondo dentes afiados, belos e ameaçadores ao mesmo tempo. — Não, Lisa… você as desperta. Não percebe? Cada pétala que toca, cada arranjo que cria… é um feitiço.

O demônio inclinou a cabeça, fitando-a com olhos incandescentes. — Você tem poder. E eu… quero isso.

Antes que ela pudesse responder, as luzes da loja se apagaram. O único brilho vinha agora das pétalas negras no vaso, que pulsavam como corações. O vento lá fora rugia como uma criatura selvagem.

Lisa tentou correr, mas quando estendeu a mão para a porta, uma sombra líquida deslizou pelo chão, envolvendo seus tornozelos como correntes frias. Um grito escapou de seus lábios, mas ele apenas ergueu a mão e o som morreu, preso na garganta dela.

— Não lute, florista. — A voz dele era sedosa, venenosa. — Ouça-me… e eu posso te dar tudo o que deseja. Beleza eterna. Força. Dinheiro. Ou… — Seus olhos arderam como brasas quando ele se inclinou, tão perto que ela sentiu a pele arrepiar. — A imortalidade que até os deuses invejam.

Lisa tentou falar, mas só conseguiu soltar um sopro de ar, o corpo tremendo. O demônio roçou as costas dos dedos em sua bochecha, lentamente, como quem toca algo precioso.

— Mas há um preço, — continuou, sorrindo com crueldade. — Seu coração… ou sua alma. Talvez as duas coisas.

As sombras subiram até a cintura dela, e pela primeira vez Lisa viu o verdadeiro rosto dele: por baixo da ilusão humana, chifres negros se curvavam para trás, marcas carmesins queimavam na pele, e suas asas — imensas, sombrias — se abriram, preenchendo todo o espaço da loja.

No reflexo da vidraça, Lisa se viu cercada por escuridão e flores negras que agora cobriam todo o chão. Elas cresciam como serpentes, entrelaçando suas pernas. E, no fundo do peito, algo começou a pulsar junto com elas, como se uma parte de sua alma estivesse sendo arrancada.

O demônio sorriu, aproximando seus lábios do ouvido dela.

— Diga meu nome, Lisa… e o pacto estará selado.

A tempestade rugiu lá fora, como se a própria noite aguardasse sua resposta.

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