Capítulo 5 - Entre a mentira e o silêncio

Capitólio 5 - Entre a mentira e o silêncio

A aula parecia durar séculos. Cada palavra do professor era apenas um ruído distante para Lisa, enquanto seus olhos queimavam na direção dele. Darius.

Sentado como se nada tivesse acontecido. Anotando calmamente no caderno. Fingindo ser apenas mais um estudante.

Quando a aula terminou, Lisa se levantou antes mesmo que os outros saíssem. Caminhou até a porta, o coração martelando, e esperou. Assim que ele passou por ela, agarrou-lhe o braço com força.

— Precisamos conversar. Agora.

Ele olhou para baixo, para a mão dela segurando-o, e então ergueu os olhos. Por um segundo, ela viu algo — culpa? — mas desapareceu rápido demais.

— Moça… eu acho que você realmente está me confundindo. — O tom dele era calmo, mas seus olhos… frios como aço.

Lisa apertou mais forte, a raiva queimando.

— Para com isso, Darius! Para com esse teatro ridículo! — O nome saiu como um veneno entre os dentes. — Depois de tudo que aconteceu, depois de você me mandar correr… de você me proteger… vai fingir que nunca me viu?!

Alguns alunos ainda estavam no corredor. Ele respirou fundo, inclinou-se um pouco para ela e sussurrou:

— Solta meu braço. Agora.

A voz era baixa, mas carregada de algo que fez a espinha dela gelar. Lisa soltou, mas não recuou.

— Me diz por que está fazendo isso. — Sua voz tremeu. — É por causa dele? Por causa do Kael? Você… você está com medo?

O maxilar de Darius se contraiu, mas seu rosto permaneceu impassível.

— Não sei quem é você. — As palavras saíram como lâminas. E então ele se virou, caminhando para longe.

Lisa o seguiu pelos corredores, ignorando os olhares curiosos.

— Mentiroso! — gritou, e a palavra ecoou, fazendo Darius parar por um instante, os ombros tensos. — Ontem à noite você lutou por mim! Arriscou a vida por mim! Por quê, Darius?!

Ele fechou os olhos por um segundo. Aquela voz… aquela raiva. Tudo nele queria virar e explicar. Queria segurar os ombros dela e dizer a verdade — que cada mentira era uma barreira para mantê-la viva, longe de Kael, longe do inferno que o seguia.

Mas se falasse… ela estaria marcada para sempre.

Então ele abriu os olhos, respirou fundo, e sem olhar para trás, disse com a voz mais fria que conseguiu:

— Eu não sou quem você pensa. E se tiver algum bom senso… vai parar de me seguir.

Lisa ficou parada no corredor vazio, sentindo o coração se partir em silêncio. As mãos tremiam, as unhas cravadas nas palmas. Lágrimas ardiam nos olhos, mas não caíam. Não queria chorar por ele. Não por um covarde que estava fugindo dela.

Mas quando ela se virou para sair… não percebeu a sombra no final do corredor. Um vulto escuro, imóvel, com olhos vermelhos brilhando na penumbra.

Kael estava ali. Observando. Esperando.

E um sorriso lento, perigoso, surgiu em seus lábios.

A chuva caía fina sobre o telhado de zinco do prédio abandonado. No alto, onde as sombras se misturavam com o vento frio da noite, Darius se ajoelhou diante de uma velha caixa metálica. Com mãos trêmulas, abriu o cadeado e retirou um frasco de vidro cheio de líquido escuro, que parecia pulsar como sangue vivo.

Ele respirou fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos. A cicatriz no rosto ardia como fogo — um lembrete da noite que mudou tudo.

— Eu te odeio, Kael… e me odeio ainda mais.

Tirou do bolso um pequeno pedaço de papel amassado. Não uma foto. Apenas uma pétala — um fragmento negro de um lírio queimado. Ele a segurou com cuidado, os dedos calejados tremendo.

Fechou os olhos, e as lembranças vieram como lâminas:

O fogo. O sangue. O grito da mulher que tentou salvar. O pacto que quebrou. A essência que roubou.

E os olhos de Kael quando percebeu.

— Eu não tinha escolha… — murmurou, a voz rouca, como se pedisse perdão a fantasmas.

A imagem de Lisa surgiu na mente. O rosto dela na floricultura, as mãos trêmulas brilhando com poder carmesim. O olhar de confusão e medo.

Ele socou o chão com força, fazendo o concreto rachar sob seus punhos.

— Eu devia ter ficado longe dela!

Mas não conseguiu. Quando a encontrou ontem, coberta pelas sombras de Kael, algo dentro dele gritou. Algo que não era só dever… era culpa.

E outra coisa. Algo que ele não ousava nomear.

Darius pegou a espada, a lâmina marcada pelas runas que queimavam fraco. Passou o polegar sobre as inscrições, sentindo a dor perfurar a pele.

— Se Kael chegar perto dela de novo… eu o mato. Nem que eu queime junto.

A chuva lavava seu rosto, misturando-se ao sangue que escorria da mão cortada. Ele ergueu os olhos para o céu nublado, deixando a tempestade cair sobre si, como se pudesse limpar um pecado que nunca sairia.

Mas no fundo sabia a verdade: mentir para Lisa era a única maneira de mantê-la viva.

E ainda assim… cada vez que a olhava, essa mentira o destruía um pouco mais.

No silêncio, uma risada baixa ecoou no vento.

Darius se ergueu em alerta, girando a lâmina — mas não havia ninguém ali.

Somente a voz de Kael, sussurrando na escuridão:

— Você pode mentir para ela, caçador… mas o coração dela já está me ouvindo.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!