"Khar’Eth Sulum"-A União Proibida Parte 2
O vento soprava como se carregasse segredos antigos pelas frestas da floresta. As folhas se retorciam em murmúrios inaudíveis, e o ar estava impregnado de uma estranha eletricidade. Algo havia mudado desde o pacto refeito. Não apenas entre Rayhna e Lucien, mas no mundo ao redor deles. Havia olhos em todos os lugares. Alguns visíveis. Outros, invisíveis demais para que a mente humana os compreendesse.
Rayhna sentia a pressão das presenças mesmo quando o quarto estava vazio. Seu corpo, marcado por símbolos esquecidos, vibrava com uma frequência que não pertencia àquele tempo. Ela acordava com os olhos vermelhos-sangue, mesmo quando dormia em paz. Seus olhos caramelo, que antes surgiam nos momentos de calma, estavam cada vez mais raros. Como se a paz fosse uma lembrança longínqua. Como se ela mesma estivesse se tornando uma lembrança.
Lucien observava Rayhna com uma mistura de temor e fascínio. Ela não era mais a mulher que ele conhecera, mas também não era outra. Era algo entre os mundos. Algo que a profecia não ousava nomear. Ele sabia que havia passado do ponto de retorno quando aceitou o sangue dela outra vez. Mas também sabia que era tarde demais para fugir.
— Eles sabem, Rayhna — disse ele, com a voz rouca pela insônia. — Sabem que quebramos o círculo.
Ela permaneceu em silêncio por um momento, os olhos fixos em algo que Lucien não podia ver. Então ela falou:
— Sempre souberam. Apenas estavam esperando.
Naquela noite, eles partiram para o antigo templo em ruínas, guiados pelos símbolos que apenas Rayhna conseguia ler. As paredes do templo estavam cobertas de musgo, mas sob a camada verde ainda pulsavam marcas arcanas. Ao entrarem, Rayhna estremeceu. Não por medo, mas por reconhecimento.
— Foi aqui que começou tudo — ela sussurrou. — Muito antes de você. Antes de mim.
Lucien tocou uma das colunas partidas e sentiu um arrepio subir pela espinha. Havia algo ali. Algo que lembrava. Algo que dormia. Mas não por muito tempo.
No centro do templo, havia um pedestal. Sobre ele, uma pequena escultura com olhos entalhados em pedra branca. Não era um artefato comum. Era um sentinela. Um daqueles que observavam os portadores da linhagem proibida. Rayhna se aproximou devagar, sentindo os pelos do corpo eriçarem.
— Os olhos dela — murmurou. — A Deusa não esqueceu.
Lucien franziu o cenho.
— Aquilo é só pedra.
— Então pare de encarar, Lucien. Antes que ela encare de volta.
Houve um estalo. As velas que nunca haviam sido acesas se acenderam. Todas ao mesmo tempo. A chama era azul. Fria. Antiga. E naquele instante, Lucien soube que estavam sendo observados.
A voz de Nyx ecoou pelas paredes, mesmo sem que sua presença fosse visível.
— Vocês mexeram onde não deviam. A terceira linhagem vai sentir. E não vai ser misericordiosa.
Rayhna cerrou os punhos.
— Ela já sentiu.
— E você está pronta para o que vem? Porque não se trata mais de vocês dois. Se trata do que vocês criaram.
Lucien se enrijeceu. O segredo dos gêmeos era absoluto. Nem mesmo os ecos do templo podiam ouvir aquilo. Mas Nyx sabia. Claro que sabia. Ela sempre soube.
Rayhna passou a mão sobre o pedestal, ativando uma runa que brilhou em vermelho intenso. Um mapa se formou no chão. Nomes antigos. Linhagens extintas. Portais.
— Estão se reagrupando — disse ela. — Aqueles que ainda lembram. Aqueles que servem a ela.
Nyx surgiu das sombras, como se o templo tivesse a moldado.
— Então escondam bem as crianças. Porque o mundo não está pronto para o que nasce da fusão de duas maldições.
O templo estremeceu. A escultura dos olhos brancos brilhou, por um segundo, com luz prateada. Não era só observação. Era julgamento.
E a partir daquela noite, nenhum deles dormiu em paz novamente.
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Atualizado até capítulo 28
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