Capítulo 4 - Entre o sono e as Sombras

Lisa abriu os olhos com um sobressalto. O ar estava parado, denso, e por um instante ela não soube onde estava. Suas mãos tatearam o chão frio até tocar algo conhecido: madeira. A visão foi clareando devagar, e a primeira coisa que viu foram as flores — intactas. Coloridas. Perfeitas.

A loja estava como sempre. Nenhuma parede quebrada. Nenhum vidro no chão. Nenhuma sombra viva.

Lisa se ergueu devagar, o coração disparado, tentando entender.

— Não… não é possível.

Olhou em volta, esperando ver as marcas da destruição, o sangue, as cinzas das flores negras. Mas não havia nada. Apenas o aroma suave das flores e o tilintar distante da chuva lá fora.

Com as mãos trêmulas, tocou a própria pele — não havia queimaduras, nem sujeira, nem sangue. Estava exatamente como antes de tudo começar.

— Foi… um sonho? — murmurou, a voz quase inaudível.

Mas então sentiu algo. Um peso no peito. Um calor estranho, como se algo dormisse dentro dela. E na palma da mão, havia uma marca fina, quase invisível — um traço carmesim, como se tivesse segurado fogo.

Lisa engoliu em seco.

— Não… isso não foi um sonho.

O som do sino da porta a fez sobressaltar. Ela girou depressa — mas não era Kael. Nem Darius. Era apenas uma cliente sorridente, perguntando por um buquê.

Lisa piscou várias vezes, tentando forçar um sorriso enquanto sua mente gritava.

— Tudo voltou ao normal. Tudo… menos eu.

Quando a cliente saiu, Lisa fechou a porta e se apoiou contra ela, respirando fundo. Olhou para o balcão — e lá estava. Um vaso pequeno, que ela jurava não ter visto antes. Dentro, um único lírio negro, perfeito, com pétalas que pareciam feitas de veludo escuro.

O coração dela disparou. Aproximou-se com passos lentos, quase sem ar. E então percebeu algo preso à base do vaso: um pedaço de papel dobrado, manchado com um traço carmesim.

Com as mãos trêmulas, abriu a mensagem.

As palavras estavam escritas em tinta vermelha:

“O sonho acabou, flor. Mas nós ainda estamos ligados.

— K.”

O papel caiu das mãos dela. Lisa sentiu as pernas fraquejarem, as batidas do coração ecoando como um tambor. O reflexo no vidro da vitrine a fez estremecer — por um segundo, jurou ter visto algo atrás dela. Um vulto com asas. Um sorriso na escuridão.

Ela fechou os olhos com força, mas sabia.

Kael não era um pesadelo. Ele estava em algum lugar… e esperava por ela.

O caminho para casa pareceu mais longo que nunca. Lisa caminhava sob a garoa fina, os passos lentos, a mente girando como um redemoinho. Cada vez que piscava, via flashes da noite anterior: chamas negras, asas cortando o ar, o toque gelado de Kael, a lâmina de Darius.

— Foi real. Eu sei que foi. — murmurou para si mesma, segurando a bolsa com força.

Mas quando abriu a porta de seu pequeno apartamento, tudo estava… normal. As paredes com fotos antigas, o cheiro de café no ar, as luzes amareladas. Jogou as chaves sobre a mesa e afundou no sofá, tentando respirar fundo.

Se fosse um sonho, por que ainda sentia o calor no peito? Por que aquela marca carmesim ainda queimava na palma da mão?

E o lírio negro… e a carta.

Lisa fechou os olhos, o corpo implorando por descanso.

— Só… algumas horas de sono. Depois eu penso nisso.

O despertador tocou como um grito distante. Quando abriu os olhos, a luz suave da manhã invadia o quarto. Por um segundo, quase acreditou que tudo tinha voltado ao normal.

Levantou-se, vestiu-se mecanicamente e pegou os livros. Era dia de aula. Talvez a rotina ajudasse a esquecer. Talvez a normalidade pudesse apagar a sensação sufocante de estar sendo observada.

Mas, no fundo, Lisa sabia que algo estava errado.

O campus estava cheio como sempre. Risadas, vozes, barulho de passos no concreto. Lisa caminhou até o prédio da faculdade tentando se misturar à multidão, os fones nos ouvidos abafando o burburinho.

Quando entrou na sala, escolheu um lugar ao fundo. Queria se perder entre os outros, ser invisível. Mas então… sentiu.

Um arrepio percorreu sua espinha. Aquela sensação de ser observada.

Virou a cabeça — e o coração parou.

Ali, encostado casualmente na parede ao lado da porta, estava Darius. Mesma presença intensa, cabelos negros caindo sobre os olhos, a cicatriz riscando-lhe o rosto como uma assinatura cruel. Mas algo estava errado. Ele vestia roupas simples, nada de armas, nada de sobretudo. Apenas uma jaqueta escura e jeans, como qualquer outro estudante.

Lisa se levantou, quase derrubando a cadeira.

— Darius?! — a voz dela saiu mais alta do que deveria.

Alguns colegas olharam, confusos. Darius, no entanto, permaneceu imóvel… e então sorriu. Um sorriso educado.

— Desculpa… te conheço?

O mundo dela vacilou.

— Para com isso. — Ela deu um passo à frente, o coração disparado. — Depois de tudo ontem… você não vai fingir que…

Ele a interrompeu, a voz calma, fria:

— Acho que você está me confundindo com outra pessoa. — E então, para os outros ouvirem, completou com um tom casual: — Primeira vez que te vejo.

Lisa ficou sem ar. Ele passou por ela, indo até a fileira da frente, sentando-se como se nada tivesse acontecido. Pegou um caderno, abriu calmamente.

Ela voltou a sentar-se, as mãos tremendo. As palavras de Kael ecoaram em sua mente:

“Ele mente para você, flor. Sempre mentiu.”

Lisa fechou os olhos, tentando não gritar. Por que ele estava fingindo? Por que estava aqui, no mesmo campus que ela?

E, mais importante…

Se Darius estava jogando esse jogo, onde Kael estava agora?

No canto da sala, refletido na janela, Lisa jurou ver algo por um segundo: um vulto negro com olhos vermelhos. Um sorriso na sombra.

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